SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Donald Trump quer que possíveis rivais temam a imposição de taxas na importação, frigoríficos ganham com a alta do dólar e prosperam na bolsa brasileira e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (2).
**QUEM TEM MEDO DE TAXA?**
Desde que foi anunciado como o próximo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump fala sobre as taxas que deve aplicar a importações de países como a China.
Agora, a imposição se expande para todos os Brics. Trump ameaçou neste sábado (30) impor taxas de 100% em produtos importados do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, caso o bloco crie uma nova moeda ou apoie outra divisa que não seja o dólar.
Deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana, escreveu o presidente eleito na sua rede social, Truth Social.
Além dos países que compõem o nome do bloco, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos também são membros permanentes.
O Brasil tem a ver com isso? Sim, muito. Além de fazer parte dos Brics, a busca de alternativas ao dólar é uma pauta defendida pelo país.
Em outubro, Lula (PT) defendeu na cúpula da aliança que ela avance na criação de meios de pagamentos alternativos, fugindo da necessidade do uso do dólar.
É uma das prioridades do grupo nos próximos anos.
A partir de 2025 o Brasil assume a presidência do bloco. Uma das intenções do país é acelerar o andamento dessa proposta e fortalecer a atuação do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos Brics, presidido por Dilma Rousseff.
Eles podem procurar outro otário. Não há nenhuma chance dos Brics substituírem o dólar americano no comércio internacional, e qualquer país que tentar deve dizer adeus aos Estados Unidos, escreveu Trump.
PROVÁVEIS ALVOS
A imposição de taxas à importação de determinados países deve ser um pilar importante da política econômica do próximo governo americano.
Durante sua campanha e em declarações após a eleição, Donald Trump tem citado a aplicação do mecanismo para complicar o comércio com países considerados adversários da economia americana, como a China.
A ideia inicial impor taxas de 60% até 100% na compra de produtos chineses nos EUA. Para os outros países, uma taxa geral de 10%.
Mesmo países aliados dos Estados Unidos, como os da União Europeia, devem ter seus produtos taxados.
A UE parece tão adorável. Nós amamos a Escócia e a Alemanha, mas se olhamos para o passado, esses países nos trataram com violência, disse Trump em entrevista à Bloomberg Businessweek em 16 de julho.
COMANDO UNIDO
O secretário do Tesouro escolhido por Trump, Scott Bessent, está alinhado com a meta.
Isabela Nogueira, do LabChina, aponta que a aplicação de taxas não é o mecanismo mais sofisticado para desestimular o comércio com determinados países, mas é algo que o eleitorado entende facilmente e, em geral, de fácil aplicação.
A guerra comercial entre China e Estados Unidos deve ser um tópico quente pelos próximos quatro anos.
Segundo Nogueira, os governos Biden e Trump são alinhados nas intentonas de desafiar o avanço do comércio com a China. O que deve mudar de uma gestão para a outra são os métodos.
**SÓ O FILÉ**
Com o dólar quebrando recordes fechou custando R$ 6,05 na última sexta-feira (29), alguns setores da economia são prejudicados, e outros, beneficiados.
Quem saiu ganhando foram os frigoríficos. Nos últimos 12 meses, as ações ordinárias da JBS (JBSS3), da Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3) valorizaram em cerca de 58%, 93% e 79%, respectivamente.
ENTENDA
Como uma parte importante da mercadoria dos frigoríficos é exportada, muitas das negociações e dos contratos das empresas são firmados em moedas mais fortes que o real, como o dólar e o euro.
Elas recebem os pagamentos dos compradores nessas divisas. Simultaneamente, a maior parte das suas operações está no Brasil, portanto, gastam mais em reais.
Se conseguem vender em moedas fortes e gastar em reais, são beneficiadas quando nossa moeda está em desvantagem vendem produtos mais caros, compram insumos mais baratos.
Sabendo disso, os investidores vêem as ações dessas companhias como um lugar seguro para colocar seu dinheiro em um momento difícil do câmbio, uma vez que essas empresas estão melhor colocadas nesse cenário. Outras, como as varejistas, são muito suscetíveis à inflação e ao aumento da taxa de juros.
O preço da soja e de outros grãos caiu no último semestre, o que também ajudou essas companhias. A alimentação de frangos e suínos ficou mais barata.
LUCRANDO
A vantagem competitiva ajuda quem souber aproveitar o momento. Empresas brasileiras de venda de carne tiveram bons resultados no último trimestre, encerrado em setembro.
O lucro da JBS cresceu 571% em comparação com o mesmo período do ano passado.
A Marfrig registrou um lucro líquido de R$ 79,1 milhões, revertendo um prejuízo de R$ 112 milhões na mesma época em 2023.
A BRF também reverteu um prejuízo no último período. No terceiro trimestre deste ano, registrou lucro líquido de R$ 1,13 bilhão, contra um prejuízo líquido de R$ 262 milhões em 2023.
E O BOICOTE?
Na semana passada, o embate entre a rede Carrefour e o agronegócio brasileiro ocupou as notícias. Explicamos a situação em detalhes na edição da newsletter da terça-feira passada (26).
Em resumo, após declarações do presidente mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, anunciou que a rede não compraria mais carne de países do Mercosul para venda em suas lojas.
As declarações geraram revolta em produtores e figuras de destaque do agronegócio brasileiro, que por sua vez, iniciaram um boicote à venda não venderiam suas carnes à rede de supermercados francesa até que esta emitisse um pedido de desculpas oficial.
A retratação ocorreu no dia 26 de novembro, e o fornecimento foi normalizado.
Teve impacto para as empresas? Não muito, segundo especialistas. A UE (União Europeia) é um mercado pequeno para os fornecedores brasileiros de carne a França, menor ainda.
A exportação para a UE representa 3% das vendas dos frigoríficos brasileiros. A França respondeu por 0,02% dessas compras.
O principal mercado para a carne brasileira é a Ásia. China, Hong Kong e Estados Unidos estão entre os principais compradores.
**NOME DE BATISMO**
O iphone nasceu no Brasil. Não aquele iPhone, criado por Steve Jobs, que inaugurou a era dos smartphones. O celular da Gradiente de mesmo nome foi lançado no ano 2000, sete anos antes do americano. Desde que a Apple lançou o homônimo, ocorre uma batalha judicial entre as duas empresas pelo nome.
O presidente do conselho da Gradiente, Emílio Staub, falou pela primeira vez à imprensa sobre o assunto, em entrevista exclusiva à Folha de S.Paulo.
O PRIMEIRO
Em 2000, começou o lançamento de celulares que comportam o acesso à internet. Nesta esteira, veio o iphone da Gradiente, trazendo a promessa de modernidade.
Para provar seu ponto, o executivo mostrou reportagens da época, exibindo o modelo como precursor da internet.
Fazer reservas de passagens aéreas e hotéis, realizar transações bancárias e compras são apenas o começo dessa revolução, dizia um dos anúncios sobre o celular arquivados por Staub.
“Em 2000, quando introduzimos este telefone no mercado, vendemos 30 mil em poucos meses às operadoras e ao comércio”, afirmou.
BRIGA JUDICIAL
O conflito começou em 2012, mais de uma década depois do lançamento do iphone. Na época, a Gradiente resolveu relançar uma família de celulares inteligentes com o nome iphone.
A Apple reagiu ao lançamento, pedindo a nulidade do registro da marca Gradiente iphone no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual), feito em 2000.
No vaivém judicial, algumas decisões foram favoráveis à Apple e tentativas de conciliação não tiveram resolução.
Agora, o caso aguarda julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal).
Em outros países. Nos EUA, a Apple teve que brigar pelo nome iPhone com a Cisco. Na China, disputou o nome iPad com a Proview, e no México, o nome iFone.
Complexo de vira-lata. Staub revela-se frustrado quando pensam que a Gradiente copiou o nome da americana.
“A Gradiente era uma empresa pioneira em uma porção de coisas, inclusive, umas das pioneiras em telefone de acesso à internet. Por acaso, chamou de iphone”, disse.
“O país não reconhece muitas de suas inovações. Se eu perguntar aos meus netos quem são os grandes inventores do Brasil, talvez citem Santos Dumont. Mas não vão se lembrar do padre Landell de Moura, que inventou o rádio, recordou.
**BYD SOB SUSPEITA**
O (MPT) Ministério Público do Trabalho instaurou um inquérito para investigar as condições de trabalho dos operários nas fábricas da chinesa BYD (Build Your Dreams) na construção da futura fábrica da montadora em Camaçari, na Bahia.
Uma reportagem da Agência Pública revelou que funcionários chineses contratados por empresas terceirizadas trabalham 12 horas por dia, sem folga semanal e sem EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) nas obras.
DENÚNCIAS
Há relatos de agressões aos trabalhadores, chutados por superiores, ausência de água potável para os operários e alojamentos em condições inadequadas.
OUTRO LADO
Em resposta à imprensa, a BYD afirma que recebeu as denúncias com repúdio e afastou os responsáveis. Diz também que exigiu providências das empresas parceiras.
NO BRASIL
Há onze anos no país, a empresa ganhou notoriedade no Brasil nos últimos. A fabricante de veículos elétricos aumentou os investimentos na América Latina.
A empresa chinesa enfrenta tarifas impostas à tecnologia chinesa nos EUA e na Europa, onde não tem margem para competir com as locais. Encontrou no continente ao Sul melhores oportunidades.
O Brasil já é o maior mercado da BYD fora da China.
CONQUISTANDO TERRITÓRIO
A BYD comprou a antiga planta da Ford em Camaçari, vendida em 2021.
O complexo industrial será composto por três fábricas, com investimento previsto de R$ 5,5 bilhões e capacidade inicial de produção de 150 mil carros elétricos e híbridos por ano.
Aumentar a produção doméstica dos carros faz parte da estratégia da BYD para conquistar mais vendas na América do Sul assim, produzem produtos mais baratos e ganham vantagem competitiva.
A América Latina tem dois benefícios para a montadora: uma população grande e reservas de lítio, metal usado nas baterias dos carros elétricos.
No Brasil, a produção de lítio é pequena, mas há potencial. O país guarda uma reserva importante do metal, sobretudo no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais. Hoje, exporta cerca de 6 mil toneladas ao ano do material.
A TODO CUSTO
A necessidade da construção rápida das fábricas foi criticada, após a denúncia dos casos.
A denúncia anônima enviada ao MPT no dia 30 de setembro gerou a abertura de uma investigação. Uma inspeção nas obras foi realizada em 11 de novembro.
O órgão informou que está reunindo informações para a apresentação de uma proposta de ajuste de conduta ou uma ação judicial contra a montadora chinesa.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
OpenAI espera chegar a 1 bilhão de usuários no próximo ano. Empresa aposta em novos produtos de IA e parceria com Apple para alcançar marca.
BLACK FRIDAY
Reclamações na Black Friday batem recorde em 2024, diz Reclame Aqui. Queixas registradas pela plataforma superaram número observado em 2023.
CHINA
Como a China se prepara para competir também em aviões comerciais. Folha de S.Paulo visita universidade de Pequim voltada a sustentar o avanço da indústria aeronáutica e espacial no país.
Redação / Folhapress