BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – A reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD) em Belo Horizonte após segundo turno contra o deputado estadual bolsonarista Bruno Engler (PL) pode ter sido uma prévia do embate dos grupos políticos que disputarão as eleições ao Governo de Minas Gerais em 2026.
Além de ter reacendido as esperanças dos nomes de centro, a vitória de Fuad também confirmou o bom desempenho no estado do partido liderado nacionalmente por Gilberto Kassab. Com 142 prefeituras, o PSD quase dobrou o número de cidades mineiras administradas em relação ao pleito de 2020, quando conquistou 78 municípios.
O desempenho eleitoral credencia o partido para mais uma vez ter um candidato na eleição estadual em 2022, Alexandre Kalil (hoje sem partido) perdeu para Romeu Zema (Novo) ainda no primeiro turno.
Desta vez, surgem como principais nomes da sigla para a próxima disputa o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia).
A avaliação é a de que qualquer um dos dois seria apoiado pelos partidos de esquerda, cujo desempenho na eleição da capital mineira foi considerado decepcionante. A ideia seria replicar logo na largada a aliança que foi formada em torno da candidatura de Fuad no segundo turno na capital mineira.
Até 2026, porém, o PSD tem seus desafios internos para lidar. O partido convive localmente com dualidade semelhante à que existe a nível nacional, na qual ocupa cargos no governo Lula (PT) e, ao mesmo tempo, apoia políticos de oposição ao presidente.
Em Minas, a legenda faz parte da base de apoio de Zema na Assembleia Legislativa e manteve a posição mesmo após o governador ter apoiado rivais do candidato pessedista na eleição da capital mineira.
Para o presidente do PSD no estado, deputado estadual Cássio Soares (PSD), a solução passa pelo diálogo.
“Realmente nós temos um entrave que é o ministro Alexandre [Silveira], que atua em um campo, e um grupo de 15 deputados, entre estaduais e federais, que atuam como base do governo do estado. Até 2026 vamos dialogar para chegar a um entendimento”, disse.
O líder do PSD mineiro ainda descartou definir já um nome para a disputa de 2026 e disse que os dois cotados até agora são de perfis diferentes.
“O Rodrigo [Pacheco] tem uma forma mais discreta de se fazer política, o Alexandre uma forma mais aguerrida”, afirmou o deputado.
Ao ocupar a posição de presidente do Congresso, Pacheco evitou criticar diretamente o governador Zema, função que ficou a cargo de Silveira.
Pessoas próximas ao senador, porém, lembram do elogio de Lula a ele na última vez que o presidente esteve em Minas e de que Pacheco é o responsável pelo projeto que renegocia as dívidas dos estados superendividados.
A proposta, desenhada especialmente para solucionar a questão de Minas, um estado que acumula um passivo de cerca de R$ 165 bilhões junto à União, foi aprovada no Senado e aguarda votação na Câmara.
O patamar da dívida estadual deve seguir como um dos principais desafios do próximo governador. Neste ano, o governo Zema conseguiu, por meio de um acordo com o governo federal mediado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), começar o pagamento da dívida junto à União como se estivesse no RRF (Regime de Recuperação Fiscal), que garante melhores condições.
A adesão ao programa, porém, depende de aprovação na Assembleia Legislativa, onde a gestão estadual enfrenta resistência.
Se no PSD existe uma indefinição, Zema já definiu seu nome para a disputa do governo estadual. Será o do vice-governador, Mateus Simões (Novo).
“Tem sido meu braço direito, conhece a administração pública e não há outra pessoa tão preparada. Trabalharei muito para que ele seja eleito e dê continuidade à nossa gestão”, disse o governador no fim do mês passado.
Mateus é tido como mais hábil que seu padrinho na articulação política, e sua capacidade de diálogo é elogiada até por opositores.
Pesa contra ele, porém, a responsabilidade por ter articulado o apoio do governador a dois postulantes derrotados na eleição da capital mineira neste ano Mauro Tramonte (Republicanos) no primeiro turno e Engler no segundo.
O campo da direita em 2026 também deve ser disputado por um grupo que surgiu recentemente na política e que tem nas redes sociais seu principal ativo eleitoral.
Fazem parte desse núcleo o próprio Engler, deputado estadual mais votado da história de Minas, Nikolas Ferreira (PL), deputado federal mais votado do país, e Cleitinho Azevedo (Republicanos), que derrotou Alexandre Silveira na disputa ao Senado em 2022.
Os nomes dos dois últimos são citados para a disputa ao governo estadual em 2026, mas a tendência é que Nikolas concorra novamente à Câmara dos Deputados. Em entrevista no mês passado, o deputado disse não querer “queimar cartucho”.
“Suponhamos que eu pegue o Governo de Minas com Lula presidente. Eu não tenho dúvidas de que ele vai fazer do céu ao inferno para eu não conseguir governar. Para você governar de fato, você precisa ter recursos enviados para o estado”, disse ao jornal O Tempo.
No PL mineiro, a intenção também é que Nikolas, considerado um fenômeno de votos, candidate-se novamente à Câmara para ajudar a eleger uma bancada maior do partido no estado.
Já Cleitinho, que havia dito à Folha de S.Paulo em setembro ter “zero interesse” pelo cargo de governador, mudou seu discurso nas últimas semanas.
O Republicanos, seu partido, dobrou o número de municípios sob gestão no estado e se tornou a segunda legenda com mais prefeituras, com 83.
Em outubro, após participar de um comício em apoio a Engler ao lado de Nikolas, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros apoiadores, Cleitinho disse considerar a hipótese.
Neste mês, seu irmão gêmeo, Gleidson Azevedo (Novo), prefeito de Divinópolis, no centro-oeste mineiro, cravou que o senador “vai ser governador de Minas”.
RAIO-X | MINAS GERAIS
– População estimada (2024): 21.322.691
– Eleitores (2024): 16.428.909
– Área territorial: 586,5 mil km²
– PIB per capita (2021): R$ 40,1 mil
– Orçamento estadual (2024): R$ 123,5 bilhões
– Orçamento para investimentos (2024): R$ 8,1 bilhões
Governador
– Romeu Zema (Novo)
Senadores
– Rodrigo Pacheco (PSD) – 2019-2027
– Carlos Viana (Podemos) – 2019-2027
– Cleitinho Azevedo (Republicanos) – 2023-2031
Número de prefeituras por partidos eleitos em 2024
– PSD: 142
– Republicanos: 83
– PP: 74
– União Brasil: 69
– PL: 53
Votação por partido para prefeito em 2024 (1º turno)
– PSD: 1.731.109
– Republicanos: 625.061
– PP: 621.659
– União Brasil: 604.568
– PL: 518.910
Fontes: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e LOA (Lei Orçamentária Anual)
ARTUR BÚRIGO / Folhapress