SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O engenheiro Sérgio Oliveira da Cruz, 47, saiu mais cedo da Vila Maria, na zona norte de São Paulo, para buscar mulher e filha na Bela Vista, no centro, prevendo que poderia levar mais tempo que o normal, como tem acontecido nos últimos dias.
No meio do caminho, porém, um acidente entre dois carros na Ponte das Bandeiras piorou a situação, e o percurso normalmente feito em 30 minutos levou 1h10 na hora do almoço desta quinta-feira (12).
O congestionamento no trânsito paulistano disparou em dezembro. Segundo dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), até o dia 10, a média diária de lentidão foi de 509 km. É a maior para o mês desde 2019, ano anterior à pandemia de Covid-19, quando o indicador foi de 570 km/h.
Dos dez primeiros dias de dezembro, três deles tiveram lentidões acima de 1.000 km o recorde na capital, de 1.510 km, foi registrado em 9 de agosto.
O paulistano tem enfrentado trânsito até mesmo em horários incomuns para congestionamentos. Às 10h de 3 de dezembro, uma terça-feira, o engarrafamento chegou a 844 km. A chuva naquela manhã derrubou o fornecimento de energia na Grande São Paulo e apagou semáforos, complicando ainda mais a situação do motorista.
Sérgio Ejzenberg, engenheiro e mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), lembra que na primeira metade de dezembro as escolas ainda funcionam e as pessoas concentram atividades para terminar o que precisam antes de o ano acabar.
“Existem providências para festas de fim de ano e para férias que começam na segunda quinzena de dezembro”, afirma. “As pessoas ficam sobrecarregadas de atividades e o excesso de viagens por causa disso impacta no trânsito da cidade.”
Normalmente, diz a CET, os congestionamentos nos dias úteis até a véspera de Natal são maiores do que na média de todo o mês.
De acordo com o levantamento, em dezembro do ano passado o indicador apontou média diária de 427 km lentidão nos 24 primeiros dias de dezembro. Quando se computou todo o mês, a média caiu para 360 km diários.
Alexandre Jeremias, 42, costuma usar carro de aplicativo para ir para a região da avenida Paulista, onde trabalha com comércio exterior. Além de mais tempo parado no trânsito nos últimos dias, tem pagado mais para fazer o percurso.
“Gradualmente o preço tem aumentado, não sei dizer se pelo trânsito aumentado ou pela oferta e demanda desta época do ano”, afirma.
As operadoras de transportes por aplicativos 99 e Uber dizem que o preço é definido de acordo com a oferta e demanda de motoristas por região, distância percorrida e deslocamento. O valor final pode ser afetado por variantes como excesso de trânsito, chuva ou aumento de pedidos de carros.
“Principalmente no horário de pico está muito difícil”, diz Jeremias, que admite estar saindo mais cedo de casa e “perdendo tempo” por isso. “São Paulo é uma cidade que se importa mais em vender carro do que dar tranquilidade.”
A ortodontista Célia Maria de Almeida, 54, roda cerca de 4 km todos os dias para ir do centro à Casa Verde, na zona norte, e enfrentou trânsito até no fim de semana. “Acho que são as pessoas indo às compras”, diz.
No último sábado (7), o pico de lentidão chegou a 574 km às 12h30, horário em que geralmente o comércio começa a baixar as portas.
De acordo com Ejzenberg, usar transporte público com sacolas e pacotes de presentes de Natal nas mãos não é a melhor opção. “Esperar um tempão no ponto [de ônibus] carregando peso também não funciona”, diz.
Segundo o especialista em trânsito, a CET deve coibir estacionamento em locais proibidos e em fila dupla, e a carga e descarga irregular, principalmente em regiões comerciais, para tentar amenizar a situação.
“Para os condutores, o jeito é ter paciência com o congestionamento. Quem tiver flexibilidade de agenda, deve fazer compras e viagens fora de hora de pico”, afirma.
A CET afirma que além das ações cotidianas, realiza operações de trânsito específicas para o mês de dezembro, com foco na segurança e na fluidez viária.
Segundo a companhia, equipes atuam nas regiões de concentração do comércio, como a rua 25 de Março e o Brás.
“Os agentes de trânsito quando identificam a necessidade, podem realizar pequenas intervenções, como canalizações e desvios de tráfego, de acordo com o fluxo de pedestres e veículos”, diz, em nota.
Além da correria habitual de fim de ano, há outros eventos que vão mudar o comportamento do fluxo de veículos neste mês. No próximo domingo (15), por exemplo, por causa da segunda fase do vestibular da USP, o trânsito de veículos estará liberado na avenida Paulista e na Liberdade, com a suspensão do programa Ruas Abertas e da ativação da Ciclofaixa de Lazer.
Para tentar melhorar o acesso aos locais de prova, o elevado Presidente João Goulart (o Minhocão), no centro, ficará aberto aos carros das 7h até 14h no domingo.
Também haverá as operações de tráfego para a realização da corrida de São Silvestre e do Réveillon na avenida Paulista nos dias 31 de dezembro e 1º de janeiro.
TATIANA CAVALCANTI E FÁBIO PESCARINI / Folhapress