O apoio à democracia como melhor forma de governo segue amplamente majoritário no Brasil, com 69% dos entrevistados pelo Datafolha defendendo a posição. Nos últimos dois anos, contudo, esse índice vem caindo.
Em outubro de 2022, 79% diziam que a democracia era o melhor para o país, o maior índice da série histórica iniciada em 1989, ano da primeira eleição presidencial direta depois do fim da ditadura militar que governou o país de 1964 a 1985.
Naquele ano, 5% afirmavam que um regime ditatorial é aceitável sob certas circunstâncias, número que agora é de 8%, uma oscilação positiva dentro da margem de erro de dois pontos percentuais dos levantamentos. Já aqueles que se posicionam como indiferentes à forma de governo subiram de 11% para 17% –o topo na série foi em junho de 2000, com 29%.
Até aqui, o recorde de apoio à opção ditatorial havia ocorrido em setembro de 1992, em meio à turbulência do processo de impeachment que levaria à renúncia do eleito em 1989, Fernando Collor, abatido por acusações de corrupção.
Com a democracia ainda em teste, houve a associação entre o fracasso do governo com o de sua forma para essa expressiva fatia da sociedade. Aos poucos, o cenário foi mudando, com vaivéns ao longo dos anos.
Os níveis mais baixos nesse segmento e mais altos entre os que apoiam a democracia se estabilizaram durante os anos de Jair Bolsonaro (PL), um apologista de 1964 que está indiciado sob acusação de tentar um golpe para ficar no poder.
No cargo, ele relativizou alguns pilares democráticos e atacou outros, como o sistema eleitoral -pelo que foi julgado inelegível pela Justiça Eleitoral até 2030. A resposta da sociedade civil, sugerida pelas pesquisas e vista em manifestações diversas, foi o reforço na fé democrática que ora vê uma perda relativa de fôlego.
Não souberam dizer o que pensam nesta pesquisa, realizada nos dias 12 e 13 de dezembro com 2.002 eleitores em 113 municípios, 6% dos ouvidos.
Em termos de estratos da amostra populacional do Datafolha, homens apoiam mais a democracia (74%) do que mulheres (64%). Esposam essa posição mais pessoas com nível superior (87%) do que os menos instruídos (56%), assim como os mais ricos (80% entre quem ganha mais de cinco salários mínimos mensais) do que os mais pobres (61% daqueles que têm renda de até 2 mínimos).
Apesar da polarização vigente, não há diferenças estatisticamente relevantes na opinião sobre a democracia entre quem se declara bolsonarista e que se declara petista.
O Datafolha também quis saber se o brasileiro acredita na chance da volta da ditadura. Para 52%, não há essa possibilidade, enquanto 21% creem haver uma pequena margem para isso e 21%, uma grande possibilidade.
Os índices são similares ao do levantamento mais recente, de março deste ano. Novamente, os recortes socioeconômicos repetem em resultado as tendências apontadas na questão sobre a preferência de forma de governo.
Por outro lado, o levantamento mostra que uma grande maioria de 68% acredita que houve risco de golpe no momento que está sendo apurado pela PF, os meses entre a derrota de Bolsonaro para Lula (PT) no segundo turno de 2022 e a posse do petista para o terceiro mandato.
Para 43%, o risco foi grande, enquanto 17% viram um perigo médio e 8%, pequeno. Já 25% não acreditam que tenha havido a possibilidade e 7%, não souberam responder.
IGOR GIELOW / Folhapress