SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Departamento de Defesa dos Estados Unidos anunciou nesta quarta-feira (18) a repatriação de dois detentos da prisão de Guantánamo para a Malásia, onde o governo diz que os espera com um programa de reintegração.
A rara transferência, que reduz o número de detentos na base localizada em Cuba para 27 homens, ocorre um dia após o Pentágono libertar outro prisioneiro para a custódia do Quênia.
Os prisioneiros soltos nesta quarta, Mohammed Nazir Bin Lep, 47, e Mohammed Farik Bin Amin, 49, estavam sob poder dos EUA desde 2003. A devolução aconteceu por meio de um acordo diplomático alcançado após eles se declararem culpados por crimes de guerra.
Em junho, eles receberam sentenças de confinamento de aproximadamente cinco anos. Na ocasião, foi recomendado que os prisioneiros fossem repatriados ou transferidos para um terceiro país para cumprir o restante das penas, disse o departamento.
Antes de partirem, os homens deram depoimentos que os promotores esperam que sejam úteis em eventual julgamento de Encep Nurjaman, prisioneiro indonésio conhecido como Hambali. Ele é acusado de liderar o movimento Jemaah Islamiyah e coordenar um atentado em Bali que matou mais de 200 pessoas em 2002. Logo após o ataque, os homens libertados nesta quarta admitiram ter ajudado Hambali a escapar de uma captura.
Após serem capturados na Tailândia, os três foram mantidos por anos na rede de prisões secretas da CIA que usava tortura em seus interrogatórios. Eles foram transferidos para a prisão militar em Cuba em 2006, mas o Exército não os acusou formalmente no tribunal de guerra até 2021.
Brian Bouffard, advogado que representou Bin Lep em Guantánamo, disse que seu cliente quer viver uma vida tranquila com sua família. “Ele foi punido muitas vezes por seu envolvimento no passado com as pessoas erradas, e esperamos que um dia seus torturadores e seus cúmplices possam enfrentar a responsabilidade pelo mal que fizeram”, afirmou.
Já Christine Funk, advogada de Bin Amin, disse que seu cliente “aguarda com expectativa a oportunidade de continuar vivendo uma vida com propósito, cuidando de seus pais e buscando uma carreira que reflita melhor suas habilidades e talentos”.
O Ministro do Interior da Malásia, Saifuddin Nasution, disse que eles participarão de uma iniciativa personalizada. “O governo planejou um programa abrangente de reintegração especificamente para ambos os indivíduos, que inclui serviços de apoio, assistência social e exames de saúde”, afirmou.
Além de Hambali, outros cinco prisioneiros estão em pré-julgamento em Guantánamo pelos ataques de 11 de setembro de 2001 e pelo atentado ao USS Cole, em 12 de outubro de 2000. Além disso, um prisioneiro iraquiano que se declarou culpado está cumprindo uma sentença que termina em 2032.
Outros cinco prisioneiros são efetivamente mantidos como “detentos indefinidos” na guerra contra o terrorismo, dos quais três nunca foram acusados, mas foram considerados muito perigosos para serem libertados.
Os outros dois são Ramzi Binalshibh, que no ano passado foi considerado mentalmente incapaz de enfrentar julgamento no caso da conspiração de 11 de setembro, e Ali Hamza al-Bahlul, que cumpre uma sentença de prisão perpétua por conspirar para cometer crimes de guerra como assessor de imprensa de Osama bin Laden.
Redação / Folhapress