RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Após 18 minutos de críticas à atuação do governo Lula na segurança pública e à suposta leniência da legislação criminal, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), defendeu as agendas de campanha que fez ao lado da vereadora Fernanda Costa (MDB), condenada sob acusação de ligação com a organização criminosa do pai, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
Castro esteve em caminhada com Fernanda em Duque de Caxias em 2022, quando o governador tentava a reeleição. Ele também dividiu palanque com a vereadora reeleita este ano na cidade Baixada Fluminense, em ato de campanha do prefeito eleito Netinho Reis (MDB), de quem ela integrava a coligação.
“Ela não é do meu grupo. Toda vez que encontrei com ela foram em eventos na cidade dela que eu fui convidado e ela estava no palco. Tem uma questão da democracia. A vontade popular botou ela lá. Eu não vou ser mal-educado. E, se ela tivesse qualquer coisa em aberto aqui, ela teria sido presa. Eu não posso, em momento algum, fazer uma falta de educação, ser deselegante, e dizer que não vou subir no palco com aquela pessoa ali”, disse Castro.
Fernanda tem ligação estreita com o secretário estadual Washington Reis (MDB), que chegou a ser registrado como vice na chapa de Castro na eleição de 2022 mas impedido de disputar em razão da Lei da Ficha Limpa.
A vereadora foi condenada em abril de 2023, em primeira instância, pela Justiça Federal de Rondônia sob acusação de atuar como “braço social e político” do pai. Ela recorre da decisão.
A Justiça Eleitoral no Rio de Janeiro deferiu o registro de candidatura dela à reeleição contrariando o entendimento recente da magistratura fluminense de analisar a vida pregressa do político. As decisões têm como objetivo impedir o envolvimento de pessoas ligadas a organizações criminosas nas eleições. A Folha de S.Paulo não conseguiu contato com a defesa de Fernanda até a publicação deste texto.
Fernandinho Beira-Mar é apontado como um dos principais líderes do Comando Vermelho, tendo construído uma rede internacional de tráfico de drogas e armas. Já foi condenado a mais de 300 anos de cadeia.
A fala de Castro ocorreu durante balanço de fim de ano feito pelo governador a jornalistas no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador. A defesa dos atos de campanha foi feita após um longo e duro discurso sobre as dificuldades em combater o crime no Rio de Janeiro.
“Quem dá elegibilidade é a Justiça. A Justiça diplomou. A Justiça deu posse. Se ela não tem mandado em aberto, não há contradição alguma. Se ela fizesse parte do meu grupo, estivesse aqui, eu até entenderia. Mas eu não tenho nada na Prefeitura de Duque de Caxias. Minha relação é institucional. Não tenho cargo lá. Minha relação é com o povo de Caxias, com a prefeitura para ajudar na saúde, na educação, na infraestrutura.”
Antes de ser questionado sobre a vereadora, Castro fez críticas à atuação do governo federal na área da segurança pública, à legislação criminal, a decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) e às regras do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) sobre audiência de custódia.
“A gente está prendendo o mesmo cara 15, 20, 30 vezes. Quando ele entra na viatura, ele já fala assim para o policial: ‘Pô tio, me libera aí, amanhã eu tô de volta aqui mesmo’. É assim. É uma vergonha o que está acontecendo. E é impossível fazer segurança pública”, disse ele.
O governador criticou as determinações do STF no âmbito da ADPF 635, a chamada ADPF das Favelas, que obriga a comunicação antecipada sobre realização de operações policiais a órgãos púbicos.
“O efeito colateral da ADPF é que o Rio virou uma espécie de universidade do crime. O governador [de Goiás, Ronaldo] Caiado monitora 60 criminosos de Goiás que estão aqui. O governador do Pará mais 70, o outro mais 50. Só esse ano já foram 175 presos de outros estados”, afirmou.
Ele também criticou a atuação do governo federal nas fronteiras, portos e aeroportos, bem como a proposta da PEC da Segurança Pública, na qual amplia a atuação da PF em crime atualmente investigados pelas Polícias Civis.
“Uma leniência do governo federal, sobretudo da diplomacia brasileira, está preocupado com um monte de coisa, mas deixa a arma e a droga à vontade pelas nossas fronteiras. O Rio, esse ano, aprendeu mais de 600 fuzis, 90% deles foram fabricados nos Estados Unidos e entraram pelo Paraguai. Se tem recorde de apreensão, é porque tem recorde de entrada pelos aeroportos. E vem o governo federal querendo fazer PEC para Polícia Federal poder investigar as mesmas coisas que a Polícia Civil já está investigando. A gente não precisa de mais uma polícia aqui. A gente precisa que cada um faça o seu trabalho.”
Castro também disse que sua política de segurança é a realização de investimentos em tecnologia, contratação de pessoal e melhoria das condições de trabalho de policiais. Ele criticou adversários políticos e especialistas que afirmam não ver uma orientação clara do governo no setor.
“Aí falam muito: ‘Qual é a política de segurança pública?’ São coisas assim, românticas que se acha, que tem um pergaminho perdido, escrito a política da segurança pública. Essa é uma ideia, assim, romântica, antiga, que você tem um plano preso na pedra, batido, escrito em lápides”, disse ele.
“O plano de segurança é investir, gente. É para botar a segurança na rua. O plano de segurança é o policial ter um salário digno. Ter um número de policiais e infraestrutura correta, na rua, no lugar certo, investigação. Essa é a política de segurança pública. O resto é romantismo.”
ITALO NOGUEIRA / Folhapress