Uma família de Viradouro espera, há nove meses, pelo resultado de um exame de DNA para enterrar o pai. O suposto corpo do homem foi encontrado em 3 de setembro de 2019 e o material genético foi enviado para perícia em 11 de setembro do ano passado, mas a família foi avisada do resultado – inconclusivo – apenas no início de junho. Um novo exame deverá ser feito para tentar comprovar a identidade do homem.
A suposta vítima é o empresário Carlos Alberto Maria Tavares, que foi visto pela última vez no dia 25 de agosto de 2019. A família comunicou à polícia o desaparecimento, que localizou, dois dias depois, a caminhonete que ele dirigia no dia do desaparecimento estacionada na garagem. O laudo pericial indicou a presença de sangue humano no veículo.
O corpo do empresário foi encontrado dez dias depois do desaparecimento, na divisa entre Ribeirão Preto e o distrito de Cruz das Posses em Sertãozinho, e depois enviado ao Instituto Médico Legal de Ribeirão Preto, onde permanece, em uma gaveta, desde que foi encontrado, à espera de identificação.
De acordo com João Eduardo Tavares, 28, filho da vítima, a família está com a vida parada à espera da identificação. “Nossa vida está em compasso de espera. Além da dor emocional, não conseguimos resolver os detalhes burocráticos das empresas, já que ele não está oficialmente morto”, disse.
O delegado Emerson Ababe, responsável pelas investigações, afirma que o inquérito “tem caminhado, até com rapidez”. “Mas tivemos um problema com a identificação. O material genético colhido, que foi do irmão da vítima, não tinha qualidade suficiente para permitir a identificação. Agora, iremos ter que refazer o teste, com outro parente, no caso o filho”, disse.
Instituto de Criminalística
Apesar da alegada rapidez do inquérito, o Instituto de Criminalística de São Paulo, órgão da Polícia Científica responsável pelo exame, informou que o caso “deu entrada no laboratório de DNA em 11 de setembro, sendo o laudo expedido em dez de janeiro de 2020”.
Isso significa que o resultado está disponível desde o início do ano, mas a polícia afirma ter ficado sabendo disso apenas neste mês de junho.
Questionada sobre os motivos de a família não ter sido informada do resultado – essa informação foi concedida aos familiares apenas em 2 de junho, depois que a esta matéria já estava sendo elaborada – a Polícia Científica paulista informou que “o laudo é disponibilizado apenas e tão somente para a autoridade solicitante, neste caso, o delegado de polícia”.
A família poderia ter acesso a uma cópia do laudo, mas não foi avisada, pelas autoridades, de que ele estava concluído.
João Eduardo relata que procurou tanto o delegado responsável pelo caso quanto o IML, mas não foi informado sobre o andamento do processo. “A gente não sabe se é ele, e, se não for, onde esse corpo está, ou se está vivo”, conta.
O Caso
O jovem conta morava em Ribeirão Preto na época do crime e que Tavares levou a esposa, mãe de João Eduardo, em 23 de agosto a Ribeirão, na casa do filho. Ele deixou a mulher e voltou no mesmo dia para Viradouro.
Na cidade, chegou a ser visto, no mesmo dia 25, abastecendo sua caminhonete em um posto da cidade. As imagens foram registradas pelo circuito de segurança. “Ele parou em um posto e encheu o tanque e foi para casa”, conta o filho, que afirmou, ainda, que uma pessoa visitou seu pai logo depois que ele chegou em casa. “Não sabemos quem é, mas ele recebeu uma pessoa em casa”, disse.
O que aconteceu depois é um mistério até mesmo para a polícia. O filho acredito que Tavares tenha deixado a casa e ido até um local acompanhado da pessoa que viria a matá-lo. Depois, sem vida, teria sido transportado até o local onde o corpo foi encontrado. Na sequência, os criminosos levaram o carro de volta para a garagem da casa da família.
“A caminhonete estava na garagem de casa e tem marcas de sangue humano, na caçamba e na parte dianteira, e amassados que condizem com um possível atropelamento”, disse o delegado. Já o filho ressalta que o veículo foi lavado depois do crime. “Encontraram vestígios, mas a caminhonete foi levada”, conta.
O corpo
Iniciadas as buscas, o corpo foi encontrado em 3 de setembro em Ribeirão Preto. Segundo a polícia, era de um homem que teve traumatismo craniano, o que bate com a suspeita da polícia no caso de Tavares. “Mas, sem o exame, não podemos ter certeza de nada”, disse Abade.
Segundo João Eduardo, a caminhonete, que foi encontrada na garagem da casa da família, percorreu exatos 180 quilômetros depois do abastecimento no posto. “Pelo computador de bordo, chegamos a esse número. E essa distância é exatamente o suficiente para ir do posto até nossa casa, e depois fazer o caminho de ida e volta até onde o corpo foi localizado”, explica.
Próximos passos
O exame de DNA foi feito comparando o sangue da vítima com o de um irmão, também morador em Viradouro. Não foi possível, pelo teste, verificar a identidade. O exame de arcada dentária também não foi capaz de identificar a identidade da vítima devido ao estado de deterioração do corpo. Agora, a polícia tentará testar o sangue do filho para obter um resultado diferente. “Pode ser que saia positivo, ou negativo, ou que seja inconclusivo. Mas iremos testar”, disse Abade.
Sem comentar detalhes sobre as investigações, que estão em sigilo de Justiça, o delegado Abade informou que a investigação continua. “Já fui informado que esse exame será solicitado e terá prioridade”, disse.
O delegado, entretanto, admitiu que só ficou sabendo do resultado do laudo nesta semana. “Eu tive alguns problemas, perdi uma filha, fiquei algum tempo afastado depois dessa tragédia, mas o processo andou normalmente”, contou ele, que afirmou não saber que o laudo tinha sido disponibilizado em janeiro.
Enquanto isso, João Eduardo e a mãe se preparam para mais alguns meses sem saber se Tavares está vivo ou morto. “Só queremos acabar com isso e seguir a vida”, relata.
Confira a entrevista completa com João Eduardo:
https://www.youtube.com/watch?v=f9_tt4x7e5Y&feature=youtu.be