SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma cadeira serve para sentar, mas este prosaico item do cotidiano também pode deixar sua função de lado para ser exibido como uma escultura. É assim que Jader Almeida, respeitado designer de móveis que completa agora 20 anos de atuação, se refere à cadeira “Clad”, uma de suas criações-xodó.
“Não é apenas a função primária, e sim a função poética, do deleite”, ele diz, ao manusear a peça de madeira de formas fluidas e arredondadas, com um encosto tipo bojo que torna o ato de sentar confortável. O desenho, prestes a completar uma década no mercado, garantiu a Almeida o prêmio alemão iF Award, um dos principais reconhecimentos mundiais no setor de design de produtos.
Ao entender suas peças como produtos a serem usados mas também, em alguns casos, como obras de arte, o catarinense se tornou um nome indispensável na conversa sobre design contemporâneo no Brasil e, aos poucos, conquista também o mercado estrangeiro. Sua marca homônima tem lojas próprias em três estados -São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina- e no Distrito Federal, além de ser comercializada em multimarcas em 20 países.
Por que seus sofás, poltronas, mesas e ambientes que desenha, seja para residências ou hotéis, são tão desejados? O segredo, ele afirma, em tom professoral, é criar peças atemporais. Embora não seja fácil definir o que é exatamente o bom design que atravessa os anos sem perder a graça, Almeida tenta.
São peças “com as proporções corretas, os materiais corretos, a fabricação exímia, o traço leve, que conecta e não obstrui -esses códigos geram atração imediata nas pessoas”. Ele fala ainda em não sucumbir à pressão de lançar novos produtos constantemente.
No seu showroom num casarão com entrada discreta no Jardim Europa, um dos bairros mais ricos de São Paulo, os ambientes em tons de cremes, marrons e pretos, banhados numa calorosa iluminação indireta, transmitem tranquilidade. A placidez se completa com a trilha sonora -a playlist toca uma faixa do disco mais calmo dos britânicos do Slowdive, um álbum de sonoridade viajante.
Almeida diz desenhar a partir do legado de designers predecessores, mas com o olhar voltado para o presente e o futuro. Alguns de seus projetos trazem traços que remetem ao mobiliário moderno brasileiro, a exemplo da linha de cadeiras, poltronas e banquetas “Bossa”, com estrutura em madeira maciça e encosto e assento de palhinha.
Mas ele não se prende ao cânone e não parece ter medo de se aventurar. Seus lustres assumem formas tão distintas quanto uma abstração geométrica de linhas retas ou um conjunto de bastões pontiagudos que lembram estalactites. “São esculturas que por acaso iluminam. A função poética das luminárias se sobrepõe à função técnica”, afirma.
Com dezenas de prêmios de design acumulados já aos 43 anos, Almeida começou no universo moveleiro ainda pré-adolescente, fazendo cursos técnicos. Depois, aos 16, foi trabalhar na fábrica de um primo, antes de estudar arquitetura e se aprofundar no design. Em 2004, passou a assinar e comercializar seus desenhos, trilhando um caminho de reconhecimento pelos pares e crescimento comercial.
Os mais de 1.200 produtos de seu portfólio atendem a um público amplo, tanto quem procura por algo mais minimalista, onde o que conta é a pureza dos materiais, quanto clientes atrás de pufes com tecidos de jacquard estampados com tigres.
Ele também investe em pequenos objetos para a casa, como aromatizadores de ambiente, velas, castiçais e porta-lápis, e acaba de lançar uma coleção de joias para comemorar os 20 anos da poltrona “Dinna”, sua primeira criação assinada. “Nós temos a necessidade do adorno enquanto seres humanos”, ele afirma, ao justificar a preocupação com a beleza nas suas criações, sejam elas para a casa ou para o corpo.
“Ninguém precisa de um brinco para sobreviver, mas precisa para se expressar. E a expressão é tão vital quanto o abrigo e o alimento.”
JOÃO PERASSOLO / Folhapress