Casos de HIV vêm aumentando na população idosa

Wilson Jacob Filho comenta dados segundo os quais os casos do vírus nessa faixa etária aumentaram em 416% nos últimos dez anos; vida sexual ativa sem proteção pode estar entre os principais fatores

Um fator muito importante, que contribuiu para o acréscimo no número de casos de HIV, foi o aumento populacional da parcela idosa | Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

Segundo dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, os casos de HIV entre idosos aumentaram 416% ao longo dos últimos dez anos, resultando na representação da faixa etária entre os 60 anos ou mais em 4% das infecções com o vírus. A expansão da vida sexual mais ativa e a ausência do uso de camisinha podem estar entre os fatores para esse acréscimo, e o professor Wilson Jacob Filho, titular da Geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor da Divisão de Geriatria do Hospital das Clínicas, explica mais profundamente esse fenômeno.

Fatores de amplificação

Para Jacob, um fator muito importante, que contribuiu para esse acréscimo no número de casos de HIV, foi o aumento populacional da parcela idosa, mudança que acompanhou a alta na expectativa de vida da população brasileira. “Nós temos que entender o que aconteceu com a população idosa, nestes últimos dez anos, para respeitar essa formulação dos dados. A população idosa do Brasil aumentou consideravelmente em dez anos, assim como a expectativa de vida média aumentou consideravelmente em dez anos, mesmo levando em conta as perdas da pandemia. Ou seja, nós temos muito mais idosos atualmente do que nos últimos dez anos”, explica o professor.

A mudança comportamental dessa população também pode ter atuado como fator intensificador do problema, pois, segundo Jacob, a população idosa evoluiu de um estilo de vida de exclusão social para desenvolver uma crescente participação social, o que o expõe a faixa etária a maiores possibilidades de envolvimento romântico. “O idoso está cada vez mais incluído dentro do cenário das relações sociais. Obviamente isso também aumenta a possibilidade de relacionamentos afetivos, relacionamentos amorosos e relacionamentos sexuais, o que é uma recomendação do ponto de vista de saúde como um todo (…) Junto com esse aumento do relacionamento sexual existem os riscos das doenças sexualmente transmissíveis, ou infecções sexualmente transmissíveis, entre elas, a tão temerária contaminação pelo vírus do HIV. É uma decorrência da evolução epidemiológica, do relacionamento social esse aumento.”

Prevenção e tratamento

Jacob ressalta a importância do uso da proteção sexual, mais conhecida como camisinha, para a prevenção de doenças sexuais advindas de uma vida sexual ativa. Entretanto, ele relata uma certa resistência dessa população ao uso desse mecanismo. “Os contatos sexuais, sejam eles feitos da forma preferencial do casal, sem dúvida nenhuma, aumentam o risco de contaminação e, consequentemente, ele tem que ser previsto e assegurado para que nós possamos ter os benefícios sem ter os prejuízos. Sexo, para ser um fator agregador da saúde, tem que ser seguro. Em qualquer idade, em qualquer situação, com qualquer tipo de orientação sexual, ele, para ser suficientemente benéfico à saúde, tem que ser protegido, e as formas de proteção são disponíveis, são executáveis, não podem determinar um temor”, explica.

Além disso, o professor também ressalta a importância da inclusão de idosos nas campanhas de prevenção ao HIV, apostando na ampliação da prevenção à doença que, além de tudo, exige uma grande sensibilidade ao ser tratada, pois, segundo Jacob, o HIV ainda é erroneamente visto como um “deslize social”, principalmente quando relacionado aos idosos. “Demandam ao médico uma atitude muito cuidadosa, é dar a má notícia, é um dos atributos do médico, do profissional, em relação a um diagnóstico. Tem dificuldade em dizer ao cliente que ele tem um câncer, que ele tem uma doença de Alzheimer, mas a doença sexualmente transmissível traz uma conotação de deslize social muito grande, porque, como eu disse, muitas vezes o idoso é patrulhado pela família e consequentemente aquilo demonstra um potencial delito, que evidentemente é fruto de um comportamento social perfeitamente explicado e compreensível, não recomendável, obviamente, mas sem dúvida nenhuma tem que ser entendido e compreendido.”

**Por Jornal da USP 

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