SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O advogado Ramsés Costa, 52, apontado na delação premiada do delator do PCC Antônio Vinicius Gritzbach, 38, como o responsável por suposta negociação de propina a delegados para que ele recebesse benefícios, negou qualquer participação no caso.
“O delator procurou acusar pessoas de reputação ilibada que sempre atuaram no estrito cumprimento do seu dever profissional como cortina de fumaça aos seus malfeitos”, afirmou o advogado.
Ramsés afirmou que não teve conhecimento oficial da citação a seu nome na delação de Gritzbach, que foi morto a tiros em novembro pouco após sair do aeroporto de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo.
“Não são verdadeiras as ilações trazidas, nunca contribui direta ou indiretamente para corromper agentes públicos, tampouco usei de influência para tal. Não tratei em momento algum sobre a investigação do sr. Vinicius com os agentes públicos mencionados na denúncia’, afirmou.
Ele relatou que recebeu de Gritzbach apenas honorários advocatícios. Ramsés ainda o acusa de se beneficiar indevidamente da delação.
“Quero esclarecer que resta claro que o delator procurou fazer mau uso de instituto sério da contribuição premiada para desviar o foco das investigações que pairavam sobre si, bem como para se promover financeiramente, já que com ela teve todos seus bens desbloqueados e passou a ter uma vida normal, mesmo confesso da prática dos mais diversos crimes”, afirmou.
“Importante, ainda, consignar que o delator procurou acusar pessoas de reputação ilibada que sempre atuaram no estrito cumprimento do seu dever profissional como cortina de fumaça aos seus malfeitos.
O delegado Fábio Pinheiro Lopes, conhecido como Fábio Caipira, demonstrou indignação nesta sexta-feira (20) com a notícia de seu afastamento da direção do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), um dos órgãos mais importantes da Polícia Civil de São Paulo.
“[Estou] puto, puto. Não tem outra palavra. Uma injustiça. Tenho 32 anos de polícia. Você pode ver minha carreira, eu sempre trabalhei para a polícia. Tenho uma história aqui dentro. Agora, por causa de um ‘puta’ de um mentiroso a gente ser afastado… Mas eu tenho certeza de que tudo vai se esclarecer rapidamente”, afirmou em entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira, na sede da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, no centro da capital.
O governo paulista decidiu afastá-lo após divulgação de trechos da delação de Gritzbach implicá-lo.
O nome de Lopes aparece nas declarações feitas pelo delator do PCC ao Ministério Público de São Paulo, bem como o do deputado estadual Delegado Olim (PP) e o do ex-titular do 24º DP (Ponte Rasa) Murilo Fonseca Roque.
Gritzbach afirmou em delação que o advogado Ramsés Costa, que teria muita influência na polícia, fez proposta de um acordo, do qual Lopes, Olim e Roque fariam parte, para beneficiá-lo em investigações do Deic das quais era alvo.
O empresário era o principal suspeito de ser mandante do assassinato de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, em dezembro de 2021 na zona leste de São Paulo, e de outro membro do PCC. Em acordo de delação premiada, ele acusou policiais civis de exigirem propina para beneficiá-lo em investigações do Deic, como liberação do passaporte, desbloqueio de bens apreendidos, e não pedido de prisão.
Para tanto, o empresário deveria pagar R$ 5 milhões, sendo R$ 800 mil de honorários ao advogado e o restante em propina. Parte da propina teria sido paga em imóveis, cheques e mais R$ 300 mil em dinheiro.
Lopes nega as acusações. “Que beneficio ele teve no Deic? Tudo o que tinha que ser feito contra ele dentro da legalidade foi feito. Foi graças à nossa investigação que houve o acordo de delação premiada. Nós pedimos o bloqueio de 49 imóveis dele, de um helicóptero e de duas lanchas. O passaporte dele continua apreendido lá no Deic.”
O deputado delegado Olim negou qualquer participação no caso. “Não conheço, nunca estive ou recebi pessoalmente, o senhor Antônio Vinicius Gritzbach. Não mantive qualquer contato próximo ou mediato com essa pessoa. Nunca intermediei ou atuei pela gestão de procedimentos judiciais ou extrajudiciais a respeito dele, quem só soube existir quando do seu homicídio, publicamente divulgado, no aeroporto de Guarulhos.”
A reportagem procurou Murilo Roque, mas as ligações e mensagens não foram atendidas. Pessoas ligadas a ele afirmaram que o delegado está indignado com a citação do seu nome nesse episódio porque ele diz jamais ter conversado com o diretor do Deic, com o deputado Olim, e com o advogado.
FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress