SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diplomatas dos Estados Unidos se encontraram, nesta sexta-feira (20), com representantes da HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla em árabe) na Síria. Classificada como terrorista por Washington, a organização foi responsável por liderar a ofensiva que derrubou o regime de Bashar al-Assad há quase duas semanas.
“Eles se encontraram com representantes da HTS para discutir os princípios de transição endossados pelos EUA”, disse um porta-voz do Departamento de Estado americano. “Também discutiram eventos regionais e a necessidade da luta contra o Estado Islâmico (EI)”, acrescentou, fazendo referência ao outrora aliado da HTS.
Os princípios citados pelo porta-voz são uma referência ao conjunto de valores acerca da transição de poder na Síria que os EUA, a Liga Árabe e a Turquia concordaram em apoiar após uma reunião em Aqaba, na Jordânia, dias após a queda de Assad. Dentre os princípios há um processo inclusivo de governança e o respeito aos direitos das minorias.
Do lado do grupo, um funcionário do novo governo afirmou à agência de notícias AFP que a reunião com Ahmed al-Sharaa, chefe da HTS que antes se identificava como Abu Mohammed al-Jolani, foi positiva.
Esta foi a primeira delegação dos EUA a entrar em Damasco desde o colapso da ditadura de Assad. A visita representa uma mudança em relação à abordagem americana da Síria nos últimos anos, reduzida a intervenções militares.
Após a reunião, a enviada Barbara Leaf -secretária assistente de Estado para Assuntos do Oriente Médio- afirmou a jornalistas que os EUA retirariam a oferta de recompensas por informações sobre o paradeiro de Sharaa em vigência há alguns anos.
Também disse que o líder, que vem tentando abrandar sua fama de radical, comprometeu-se a enfrentar a ameaças terroristas na região.
“Apoiamos plenamente um processo político com liderança síria e próprio dos sírios que resulte em um governo inclusivo e representativo em relação aos direitos de todos, incluindo as mulheres e as diversas comunidades étnicas e religiosas”, disse a diplomata, que compareceu ao encontro ao lado de Daniel Rubinstein, novo conselheiro especial sobre a Síria.
Além deles, também estava presente na reunião Roger D. Carstens, enviado presidencial especial para assuntos de reféns. Um dos objetivos da delegação era obter novas informações sobre o paradeiro do jornalista americano Austin Tice, que foi feito prisioneiro enquanto reportava da Síria em 2012, e outros cidadãos dos EUA desaparecidos sob Assad.
O líder da HTS disse em entrevistas que seu grupo planeja ter um processo inclusivo e não busca prejudicar não muçulmanos na Síria. O grupo é conservador e segue os princípios do islã político, mas rompeu com a Al Qaeda e o EI anos atrás.
Um dos principais motivos para os EUA designarem a organização como terrorista foi o uso de táticas como a explosão de carros-bomba pelo grupo precursor da HTS, a Frente Nusra. Robert Ford, embaixador dos EUA na Síria na época em que ocorreram os atentados, pressionou pela classificação.
Neste mês, porém, Ford disse em uma entrevista ao jornal americano The New York Times que a gestão Joe Biden deveria considerar retirar a HTS da lista. Enquanto governava a província de Idlib nos últimos anos, afirmou, o grupo mostrou tolerância com os cristãos e permitiu que reconstruíssem igrejas.
Redação / Folhapress