SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Durante muito tempo acreditou-se no mito de que pessoas negras não precisavam usar filtro solar. Essa crença surgiu devido à maior quantidade de melanina na pele, que, embora ofereça alguma proteção, não bloqueia todos os raios solares prejudiciais.
A eumelanina, responsável pela pigmentação escura da pele e pela absorção da luz, garante uma proteção natural limitada, que não é suficiente para barrar a radiação ultravioleta e a luz visível. Essa pigmentação reduz os riscos de queimaduras solares e de cânceres de pele não melanoma, mas não elimina esses riscos.
Embora a incidência do câncer de pele seja menor em pessoas negras, ele ainda pode ocorrer.
“Isso impacta diretamente no tempo de diagnóstico, que muitas vezes acontece em estágios mais avançados, dificultando o tratamento”, afirma a dermatologista Camila Rosa, integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia e especialista em pele negra.
Além do câncer, a exposição aos raios UV agrava a hiperpigmentação, como melasma e manchas pós-inflamatórias, comuns em peles negras. Também contribui para o envelhecimento precoce e danos cumulativos, como alterações de colágeno e elastina.
Escolher o protetor solar adequado envolve conhecer siglas e termos presentes nas embalagens para determinar a proteção necessária. São eles:
UVB – Penetra superficialmente na pele, causando queimaduras solares que são parcialmente bloqueadas pela melanina. “Por isso a gente bronzeia em vez de queimar”, explica a dermatologista Jaci Santana, dedicada ao estudo da pele negra e integrante da Skin of Color Society. Essa radiação é mais intensa entre as 10h e as 16h e está mais associada ao câncer de pele.
UVA – Penetra profundamente, estimulando a pigmentação (melanogênese) e acelerando o envelhecimento da pele. Está presente durante todo o dia, inclusive nos dias nublados. Essa radiação intensifica manchas em pessoas de pele negra, que já têm tendência a hiperpigmentação, segundo Santana.
Luz visível – Origina-se de fontes naturais, como o Sol, e artificiais, como lâmpadas e telas. “Para pessoas de pele negra, ela agrava ainda mais manchas e melasma”, destaca Camila Rosa.
Escolhendo o protetor solar ideal
Muitas pessoas se preocupam apenas com o FPS (Fator de Proteção Solar), que mede a proteção contra os raios UVB. Mas esse não deve ser o único critério quando se trata da pele negra.
É essencial verificar também a proteção contra os raios UVA, indicada como PPD (Persistent Pigment Darkening, ou escurecimento pigmentar persistente, em português).
Segundo normas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o PPD deve corresponder a pelo menos um terço do FPS.
O PPD é representado pela escala PA+, que varia de PA+ (leve) a PA++++ (muito alta). Quanto maior, melhor. Nem todas as embalagens informam essa escala, mas indicam a presença de proteção UVA.
“O protetor solar ideal para a pele negra, de fototipos mais altos, deve ter FPS 30 ou mais, para proteger contra UVB, e PPD 20 para proteger contra UVA”, afirma Santana.
Também é importante escolher produtos com texturas adequadas ao tipo de pele –oleosa, mista ou seca.
Proteção contra luz visível
Estamos constantemente expostos à luz visível, e especialmente para pessoas com fototipo alto, se proteger é crucial. Protetores com cor oferecem maior eficácia nesse aspecto, especialmente para quem tem tendência à hiperpigmentação, devido à presença de óxido de ferro e titânio, afirma Santana.
Entretanto, a oferta de protetores com cor que atendam a uma ampla gama de tons de pele é limitada, dificultando a escolha.
Para quem não encontra a tonalidade ideal, Santana sugere usar um protetor sem cor combinado a uma base que seja usada no dia a dia. E ressalta que bases com FPS não substituem o protetor solar.
A indústria de protetores solares precisa avançar nesse quesito, afirma Rosa. “Nem todos os filtros com cor atendem a uma ampla diversidade de tons, e os produtos específicos ainda são escassos.”
Outro ponto alvo de críticas é o resíduo esbranquiçado deixado por muitos filtros, causado por dióxido de titânio ou óxido de zinco. Muitas marcas têm desenvolvido fórmulas que evitam esse efeito, com tonalidades mais adaptáveis à pele negra.
VITÓRIA MACEDO / Folhapress