SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A tecnologia híbrida flex vai estar presente em muitos lançamentos entre 2025 e 2026. Serão diferentes combinações de gasolina, etanol e eletricidade, cada uma em sua faixa de preço. As duas tecnologias já disponíveis passaram pelo teste Folha-Mauá.
Os carros escolhidos foram os SUVs Fiat Fastback na versão Impetus T200 Hybrid (R$ 161.990) e o Toyota Corolla Cross XRX 1.8 Hybrid (R$ 212.890).
Enquanto o primeiro concorre entre os utilitários compactos, o segundo é um modelo de porte médio, o que explica a diferença de preço.
Para aferir o desempenho dos carros, o Instituto Mauá de Tecnologia utiliza o V-Box, equipamento que usa sinal de GPS. Os testes de aceleração e retomada são feitos na pista da empresa ZF, em Limeira (interior de São Paulo).
A etapa que verifica o consumo na cidade tem 27 km. Para simular um percurso rodoviário a 90 km/h, os pilotos de teste dirigem por 31 km.
Ambos os trajetos ficam em São Caetano do Sul (ABC), onde está a sede do instituto. Se o carro for flex, são feitas duas medições: uma com etanol, outra com gasolina.
Caso fossem híbridos do tipo plug-in (que podem ser recarregados na tomada), os modelos testados agora passariam por uma medição de gasto de energia. Mas as tecnologias oferecidas por Fiat e Toyota são menos complexas.
O Sportback é um MHEV, sigla em inglês para veículo híbrido leve. Nesse caso, a eletricidade ajuda a reduzir a queima de combustível nas partidas e fornece torque extra nas arrancadas, mas não chega a movimentar o carro por conta própria.
O recurso mais perceptível é o sistema start/stop, que desliga o motor a combustão em paradas no trânsito. Como o conjunto elétrico substitui tanto o alternador como o motor de partida, não há trepidação ou tranco quando o 1.0 turbo flex volta a funcionar.
Mas há um porém: em dias quentes, esse liga e desliga compromete a eficiência do ar-condicionado, e isso foi constatado ao longo do teste. Para que o aparelho volte a funcionar, é preciso aliviar o pé do freio, o que faz o motor a combustão funcionar novamente.
O painel do Fiat mostra o fluxo de energia e a carga disponível na pequena bateria de íon-lítio. Na prática, essas informações não fazem muita diferença para o motorista, já que o funcionamento do carro não difere das versões anteriores, que não eram híbridas.
Mas há vantagem no consumo urbano, e os números aferidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia foram superiores aos divulgados pela Fiat, que prevê uma melhora de até 15%.
Enquanto o Fastback Impetus “antigo” atingiu a média de 8,8 km/l na cidade quando abastecido com etanol, o híbrido flex atual marcou o consumo de 10,3 km/l. Ou seja, a linha 2025 registrou um consumo 17% melhor que o antecessor.
FIAT FASTBACK IMPETUS
Preço: R$ 161.990 (dezembro/2024)
Motor: flex, dianteiro, turbo, 999 cm³
Potência: 130 cv (E) e 125 cv (G) a 5.750 rpm
Torque: 20,4 kgfm a 1.750 rpm (E/G)
Transmissão: câmbio automático do tipo CVT, sete marchas
Pneus: 215/45 R18
Peso: 1.271 kg
Porta-malas: 516 litros
Comprimento: 4,43 m
Largura: 1,77 m
Altura: 1,55 m
Entre-eixos: 2,53 m
Aceleração (0 a 100 km/h, em segundos): 9,4 (etanol) e 10,3 (gasolina)
Retomada (80 km/h a 120 km/h, em segundos): 7,1 (etanol) e 7,9 (gasolina)
Consumo urbano (km/l): 10,3 (etanol) e 13,4 (gasolina)
Consumo rodoviário (km/l): 15,4 (etanol) e 19,9 (gasolina)
Já o desempenho foi mantido, com a prova de aceleração do zero aos 100 km/h sendo cumprida nos mesmos 9,3 segundos de antes. Nesse aspecto, o Fiat parece estar em uma categoria superior ao do Corolla Cross híbrido, que precisou de 4 s a mais para realizar a mesma prova. Esse é o preço a se pagar para ir longe no uso urbano. Bem mais longe.
De acordo com as medições feitas pelo Instituto Mauá de Tecnologia, o SUV médio da Toyota foi capaz de rodar 17 quilômetros com um litro de etanol na cidade.
Quando abastecido com gasolina, a média ficou em 22,5 km/l na mesma condição. O que possibilita esses números é a opção híbrida adotada pela montadora.
Trata-se de um HEV, sigla que representa os veículos híbridos plenos. O sistema gerencia os motores elétricos e a combustão para privilegiar a forma mais eficiente de rodar.
No uso urbano, é possível percorrer distâncias curtas usando apenas eletricidade. Ao longo dos testes, a bateria cheia permitiu rodar cerca de quatro quilômetros sem que o motor a combustão estivesse trabalhando.
Entretanto, as piores médias de consumo ocorrem quando a energia se esgota e o 1.8 flex passa a trabalhar para realimentar o acumulador. Essa é a situação em que o carro se torna barulhento, mas o ruído não demora a cessar.
O que vale, portanto, é a constante alternância entre combustão e eletricidade. Funciona assim há bastante tempo, já que o primeiro carro híbrido da Toyota, o Prius, foi lançado na segunda metade dos anos 1990.
TOYOTA COROLLA CROSS XRX HYBRID
Preço: R$ 212.890 (dezembro/2024)
Motorização: motor flex, 1.993 cm³ (101 cv com etanol e 98 cv com gasolina a 5.200 rpm), que trabalha em conjunto com dois motores elétricos (72 cv)
Potência combinada: 122 cv
Torque: 14,5 kgfm a 3.600 rpm (etanol/gasolina) e 16,6 kgfm (elétrico)
Transmissão: câmbio automático do tipo CVT
Bateria: níquel-hidreto metálico, 1,31 kWh
Pneus: 225/50 R17
Peso: 1.450 kg
Porta-malas: 440 litros
Comprimento: 4,46 m
Largura: 1,83 m
Altura: 1,62 m
Entre-eixos: 2,64 m
Aceleração (0 a 100 km/h, em segundos): 13,3 (etanol) e 14,3 (gasolina)
Retomada (80 km/h a 120 km/h, em segundos): 9,1 (etanol) e 9 (gasolina)
Consumo urbano (km/l): 17 (etanol) e 22,5 (gasolina)
Consumo rodoviário (km/l): 12,4 (etanol) e 17,4 (gasolina)
Em 2025, a montadora japonesa vai lançar versões híbridas plug-in da linha Corolla, com maior potência e longo alcance no modo elétrico. Já o grupo Stellantis, que controla as marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM, vai ampliar o portfólio de soluções da família Bio Hybrid.
Volkswagen, General Motors e Renault já confirmaram que terão carros híbridos flex a partir de 2025. Nas chinesas GWM, BYD e Omoda/Jaecoo, a chegada dessas alternativas está prevista para 2026.
A tecnologia é vista como uma solução viável para a descarbonização da frota nacional, já que o etanol é um combustível de origem renovável e menos poluente que a gasolina. Entretanto, como o teste comprovou, quanto maior o nível de eletrificação, maior é a eficiência energética.
O problema é o preço das diferentes opções: o sistema híbrido leve custa bem menos que o sistema pleno, que, por sua vez, é mais barato que o híbrido plug-in.
Essa é a razão para que, em um futuro não muito distante, os modelos mais em conta do mercado tragam a tecnologia presente no Fiat Fastback, enquanto opções de preço mais elevado receberão sistema semelhante ao disponível no Toyota Corolla Cross.
EDUARDO SODRÉ / Folhapress