Em 1 ano, Força Nacional no RJ apreende 10 mil maços de cigarros e 1 arma de fogo

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A presença da Força Nacional no Rio de Janeiro completou um ano em outubro com dados de atuação abaixo da expectativa gerada no governo estadual quando o envio das tropas foi anunciado.

O contexto da chegada da Força Nacional ao estado se deu após a divulgação, pela TV Globo, de um treinamento armado de traficantes no complexo da Maré, zona norte da capital fluminense. O treinamento, com estilo militar, era feito em área de recreação.

Na mesma época, três médicos foram mortos em um quiosque da Barra da Tijuca. Eles estavam no Rio para um congresso de medicina. Um deles foi confundido com um miliciano, segundo investigação.

O governador Cláudio Castro (PL) solicitou à época o auxílio do governo federal, e o então ministro da Justiça, Flávio Dino, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou o envio da Força Nacional.

A Força Nacional é composta de policiais militares, policiais civis, bombeiros e peritos de diferentes estados. Faz parte da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), vinculada ao Ministério da Justiça.

A promessa era de troca de informações entre as polícias estadual e Federal e “asfixia” ao crime organizado.

Os agentes não atuaram dentro das favelas por não conhecerem as particularidades das comunidades cariocas. O objetivo foi patrulhar especialmente rodovias, a fim de apreender armas e drogas, em apoio à PRF (Polícia Rodoviária Federal), e também dar apoio à PF no aeroporto internacional do Rio.

Entre 2023 e 2024, agentes da Força Nacional apreenderam 10.100 maços de cigarro, abordaram 40.955 pessoas e 7.088 motociclistas. Prenderam 12 pessoas em flagrante, fizeram 14 apreensões de munição e apreenderam uma arma de fogo. A apreensão de drogas não alcançou 1 kg.

Os dados foram compilados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública após pedido da reportagem via Lei de Acesso à Informação. Os dados vão do período de 1° de outubro de 2023 a 29 de novembro de 2024.

Durante os 13 meses, a presença da Força Nacional no estado foi prorrogada sete vezes. A mais recente estende a operação até março de 2025.

“São medidas improvisadas, paliativas e sem impacto nenhum. A população sente, grita, e o governo do estado faz sempre o mesmo: pede algo que não sabe nem como vai utilizar”, afirma o coronel da reserva da Polícia Militar e cientista social Robson Rodrigues, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).

Três mortes de agentes ocorreram durante o período de operação no Rio. Em 2023, Edmar Felipe Alves, 36, foi morto na porta da casa, onde morava com outros agentes, na zona oeste. Ele era de Alagoas.

Alves saiu de casa após ouvir tiros na rua. Um homem que havia acabado de cometer feminicídio, segundo investigação, disparou contra Edmar.

No mesmo dia, agentes da Força Nacional entraram por engano na comunidade do Chapadão, em Costa Barros, zona norte, e tiveram as armas roubadas.

Em 2024, dois agentes morreram em casos relacionados à doenças, ocorridos em razão do serviço. O ministério não detalhou as circunstâncias.

Ao todo, 596 agentes foram enviados ao Rio de Janeiro para a operação, sendo 365 em 2023 e 231 em 2024. O número não conta os agentes enviados para GLO (Garantia da Lei e da Ordem), como na cúpula do G20. Na GLO, 89 membros da Força Nacional foram enviados ao Rio.

Procurada, a Polícia Militar fluminense afirmou que quem coordena as ações da Força Nacional é o Ministério da Justiça —não há operações integradas entre a Força Nacional e as polícias.

Segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), somente a região metropolitana do Rio teve 3.181 homicídios dolosos registrados entre outubro de 2023 e outubro de 2024, além de 754 mortes por intervenção policial e 13 policiais militares mortos em serviço. Houve ainda 3.185 registros de roubo de carga.

Ao longo de 2024, Castro, que havia solicitado auxílio federal no ano anterior, demonstrou publicamente contrariedade à condução do governo Lula (PT) sobre a segurança pública nos estados. Também fez críticas ao STF pela ADPF 635, medida responsável por restringir operações policiais em comunidades do estado —pela decisão, as polícias devem comunicar ao Ministério Público a realização das ações.

Em outubro, durante entrevista coletiva sobre a morte de três pessoas em um confronto entre policiais e traficantes no complexo de Israel, Castro disse que Lula e Congresso deveriam ajudar com o problema da segurança pública no estado, porque “não dá para fazer sozinho”.

Em dezembro, em encontro com jornalistas, o governador afirmou que o Rio “não precisa de mais uma polícia aqui”, mas “precisa que cada um faça o seu trabalho”.

“Uma leniência do governo federal, sobretudo da diplomacia brasileira, está preocupado com um monte de coisa, mas deixa a arma e a droga à vontade pelas nossas fronteiras.”

Procurado, o governo fluminense afirmou que “a atuação da Força Nacional no estado do Rio é uma ajuda bem-vinda, mas insuficiente para fazer frente à necessidade que temos no combate à criminalidade.”

O texto afirma que a gestão Castro tem cobrado do governo federal uma atuação maior contra a circulação de armas. “Entre janeiro e novembro de 2024 o estado do Rio de Janeiro registrou um aumento de 20,9% na apreensão de fuzis, passando de 568 em 2023 para 687 em 2024, o que equivale a uma média de duas apreensões por dia”, diz a nota.

De acordo com dados do Ministério da Justiça, o custo para manter o efetivo da Força Nacional no Rio foi de R$ 18,4 milhões no período entre 16 de outubro de 2023 e 3 de dezembro de 2024, uma média de R$ 44 mil por dia.

“O governo estadual não faz seu dever de casa adequadamente, e quando é criticado e pressionado não titubeia em cobrar do governo federal —e algumas críticas estão corretas. Mas, quando o apelo do estado é atendido, não sabe o que fazer”, afirma Robson Rodrigues.

“É uma estratégia diversionista, de desviar as atenções às críticas ao seu governo depois de uma tragédia, ou algo que exponha as fragilidades da segurança pública.”

YURI EIRAS / Folhapress

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