‘Aumentou, mas não temos conforto nenhum’, diz passageira sobre alta da tarifa de ônibus em SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No primeiro dia do aumento das tarifas de ônibus, metrô e trens na cidade de São Paulo, passageiros se dividem sobre o valor e a qualidade do transporte público.

Maria da Conceição, 29, que trabalha no setor financeiro, aguardava o ônibus no Terminal Santo Amaro, na zona sul, para ir para o trabalho nesta segunda-feira (6).

Ela afirma que o vale-transporte é descontado do salário e, por isso, a alteração na passagem muda seu orçamento no fim do mês.

“A porcentagem de desconto vai alterar e impactar no salário. Vou continuar o mesmo trajeto, mas pagando mais”, diz ela, que afirma que o transporte não vale o que custa. “Aumentou o valor, mas não temos conforto nenhum. Tem momentos que não conseguimos nem pegar [o ônibus]”, diz ela.

Marcio Fernandes, 52, que trabalha na área de segurança, voltava para casa nesta manhã depois do serviço. Ele diz considerar justa a alteração da tarifa do ônibus pelo período que o valor ficou congelado.

“Alguém tem que pagar essa conta”, diz ele, para quem, apesar de alguns eventuais problemas, a qualidade do transporte teve uma melhora nos últimos quatro anos.

Ele também cita que o aumento vem em meio a outros benefícios da prefeitura, como o passe livre aos domingos, implantando pela gestão Ricardo Nunes (MDB) em dezembro de 2023. Na véspera, o trabalhador aproveitou a tarifa grátis para levar os filhos ao parque Ibirapuera.

Júlio Aparecido, que trabalha como motorista e segurança, aguardava também o ônibus na manhã desta segunda para o trabalho. Ele também concorda que a alteração da tarifa é justa e que não deve comprometer o salário no fim do mês.

“É justo. Não tá ruim”, disse ele.

Já Nayce Gomes, 31, que trabalha na estação, afirmou que o valor é superior à qualidade do serviço.

“Ar-condicionado ruim, motorista ruim, ônibus sempre quebrado. Como que tá bom? Tinha que melhorar essa qualidade do ônibus”, diz ela, que agora vai fazer o Bilhete Único.

João Victor Guilherme, 18, que trabalha em uma empresa de transporte afirma que ele não deve ser afetado pela nova tarifa, uma vez que o valor é subsidiado pelo trabalho.

“Para muita gente apertou [o orçamento]. Não vale o que custa, aumenta a tarifa, mas não aumenta o salário”, afirma ele.

Nunes anunciou um dia após o Natal o aumento da tarifa de ônibus na capital paulista para R$ 5. O último reajuste do transporte público municipal havia ocorrido em janeiro de 2020, quando a passagem foi de R$ 4,30 para R$ 4,40.

A gestão disse que a nova tarifa corresponde ao menor valor entre as opções apresentadas por técnicos da SPTrans (São Paulo Transportes). Se fosse atualizada pela inflação no período, 32%, a tarifa seria de R$ 5,84, segundo o Executivo paulistano.

Na capital paulista, a prefeitura subsidia parte do transporte público e o percentual é calculado conforme o número de passageiros, o tamanho da frota, entre outros.

Em 2024, a municipalidade repassou R$ 6,7 bilhões às viações como compensação tarifária. O valor é 14,5% a mais do que o registrado no ano anterior –o maior aumento desde o fim da pandemia, quando as restrições sociais esvaziaram o transporte público.

Em nota à Folha, a prefeitura afirma ter ampliado a capacidade de transporte de passageiros por ônibus em 11,4% entre 2020 e 2024, passando de 907 mil para 1,01 milhão de lugares na frota municipal.

“Também para dar maior fluidez, a administração municipal implantou 54 km de faixas exclusivas desde 2021 superando, inclusive, a meta prevista pela gestão de 50 km até 2024. Foram entregues ainda o transporte hidroviário Aquático-SP, e o trecho de 4,1 km do corredor de ônibus Itaquera-Líder. Outros 2,7 km na avenida Celso Garcia estão em obras”, disse a nota.

A gestão municipal também disse que 92,59% da frota, ou 11.147 ônibus, estão equipados com sistema de refrigeração, e que a meta é que todos os veículos estejam com ar condicionado até o fim deste ano.

USUÁRIOS DO METRÔ TAMBÉM RECLAMAM

Já em relação ao metrô e aos trens da CPTM, a tarifa subiu de R$ 5 para R$ 5,20. É a segunda alta no transporte público durante a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que já havia subido a passagem de R$ 4,40 para R$ 5 em dezembro do ano passado.

Com o novo reajuste de 4%, o transporte público estadual teve alta acumulada de 18% desde o fim de 2023.

Na linha 5-lilás do metrô, indo em direção a Chácara Klabin para o trabalho, a contadora Janaína, 42, também afirma discordar do aumento da tarifa. Para ela, o valor é superior ao serviço prestado.

“Altera para todo mundo. É desnecessário”, diz ela. “Aumenta o salário mínimo, mas aumenta também o valor da passagem. Ou seja, para as pessoas mais simples, não melhora em nada.”

A analista do departamento pessoal Camila Conceição de Almeida, 38, endossa a reclamação. Ela, que mora na região da avenida Giovanni Gronchi, na zona sul, e trabalha na Freguesia do Ó, na zona norte, leva duas horas diariamente para chegar ao trabalho —para isso, usa metrô e ônibus.

A empresa subsidia o valor, mas o pagamento é realizado em dinheiro e ela carrega o Bilhete Único aos poucos. “Achei um absurdo. Disseram que a tarifa [de ônibus] estava congelada, mas nosso reajuste do salário é bem abaixo da inflação”, afirmou ela na linha 1-azul do metrô, ainda na metade do percurso para chegar ao trabalho.

Ela diz que seu percurso é longo e muitas vezes sente falta de estrutura nas estações. “Às vezes, preciso usar o banheiro, mas só tem na [estação] Santa Cruz. Se eu estiver apertada, vou ter desviar do caminho.”

ISABELLA MENON / Folhapress

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