Fiz minha passagem de ano em Brasília. Se eu escrever réveillon, parece que foi uma grande festa. Ela foi festiva, sim, em seis pessoas significativas, na cobertura de um arranha-céu. Vimos das alturas a capital federal incendiar-se em fogos. Para quem gosta de glamour, foi maravilhoso.
Para quem acha que Brasília são apenas os políticos, poderá me perguntar se não havia outra cidade para eu viver a passagem de ano 2024-25. Mas Brasília não é só aquilo que aparece na televisão (Esplanada dos Ministérios, Praça dos Três Poderes).
Ela é linda por sua arquitetura que hospeda o poder, mas ela é muito mais do que isso. Ela já está com quase três milhões de habitantes. Meu irmão mora na parte mais moderna, onde só há arranha-céus: Águas Claras. Onde se tropeça em shoppings.
Fui também ter um conhecimento mais próximo de minha cunhada Érika e de meus sobrinhos Ana e Rafael. Mas conheci Seu Cardoso, sogro de meu irmão, que mora num condomínio de chácaras. Só não posso dizer que era um sujeito maravilhoso por causa de suas convicções políticas. Como todas as pessoas, tirando os defeitos dele, o que sobra é um doce de pessoa.
Na hora do almoço, a simplicidade da churrasqueira não batia com a pomposidade da casa. Sebastião Divino Cardoso foi chefe do trânsito de Brasília por 30 anos. E diz: “Não havia privilégio, a multa era sagrada.”
Essa braveza toda não batia com a delicadeza com que tratava um enxame de abelha jataí que fez da churrasqueira a sua morada, o seu meleiro. Bem pequena, não tem ferrão, produção máxima de um meleiro: 350g. Usado muito na medicina alternativa. Se você, caro leitor, anda comprando mel de jataí em garrafão, está sendo enganado.
Dentro dos padrões de um apicultor, Cardoso mudou por três vezes, mas em seguida chegava outro enxame no mesmo lugar, parecia coisa combinada. Eu acreditei, pois o homem é gente séria. Jataí pertence à fauna brasileira.
Desistiu, simplificou o seu sistema de assar carnes, sua atual churrasqueira parecia mais um comércio de rua. Como um bom goiano, fez do limão limonada e passou a contar o caso como vantagem. Os casos eram mais uma oferta da casa. E nesse exercício de contar vantagem, o vinho ia sumindo.
O cronista genuíno não deixa de colocar sua colher de pau nas histórias que conta. Eu também tenho um enxame de jataí no quintal de minha casa, em Araçatuba, está no mesmo lugar (um muro) há 40 anos, desde que comprei o imóvel.
Gostei de Brasília, passeei bastante por seus pontos turísticos, acompanhados por Luís e Érika. Mas gostei mesmo foi do meleiro de Seu Cardoso, abriu mão de sua churrasqueira em favor da natureza.