SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) disse nesta sexta-feira (10) que, sem a coordenação com a política econômica, o esforço do BC (Banco Central) para conter a inflação terá de vir por um choque de juros ainda maior, que pode comprometer a atividade.
O alerta está em um texto no qual a entidade comenta o dado de inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), de 4,83% em 2024, acima do teto de 4,5%, conforme apontado mais cedo pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A entidade representante dos bancos lembra que o BC já voltou a elevar a taxa Selic (os juros básicos) ainda no ano passado, com claras indicações de novas altas no início de 2025, para controlar os vetores de maior pressão inflacionária.
“Se o BC tiver que realizar esse trabalho sem a coordenação com a política econômica, o choque de juros terá que ser muito elevado e pode comprometer o bom desempenho da atividade que temos visto até o momento. Neste sentido, é importante que a política fiscal também continue dando sua contribuição”, alerta.
No texto, a Febraban afirma que, na linha das projeções de inflação do mercado para 2025 e 2026, a expectativa é de que o IPCA ainda siga distante do centro da meta.
A federação também reforça a importância de o Banco Central manter-se “diligente e firme para reancorar as expectativas e alcançar a necessária convergência da inflação para a meta de 3%”.
Em sua análise, a Febraban também destaca que o cenário não é de descontrole, embora preocupe, e que a autoridade monetária tem agido de forma diligente.
O enfrentamento, no entanto, demanda cautela e a ação coordenada da política monetária e da política fiscal, reforça.
O texto, assinado pelo presidente da Febraban, Isaac Sidney, diz que o Ministério da Fazenda já encaminhou medidas adicionais de redução dos gastos.
“Mas não podemos parar por aí. Precisamos avançar com essa pauta, considerando inclusive as condições ainda bem adversas e incertas do cenário internacional, que tem se mostrado cada vez menos benigno para os países emergentes.”
O informe destaca, ainda, que o resultado do IPCA no ano passado foi particularmente influenciado pelos alimentos consumidos no domicílio, como reflexo de questões relacionadas à oferta de produtos e ao aumento da demanda.
Segundo o IBGE, o grupo alimentação e bebidas teve alta de 7,69% no ano passado, a maior desde 2022 (11,64%). Outros impactos de destaque vieram de saúde e cuidados pessoais (6,09%) e transportes (3,30%).
Sidney acrescenta que o índice também é um alerta para a continuidade de pressões que vêm dos preços dos serviços, sobretudo daqueles que, de acordo com o Banco Central, têm maior relação com a atividade econômica e o mercado de trabalho.
DOUGLAS GAVRAS / Folhapress