SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Suplementos em cápsulas ou em pó que prometem a pele perfeita e bronzeada para o verão sem muito esforço fazem sucesso nas redes sociais. No entanto, esses produtos não funcionam, segundo especialistas, e também não possuem aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para comercialização com essa finalidade.
Membro da diretoria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), Rosana Lazzarini explica que, normalmente, quem procura esse tipo de produto são pessoas de peles mais claras e que têm dificuldade em conseguir um bronzeado.
“A pele pode até escurecer, mas vai perder rápido a cor. Então, não adianta dar estimuladores porque não vai funcionar”, afirma a médica.
Sucesso nas redes sociais, o Tan Soon, é um desses suplementos. Ele faz parte de uma gama de produtos alimentares desenvolvido pela influenciadora Malu Borges -que ganhou destaquena internet por compartilhar o uso de itens de moda inusitados. Dentre os componentes do suplemento estão a vitamina A, biotina, licopeno e L-tirosina.
“Até ajuda a pigmentar, mas não estimula a melanina. Quem faz a cor ser de determinado jeito é a melanina”, diz Samira Yarak, dermatologista da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, sobre os compostos do produto.
Algumas substâncias, como a L-tirosina, até fazem parte do processo de criação do metabolismo da melanina, mas a especialista não soube afirmar se é absorvido da forma como usam na fórmula. “Se o corpo já produz, se eu tomar mais provavelmente não vai fazer diferença, porque a minha capacidade de produzir melanina é genética”, explica.
A especialista ainda acrescenta que se o indivíduo não precisar de determinada vitamina, já que o organismo expulsa o que não for utilizado porque só retém o necessário.
No site, o Tan Soon diz conter vitaminas A, C, E e biotina e que estes compostos intensificam o bronzeado, melhoram a elasticidade e mantêm a pele hidratada, mas para a especialista isso não acontece. “Não existe nada que comprove que isso de fato está relacionado com bronzeado”, diz Yarak.
A promessa de um bronzeamento facilitado também preocupa a especialista, que teme que o usuário acabe se expondo mais ao sol para tentar atingir a tonalidade desejada.
Segundo a marca, o produto é um complemento ao protetor solar e não substitui a necessidade de aplicar um protetor para garantir uma proteção eficaz contra os raios UV.
Um outro tipo de produto vendido sob a promessa de um bronzeado perfeito para o verão são os suplementos em cápsulas, como a Golden Glow Caps, da Care Natural Beauty. O produto em questão diz minimizar os danos dos raios UV, enquanto mantém a pele hidratada para um bronzeado uniforme e duradouro.
Para Samira, tanto em pílulas quanto em pó, as formulações destes suplementos podem ter efeitos colaterais como diarreira, irritação no intestino, no olho e até insuficiência hepática por causa do metabolismo desses corantes, explica Yarak.
“Nem se eu comer um monte de cenoura que tem betacaroteno e abóbora estaria me protegendo. E quem protege do sol é a melanina, ela tem uma capacidade de absorver. Você só extrai benefício se estiver com deficiência de alguma vitamina” completa a especialista.
Para a comunidade médica, o consenso é único: não existe forma saudável de se bronzear com sol. Toda exposição gera um dano, de envelhecimento precoce a câncer de pele, segundo as especialistas.
Por isso, o recomendado é o uso de protetor solar na quantidade correta e com reaplicação de acordo com o fabricante. O horário indicado pela SBD para exposição ao sol recomendada para a produção de vitamina D é antes das 10h e após as 16h.
Quem quer um tom mais dourado na pele pode recorrer a medidas como autobronzeadores com aplicação que não necessita de exposição solar. “Nesses casos é, sim, possível ver resultado, diferentemente de produtos que prometem com ingestão”, diz Lazzarini.
Segundo a Anvisa, não existe alegação aprovada em alimento para bronzeamento, ou seja, suplementos alimentares vendidos como “protetor solar ” ou que agiriam “de dentro para fora promovendo bronzeado” não têm aprovação da agência.
Ainda de acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), são considerados suplementos alimentares produtos de ingestão oral apresentados em formas farmacêuticas e destinados a suplementar a alimentação de indivíduos saudáveis com nutrientes, substâncias bioativas, enzimas ou probiótiocos.
Para a Anvisa, não são autorizados para suplementos alimentares alegações e promessas como: bronzeado uniforme e duradouro; proteção UV; ação antioxidante; produção de melanina; pele saudável; hidratação; renovação celular e ação anti-inflamatória.
Os produtos ainda devem conter na rotulagem a advertência: “Este produto não deve ser consumido por gestantes, lactantes e crianças”.
Por nota, a empresa Soon, detentora do Tan Soon, informou desconhecer as afirmações dadas pela Anvisa. Lançada oficialmente em outubro do ano passado, a marca diz que já estava registrada e regularizada perante a Anvisa antes d sua comercialização, seguindo à risca todas as recomendações, instruções e testes exigidos pelo órgão nacional e diz nunca ter recebido nenhum tipo de comunicado ou notificação por parte da agência sobre divergências com qualquer produto da marca.
Já a Care Natural Beauty diz, em nota, que o Golden Glow não é um produto de proteção solar, mas sim um suplemento alimentar desenvolvido para auxiliar no bronzeamento, contendo luteína, licopeno e vitaminas essenciais–ativos reconhecidos e aprovados pela Anvisa.
“Não há menção a “proteção solar” ou “defesa contra raios UV” na embalagem ou em materiais de comunicação, mas sim a informação de que ele prepara, realça e prolonga o bronzeado na pele por meio de ativos que oferecem suporte ao processo natural de bronzeamento”, completa o comunicado. A marca diz ainda que o produto não substitui o uso de protetores solares tópicos.
Ambos os suplementos são indicados apenas para maiores de 19 anos. Questionadas, apenas a Care Natural Beauty respondeu dizendo que a orientação segue as boas práticas regulatórias e estudos relacionados à suplementação adequada para essa faixa etária.
Por nota, a Anvisa informou que o uso de ésteres de astaxantina para suplementos alimentares tem indicação apenas para adultos maiores de 19 anos e na quantidade máxima estabelecida de 6 mg por dia.
ANDREZA DE OLIVEIRA / Folhapress