WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O Senado dos Estados Unidos iniciará nesta semana uma série de sabatinas dos indicados por Donald Trump para compor o governo, antes mesmo de o republicano tomar posse, no próximo dia 20.
As pessoas nomeadas pelo presidente eleito para ocuparem cargos-chave passam por análise e questionamentos das comissões de temas relacionados aos cargos que vão ocupar.
Os senadores votam no colegiado e dão um parecer favorável ou não à nomeação. Depois, os indicados são confirmados por maioria simples dos cem senadores no plenário da Casa. Eles só são efetivados no cargo, porém, após Trump assumir a Casa Branca.
Cerca de 1.300 indicações precisam ser confirmadas pelo Senado, mas nem todas precisam de sabatina –Trump indicou 92 e tem outras centenas de cargos pendentes para preencher, segundo levantamento do jornal americano The Washington Post.
Entre os nomes que serão ouvidos pelos senadores está uma das indicações mais polêmicas do presidente eleito: Pete Hegseth, que deve liderar o Departamento de Defesa. Ele participará de audiência na Comitê de Serviços Armados do Senado, que tem 25 participantes, às 11h30 (horário de Brasília) desta terça-feira (14).
Hegseth é ex-apresentador da Fox News e veterano das guerras no Iraque e no Afeganistão. Ele enfrenta uma acusação de agressão sexual por uma mulher da Califórnia. A revista New Yorker revelou comportamentos controversos no passado, como má gestão financeira, comportamentos sexistas e embriaguez em eventos sociais de trabalho. Esses fatores tornam esta uma das nomeações mais arriscadas de Trump.
Segundo a imprensa local, o FBI, a polícia federal americana, enviou um relatório com os antecedentes de Hegseth aos responsáveis pelo comitê que o ouvirá. Até o final do ano passado, senadores colocavam em xeque a aprovação do escolhido para comandar o Pentágono e supervisionar 1,3 milhão de soldados americanos na ativa.
O presidente eleito, no entanto, manteve a escolha e iniciou uma ofensiva junto a aliados para conseguir maioria a favor de Hegseth. Segundo o Washington Post, Trump foi avisado por John Thune, líder da maioria no Senado, que o ex-Fox News terá os votos necessários para ser aprovado.
Senadores também vão sabatinar nesta semana a ex-procuradora-geral da Flórida Pam Bondi, escolhida para um dos cargos mais relevantes do governo: chefe do Departamento de Justiça. Em comparação com o Brasil, o órgão acumula funções que ora se assemelham ao Ministério Público Federal, ora à Advocacia-Geral da União. A pasta também tem sob seu guarda-chuva o FBI.
Bondi foi indicada após a primeira escolha de Trump, o ex-deputado Matt Gaetz, ser obrigado a desistir porque seria rejeitado pelo Congresso devido a acusações de má conduta sexual. Pam será ouvida na manhã de quarta-feira (15) pelo Comitê Judiciário do Senado.
Bondi endossou as acusações de fraude nas eleições de 2020 vociferadas por Trump e prometeu retaliação aos promotores que o acusaram de tentar impedir a posse de Joe Biden. “Quando os republicanos tomarem a Casa Branca, sabe o que vai acontecer? No Departamento de Justiça, os promotores serão processados -os maus-, os investigadores serão investigados”, afirmou a advogada em entrevista à Fox News no ano passado.
Marco Rubio, outro aliado de Trump indicado para cargo estratégico na administração, também será ouvido pelo Comitê de Relações Exteriores do Senado, na manhã de quinta-feira (16).
Rubio foi indicado para o Departamento de Estado, o que pode torná-lo o chefe da diplomacia americana. Caberá a ele tocar e definir a política externa do governo Trump. Rubio, cubano-americano, focou nos últimos anos políticas para a América Latina e tem adotado um discurso linha-dura em relação a países geridos por regimes de esquerda, como Cuba e Venezuela.
Outras duas indicações polêmicas de Trump ficaram de fora da agenda inicial desta semana: Kash Patel, escolhido para comandar o FBI, e Tulsi Gabbard para a diretoria de Inteligência Nacional.
Elon Musk e Vivek Ramaswamy foram indicados para chefiar o novo Departamento de Eficiência Governamental, mas não precisam passar por confirmação do Senado. A ideia é que o novo órgão, que terá papel de reduzir os gastos governamentais, seja consultivo. Poderia ser, por exemplo, um comitê na Casa Branca. Essa foi a forma encontrada para evitar os conflitos de interesse que poderiam barrar Musk.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e o senador Marco Rubio, escolhido pelo republicano para assumir a secretaria de Estado em seu gabinete Jonathan Drake 4.nov.24/Reuters A imagem mostra duas pessoas em um evento político. A pessoa à esquerda tem cabelo loiro e usa um terno escuro com uma gravata vermelha. A pessoa à direita tem cabelo escuro e usa um terno escuro com uma gravata azul com bolinhas brancas. Ambos estão sorrindo e parecem estar se divertindo. Ao fundo, há um sinal vermelho que não é legível ****
VEJA CRONOGRAMA DAS SABATINAS NO SENADO
Terça-feira (14)
11h: Doug Collins, Departamento de Assuntos de Veteranos
Ex-deputado da Geórgia e ministro batista, Collins foi capelão da Marinha dos EUA e coronel da Reserva da Força Aérea. O órgão para o qual foi indicado trata da saúde dos veteranos.
11h30: Pete Hegseth, Departamento de Defesa
Ex-apresentador do “Fox & Friends” e veterano de guerra, Hegseth enfrenta questionamentos sobre seu comportamento, incluindo acusações de agressão sexual e condutas controversas. O órgão cuida do Pentágono.
12h: Doug Burgum, Departamento do Interior
Ex-governador de Dakota do Norte, Burgum é empresário e aliado de Trump. O departamento trata da gestão das terras públicas dos EUA e lidera o Conselho Nacional de Energia.
Quarta-feira (15)
11h: Kristi Noem, Departamento de Segurança Interna
Ex-governadora de Dakota do Sul, ex-deputada e pecuarista. A pasta cuida de segurança da fronteira, pauta fundamental no contexto atual, e operações de deportação (promessa de campanha de Trump).
11h30: Pam Bondi, Departamento de Justiça
Ex-procuradora-geral da Flórida, Bondi é vista como uma fiel aliada de Trump. Ela já disse que investigaria promotores que processaram Trump.
12h: Sean Duffy, Departamento de Transportes
Ex-deputado de Wisconsin e coapresentador no Fox Business,. Cabe ao órgão cuidar de questões de infraestrutura e transporte nos EUA.
12h: John Ratcliffe, CIA
Ex-deputado do Texas e ex-diretor de inteligência nacional. A CIA é responsável por operações secretas e coleta de informações sobre inimigos dos EUA.
12h: Marco Rubio, Departamento de Estado
Senador da Flórida e ex-membro do Comitê de Relações Exteriores, Rubio será o chefe da diplomacia dos EUA, se aprovado pelo Senado, como deve ser.
12h: Chris Wright, Departamento de Energia
Wright é um executivo do setor de energia e negacionista das mudanças climáticas. Caberá a ele regular a produção de energia e a segurança nuclear dos EUA, além de integrar o Conselho Nacional de Energia.
15h: Russell Vought, Escritório de Gestão e Orçamento
Vought foi um dos responsáveis pelo Projeto 2025, um plano conservador para o segundo mandato de Trump do qual o republicano procurou se desassociar durante a campanha. Ele supervisiona o orçamento presidencial e a revisão de regulamentações.
Quinta-feira (16)
12h: Scott Turner, Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano
Ex-jogador da NFL e ex-membro da Câmara do Texas, Turner foi nomeado para chefiar o HUD, responsável por políticas habitacionais e a promoção de leis de habitação justa.
12h: Lee Zeldin, Agência de Proteção Ambiental
Ex-deputado de Nova York, Zeldin será questionado sobre a liderança na EPA, agência encarregada de proteger o meio ambiente e regular padrões nacionais de saúde e segurança.
12h15: Pam Bondi, Dia 2 no Comitê Judiciário do Senado.
12h30: Scott Bessent, Departamento do Tesouro
Bessent, bilionário e gerente de investimentos, seria o primeiro membro do gabinete abertamente LGBTQIA+ a ser confirmado em uma administração republicana. Ele supervisionaria políticas fiscais e financeiras e a dívida pública.
Datas não confirmadas
Algumas audiências ainda não foram marcadas, incluindo de indicações controversas como Robert F. Kennedy Jr. (Saúde), Lori Chavez-DeRemer (Trabalho), Tulsi Gabbard (Inteligência Nacional), Howard Lutnick (Comércio), Linda McMahon (Educação), Kash Patel (FBI), Brooke Rollins (Agricultura) e Elise Stefanik (embaixadora na ONU).
JULIA CHAIB / Folhapress