SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Israel terá de abandonar o “mito da anexação” da Faixa de Gaza e respeitar uma autoridade palestina reformada que irá governar tanto o território que estava sob poder do Hamas desde 2007 quanto a Cisjordânia.
Tudo isso deverá acontecer sob um plano gerenciado pelos Estados Unidos que será entregue para apreciação do novo chefe da Casa Branca, Donald Trump, segundo o atual secretário de Estado americano, Antony Blinken.
Ele fez os comentários ao avaliar em um instituto em Washington o cenário após o cessar-fogo que se desenha como iminente entre os terroristas palestinos do Hamas, que atacaram Israel em 7 de outubro de 2023 e dispararam a atual guerra, e o Estado judeu.
Segundo o plano, a atual e enfraquecida Autoridade Nacional Palestina, que comanda a Cisjordânia e negocia paz com os rivais do Hamas desde a eclosão do conflito, terá de ser reestruturada e terá assistência de uma força de segurança internacional.
Ele não detalhou quem integraria tal força. Há especulações há meses de que o países como o Qatar, sede da atual mediação, e os Emirados Árabes Unidos poderiam fazer o papel. A ideia de forças americanas ou da Otan, a aliança liderada por Washington, em solo no Oriente Médio parece esotérica a essa altura -em especial com a ojeriza que Trump tem a esse tipo de intervencionismo.
Por óbvio, a fala de Blinken irá desagradar a ultradireita religiosa que apoia o governo de Binyamin Netanyahu, um incentivador da colonização ilegal da Cisjordânia. Os expoentes dessa ala já manifestaram o interesse de repetir a dose no norte de Gaza, mas o acordo de cessar-fogo proíbe isso.
Também fica evidente que tudo dependerá de como Trump irá lidar com a questão, que lhe será entregue em uma nova realidade quando chegar ao poder pela segunda vez.
Blinken voltou a defender a solução de dois Estados para a região, algo bastante distante da realidade. Apontou, com razão, que a construção de assentamentos judaicos está em ritmo inaudito, e ressaltou os desafios de segurança de Tel Aviv.
O Hamas, apontou, já conseguiu recrutar tantos homens quanto perdeu na guerra, afirmou, sem dar números exatos. Israel acredita ter matado algo como 20 mil membros do grupo na guerra, que segundo as autoridades de Gaza fez tombar mais de 46,6 mil pessoas desde seu início -quando, em um só dia, quase 1.200 pereceram nas mãos dos terroristas.
IGOR GIELOW / Folhapress