SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em uma sabatina tensa no Senado dos Estados Unidos, o indicado do presidente eleito Donald Trump para o Departamento de Defesa, o ex-militar e ex-apresentador da Fox News Pete Hegseth, se recusou a responder se cumpriria uma eventual ordem ilegal da Casa Branca e se defendeu de acusações de abuso sexual.
Hegseth, 44, enfrentou perguntas duras dos senadores do Partido Democrata a respeito de suas opiniões passadas sobre as Forças Armadas, em especial sobre a opinião de que mulheres não deveriam servir nas Forças Armadas em posições de combate ideia repetida por Hegseth em várias ocasiões, inclusive poucas semanas antes de ser nomeado ao cargo.
O ex-militar não encampou a posição mas tampouco a repudiou de forma clara, dizendo apenas que apoiaria mulheres em posições de combate “se os padrões não forem alterados” e que esses padrões devem ser baseados em “igualdade, não equidade”.
“Infelizmente, na busca por certas cotas ou porcentagens, os padrões [das Forças Armadas] foram alterados, e isso torna o combate mais difícil para todos os envolvidos”, disse Hegseth, criticando programas de diversidade do Pentágono. A senadora democrata Kirsten Gillibrand desmentiu o indicado de Trump, dizendo que não existem cotas para posições de combate no Departamento de Defesa.
O ex-militar prometeu também “restaurar a cultura do guerreiro” ao Pentágono, sugerindo que as Forças Armadas americanas passam por uma crise de liderança e insinuando que pode substituir todo o primeiro escalão de generais, incluindo os que formam o Estado-Maior. “Todo oficial será avaliado com base em meritocracia, qualidade, letalidade e comprometimento com ordens”, afirmou.
Em um dos momentos mais tensos da sessão, Hegseth protagonizou uma troca rápida de perguntas e respostas com a senadora democrata Elissa Slotkin, que questionou se ele cumpriria eventuais ordens ilegais de Trump.
O ex-apresentador da Fox News não respondeu a pergunta, dizendo apenas rejeitar “a ideia de que o presidente Trump daria uma ordem ilegal”. Slotkin relembrou então os relatos do ex-secretário de Defesa de Trump, Mark Esper, que disse que o então presidente quis utilizar as Forças Armadas contra manifestantes antirracistas em 2020.
“Não se trata de uma questão hipotética. [Esper] afirmou ter convencido Trump a não utilizar o Exército para atirar contra manifestantes. Se o presidente Trump lhe fizesse um pedido semelhante, o senhor também o convenceria do contrário?”, perguntou Slotkin.
Hegseth se recusou a responder a pergunta. “Não vou me antecipar sobre possíveis conversas que teria com o presidente, mas leis e processos na Constituição serão seguidos”, disse, sem entrar em detalhes.
Os senadores republicanos, por sua vez, defenderam Hegseth inclusive aqueles que poderiam barrar a nomeação. A senadora Joni Ernst, ela própria uma ex-militar que sofreu abuso sexual quando mais jovem, havia sinalizado anteriormente não ver com bons olhos o nome de Trump para o Pentágono, mas se disse satisfeita com as respostas dadas por ele durante a sabatina.
Como o Partido Republicano tem maioria no Senado, Hegseth só seria barrado se perdesse o apoio de três desses senadores. Entretanto, essa possibilidade não é nula dada a natureza polêmica da escolha de Trump.
Além da baixa patente militar (ele saiu do Exército como major, longe do topo da carreira), Hegseth nunca esteve à frente de nenhum órgão público e é conhecido não apenas por suas opiniões sobre mulheres nas Forças, mas também por sua defesa de americanos acusados de crimes de guerra no Oriente Médio.
O ex-militar também se recusou a responder se acusações de abuso sexual, bebedeira e assédio moral o desqualificariam de ocupar o cargo de secretário de Defesa. Quando democratas o pressionaram a respeito, Hegseth afirmou que as acusações são “difamações anônimas”.
Em 2017, uma mulher que não teve a identidade revelada acusou Hegseth de a estuprar em um hotel na Califórnia o ex-militar nega, dizendo que a relação foi consensual, e sua defesa diz que ele estava bêbado na ocasião.
O caso foi investigado pela polícia mas não resultou em uma denúncia formal à Justiça, e Hegseth entrou em um acordo com a suposta vítima, pagando uma quantia não revelada em troca de um acordo de confidencialidade.
A sabatina aconteceu no Comitê das Forças Armadas do Senado, controlada pelo Partido Republicano mas que conta com 13 membros do Partido Democrata.
Com o processo concluído, o Comitê deve votar a nomeação de Hegseth na próxima segunda (20). Uma vez aprovado, o que é provável, o nome de Trump vai à votação no plenário da Casa, onde precisa de uma maioria simples dos 100 senadores para se tornar o próximo chefe do Pentágono. Se houver empate, o futuro vice-presidente, J.D. Vance, atua como o voto de Minerva.
VICTOR LACOMBE / Folhapress