Nubank sugere que clientes poupem em vez de enviar Pix para casas de apostas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Nubank implementou uma iniciativa para tentar convencer o cliente a poupar em vez de enviar o dinheiro para plataformas de apostas.

O aplicativo exibe uma mensagem alertando o usuário e propondo alternativas para o uso do dinheiro ao identificar uma chave pix associada às bets. “Que tal guardar esse dinheiro?”, diz o alerta.

As associações do setor de apostas divulgaram uma nota de repúdio apontando a medida como uma “postura contrária à liberdade econômica e à atividade regulada”.

Durante as etapas de transferência, o app questiona o cliente se o dinheiro é destinado a uma casa de apostas, podendo responder “sim” ou “não”.

Caso o cliente confirme, o Nubank oferece uma última oportunidade para rever a decisão antes de concluir o pagamento.

“Alguns desses jogos são legalizados no Brasil, porém não há garantias de ganho”, diz a mensagem. “Guardando esse dinheiro ao invés de apostar, você tem a certeza de que ele vai render sem preocupação.”

Apesar dos alertas, o Nubank não bloqueia as transferências para casas de apostas.

A instituição não divulgou detalhes sobre como identifica as chaves Pix vinculadas a bets.

Segundo o banco, a ação faz parte de testes restritos com uma parcela de usuários e procura conscientizar os clientes sobre os riscos de realizar transferências para casas de apostas, conhecidas como bets.

“Realizamos com frequência testes de novos produtos e soluções para uma pequena parcela da base de usuários.”

A Aigaming (Associação Internacional de Gaming), a Abrajogos e ANJL (Associação Nacional de Jogos e Loterias) divulgaram uma nota de repúdio nesta terça contra a iniciativa do Nubank de alertar clientes sobre transferências para casa de apostas.

Para as entidades, a medida é discriminatória, fere princípios básicos de liberdade econômica e extrapola o papel do banco como instituição financeira regulada.

“O setor de apostas é legalizado pelas Leis nº 14.790/2023 e 13.756/2018 e regulamentado por portarias ministeriais. Ao adotar essa prática, o Nubank se posiciona contra uma atividade totalmente legal no Brasil”, afirmam em nota.

Outro ponto destacado na nota é a falta de critério do Nubank ao ignorar centenas de sites ilegais ainda operando no Brasil.

“Não faz sentido algum que os alertas não sejam ativados para esses operadores ilegais, piorando ainda mais o cenário em vez de ajudar a fortalecer a regulação no país”, diz Plínio Lemos Jorge, presidente da ANJL.

As associações defendem um tratamento isonômico e respeito à legislação vigente. A nota afirma ainda que o setor de apostas já contribui para o desenvolvimento do Brasil com o pagamento de tributos e a geração de empregos formais.

IMPACTO DAS APOSTAS NO SETOR FINANCEIRO

Além da iniciativa do Nubank, outros bancos já estão adotando medidas para mitigar os riscos, incluindo a redução de limites de crédito de clientes que realizam apostas e o estudo de mecanismos para restringir o acesso ao crédito por esse público

Estudos realizados pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) indicam que as apostas online podem estar diretamente relacionadas ao aumento da inadimplência no país.

Segundo simulações, os beneficiários do Bolsa Família podem enfrentar um crescimento de até 14% na inadimplência por conta de apostas, enquanto o índice geral para pessoas físicas pode atingir 27,1%.

A pesquisa Radar Febraban Especial, antecipada à Folha, também aponta que a maioria dos brasileiros (59%) defende uma regulação mais rígida para sites de apostas.

VITOR HUGO BATISTA / Folhapress

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