Cracolândias se espalham na periferia de SP, e polícia apura agressão a usuários

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A venda e o consumo de crack antes associados ao centro de São Paulo têm ligado o sinal de alerta em moradores da periferia, que notam aumento da presença dos dependentes químicos desde o final do ano passado.

Em bairros da zona leste, por exemplo, os usuários se mantêm próximos a terminais de ônibus e estações de metrô e trem. Na tarde desta terça-feira (14) um grupo consumia crack no bosque Asa Branca, em Cidade Tiradentes, a cerca de 40 km da Luz, reduto da principal cracolândia da cidade.

Uma diarista de 50 anos disse ter mudado sua rotina após notar a dispersão de dependentes químicos pelo bairro. Com medo de ser atacada, ela passou a não fazer o trajeto de casa até o ponto de ônibus a pé. Agora, um filho vai buscá-la ou ela pede um carro por aplicativo para percorrer menos de um quilômetro.

Para ela, a presença de ferros-velhos na região atrai os usuários, que trocam as miudezas por dinheiro para alimentar o vício. A diarista contou ter tido vasos, plantas e tapetes levados há cerca de cinco meses. Os furtos cessaram após a instalação de uma câmera.

Na mesma região, a atendente Maria Claudia Alves, 23, relatou esconder o celular por dentro da calça como um dos macetes para tentar escapar dos ladrões. Ela disse evitar passar pelo terminal à noite. A jovem contou ter sido roubada em dezembro por quatro homens que, armados, levaram seu celular.

Em Itaquera, na zona leste, uma área descampada na avenida José Pinheiro Borges, na altura do metrô, serve como ponto de uso de crack. Não há comércios ou residências próximos.

Um ambulante no entorno da estação Corinthians-Itaquera afirmou ser comum os usuários transitarem pelo local pedindo dinheiro ou dormindo sob as marquises. De acordo com o vendedor, em alguns momentos é possível contar cerca de 40 dependentes químicos por ali. Em Guaianases, três homens se preparavam para fumar crack em uma praça quando a reportagem passou.

Na outra ponta da cidade, no Jardim Tremembé, zona norte, a prefeitura e polícia entraram em ação após usuários de drogas serem agredidos por homens em motos. Moradores contam que uma forte presença de dependentes químicos foi notada desde o final de dezembro.

O empresário Raul Mônico, 58, proprietário de uma loja de doces, relata prejuízo de R$ 10 mil nos primeiros dias do ano. Um ladrão furtou os cabos e outros apetrechos da caixa de luz externa do estabelecimento. O caso ocorreu por volta das 22h30 do dia 31. Ao retornar no dia 2, alguns produtos que precisam de refrigeração já estavam estragados.

A imagem da câmera de segurança flagrou a ação de um único homem. “Isso é um transtorno, roubar fios, relógios, fusíveis. Fiquei sem luz o dia todo.”

De acordo com Raul, houve uma redução na presença dos dependentes químicos nos últimos dias. “Do mesmo jeito que apareceu, sumiu.”

De fato, a reportagem percorreu ruas no entorno do cemitério do Tremembé e não encontrou usuários.

A Prefeitura de São Paulo disse ter realizado uma reunião na última quarta-feira (8) com a presença de representantes da subprefeitura Jaçanã/Tremembé, da Polícia Militar, da Guarda Civil Metropolitana, do Conselho Tutelar e das secretarias de Direitos Humanos e Assistência Social sobre a situação no bairro.

“Desde outubro a administração municipal acompanha o caso e realiza, periodicamente, ações de busca ativa para identificar pessoas em situação de rua na região, oferecendo acolhimento na rede socioassistencial ou encaminhamento aos serviços de saúde”, afirma a gestão Ricardo Nunes (MDB).

Segundo a prefeitura, uma apuração está em curso sobre uma denúncia de suposto transporte de pessoas para o bairro. “Até o momento, não foram encontradas evidências que comprovem essa prática.”

Imagens que circulam nas redes sociais mostram homens em motos agredindo usuários que estavam no local. Um inquérito policial foi instaurado pelo 20º DP (Água Fria).

Sobre a situação da cracolândia no centro paulistano, a prefeitura diz que a cena aberta de uso está concentrada na rua dos Protestantes desde agosto de 2023. “A redução do fluxo no local deve-se ao aprimoramento das abordagens e encaminhamentos feitos pelas equipes de Saúde e Assistência Social, à ampliação das ações de Segurança Pública com o uso de câmeras e tecnologia e a estratégias para evitar que novas pessoas retornem.”

A gestão Nunes também afirma que, em 2024, equipes de Cidade Tiradentes, Guaianases e Itaquera realizaram cerca de 9.000 abordagens a pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social. “Dessas, mais de 1.700 aceitaram o acolhimento.”

MORADORES DE DIADEMA TAMBÉM VEEM AUMENTO

A situação é semelhante ao que ocorre no bairro Eldorado, em Diadema, cidade na região metropolitana que teve avanço na quantidade de dependentes químicos, de acordo com o Executivo local.

Uma moradora que pediu para não ser identificada relatou que os dependentes químicos chegaram em meados do Natal -seriam cerca de 30 pessoas. Segundo ela, os usuários brigam na rua e furtam comércios. Os produtos subtraídos são oferecidos no bairro.

Com medo, ela não tem saído com o celular na rua.

Um advogado de 36 anos também afirmou mudanças na rotina, como não parar em semáforo vermelho. Também não vai mais para a academia de bicicleta. Agora, só de carro. Mulheres e idosos cancelaram caminhadas que faziam no parque Fernando Vitor de Araújo, diz.

Em nota, a Prefeitura de Diadema confirmou ter criado um gabinete de crise para acompanhar a situação. Além do próprio gabinete do prefeito Taka Yamauchi (MDB), o grupo reúne representantes das pastas de Segurança Cidadã e a de Assistência Social e Cidadania.

O Executivo afirmou ter intensificado o patrulhamento e abordagens no bairro junto ao 24º Batalhão da Polícia Militar (Diadema) e da Polícia Civil.

PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress

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