RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Dois dias após ser ovacionada pelo público na pré-estreia do filme “Vitória” em São Paulo, a atriz Fernanda Montenegro, protagonista do longa dirigido por Andrucha Waddington, repetiu o feito na noite desta quarta (12), minutos antes da exibição da trama na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. A atriz, que subiu ao palco da sala de cinema de braços dados aos atores Alan Rocha e Thawan Lucas, também do elenco, foi aplaudida de pé.
“Este é nosso encontro de família por opção. Estamos no filme como artistas e criadores, vocês são nossa família de opção, que veio nos dar sua presença. E acho que vai ter muito aplauso no final”, disse a atriz de 95 anos. “Vitória” estreia nos cinemas nesta quinta (13).
Indicada ao Oscar de melhor atriz deste ano e figura aguardada por jornalistas e fãs em eventos públicos, a filha Fernanda Torres se recolheu ao papel de coadjuvante -ou de participação especial- no evento, que começou com atraso por conta da chuva. Apareceu no cinema discreta, quase na hora do filme começar, e apenas posou para fotos sorridente, ao lado do marido Andrucha Waddington. A estrela da noite era a sua mãe.
E o cineasta Breno Silveira, como lembrou Waddington, no palco lotado com os produtores do filme e o elenco. Silveira chegou a iniciar as filmagens de “Vitória”, mas faleceu logo no início do projeto, assumido pelo amigo diretor.
“É difícil aqui. No dia em que o Breno se foi, Paula [Fiúza, roteirista do filme e viúva de Silveira] me deu essa missão. Esta noite é dedicada a Breno Silveira e também a dona Joana, que se foi dois meses depois da filmagem acabar. É um filme feito com muito amor, pelo Breno e a para o Breno. Viva Breno Silveira!”, disse o diretor, com a emoção somada à de Paula, que chorou junto com o amigo: “Esse cara foi um herói. Não foi uma missão, foi uma condenação, mas só ele podia fazer. Essa noite é tão bonita como difícil”.
O filme “Vitória” é baseado na história real de Joana Zeferino da Paz, aposentada que filmou da janela de seu apartamento em Copacabana, Zona Sul do Rio, a ação de uma quadrilha de traficantes. O registro virou denúncia às autoridades e ao jornalista Fábio Gusmão -interpretado por Alan Rocha-, que narrou sua saga em reportagem e no livro “Dona Vitória da Paz”.
No filme, Joana é dona Nina, personagem de Fernanda Montenegro. O nome verdadeiro da aposentada só seria revelado após sua morte, em 2023. Dona Joana não irá assistir à sua vida na telona.
Dias após a conquista do Oscar de melhor filme internacional por “Ainda Estou Aqui”, o clima de continuação de festa reinou na pré-estreia carioca de “Vitória”. Na sessão lotada, o público da noite, que incluiu nomes como os atores Antônio Pitanga, Debora Lamm e o vice-prefeito Eduardo Cavaliere, celebrou a nova empreitada de alguns dos representantes brasileiros do filme premiado em Los Angeles.
Os dois filmes têm mesmo vários pontos em comum -de nomes do elenco, como Fernanda Montenegro, Alan Rocha e Thelmo Fernandes, à coprodução da Conspiração -em “Vitória”, a produtora tem a parceria de MyMama Entertainment e Globoplay e apoio da Globo Filmes-, passando pelo casamento de Waddington com Fernanda Torres. Todos “em casa”. Ou na tal família por opção, apontada por Fernanda Montenegro.
Lançado na onda de sucesso de “Ainda Estou Aqui”, “Vitória” já tem agenda para depois de sua estreia -foi escolhido como o filme de abertura do 27º Festival de Cinema Brasileiro de Paris, na França- e gera expectativa de premiações. Um novo Oscar a caminho e a justiça enfim feita às Fernandas? Seria talvez a última chance de Fernanda Montenegro, que foi indicada ao Oscar em 1999 por sua atuação em “Central do Brasil”, levar a estatueta.
Na última segunda, em São Paulo, a atriz deu sinais de que este filme pode ser o último de sua carreira – “Na idade em que estou, posso até continuar fazendo minhas leituras em palcos, mas cinema pede físico, pede fôlego”, disse a atriz ao público. Bem, a vida presta. A vida anda. E já se sabe que Oscar não é um sonho impossível.
PAULA LACERDA / Folhapress