Quem é Castro Alves, poeta brasileiro citado em diversas músicas da MPB?

Você sabe quem é Castro Alves? Poeta brasileiro presente nas letras de diversas canções na nossa MPB?

“E fiquei radiante de alegria

Quando cheguei na Bahia

Bahia de Castro Alves, do acarajé

Das noites de magia, do candomblé”

Aquarela Brasileira – Silas de Oliveira, 1964

“A praça Castro Alves é do povo
Como o céu é do avião
Um frevo novo, um frevo, um frevo novo
Todo mundo na praça e muita gente sem graça no salão”

Um Frevo Novo – Caetano Veloso, 1972

“Meu tempo escutou, vindo lá do passado,

Um poeta que o tempo guardou.

Meu tempo é apressado, meu tempo é danado:

Meu tempo tudo mudou”

Meu Tempo e Castro Alves – Toquinho e Gianfrancesco Guarnieri, 1973

“Salve, salve, salve a Praça Castro Alves

salve a liberdade o que há de novo

arrebenta a corda que o Bloco do Povo

transborda energia por toda a cidade” 

Um Bloco Novo – Moraes Moreira, 1986

Cantado porCaetano, Toquinho, Moraes MoreiraouMartinho da Vilaentoando a clássica “Aquarela Brasileira” – que Silas de Oliveira – compôs como samba enredo para o Império Serrano em 1964 – Castro Alves é muito reverenciado em nossa música.

Mas afinal, quem foi Castro Alves?

Nascido Antônio Frederico de Castro Alves, em Muritiba, na Bahia, em 14 de março de 1847, Castro Alves era filho do médico Antônio José Alves, mais tarde professor na Faculdade de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro, falecida quando o poeta tinha 12 anos, e filha de um dos grandes heróis da Independência da Bahia. 

Por volta de 1853, ao mudar-se com a família para a capital, Castro Alves estudou no colégio de Abílio César Borges, onde foi colega do também escritor e político Rui Barbosa, quando já demonstrava vocação apaixonada e precoce para a poesia.

Mudou-se em 1862 para o Recife, onde concluiu os preparatórios e – depois de duas vezes reprovado – matriculou-se finalmente na Faculdade de Direito, em 1864, logo integrado na vida literária acadêmica e admirado graças aos seus versos. 

Em 1866, Castro Alves perdeu o pai e, pouco depois, iniciou uma apaixonada ligação amorosa com a atriz portuguesa Eugênia Câmara, dez anos mais velha, que desempenhou importante papel em sua lírica e em sua vida.

Nessa época, entrou em uma fase de grande inspiração e tomou consciência do seu papel de poeta social. Escreveu o drama “Gonzaga” e, em 1868, transferiu-se para o sul do país em companhia da amada, matriculando-se no 3º ano da Faculdade de Direito de São Paulo, novamente na mesma turma de Rui Barbosa. 

No fim do ano, “Gonzaga” foi representado com êxito enorme e Castro Alves separou-se de  Eugênia Câmara. Durante uma caçada, a descarga acidental de uma espingarda lhe feriu o pé esquerdo, que, sob ameaça de gangrena, foi, afinal, amputado no Rio, em meados de 1869. 

Castro Alves já sofria com  de hemoptises (eliminação de sangue do trato respiratório pela tosse) desde os dezessete anos, quando escreveu a obra “Mocidade e Morte”, cujo primeiro título original era “O Tísico”, estava sofrendo, com a saúde definitivamente comprometida. 

De volta à Bahia, o poeta passou grande parte do ano de 1870 em fazendas de parentes, em busca de melhoras para a tuberculose. Em novembro, saiu seu primeiro livro, “Espumas Flutuantes”, único que chegou a publicar em vida, recebido muito favoravelmente pelos leitores.

Daí por diante, apesar do declínio físico, Castro Alves produziu alguns dos seus mais belos versos, animado por um amor platônico pela cantora italiana Agnese Trinci Murri. 

O poeta faleceu em 1871, aos 24 anos, sem ter podido acabar a maior obra a que se propusera: “Os Escravos”, uma série de poesias em torno do tema da escravidão. Ainda em 1870, em uma das fazendas em que repousava, havia completado “A Cachoeira de Paulo Afonso”, que saiu em 1876, e que é parte da série.

 A estátua em homenagem ao poeta Castro Alves, na praça que leva seu nome, em Salvador | Imagem: Reprodução

A poesia de Castro Alves

Duas vertentes se distinguem na poesia de Castro Alves: a feição lírico-amorosa, mesclada de forte sensualidade, e a feição social e humanitária, em que alcança momentos de brilhantes de eloquência épica. 

Como poeta lírico, caracteriza-se pelo vigor da paixão, a intensidade com que exprime o amor, como desejo, encantamento da alma e do corpo, “superando o negaceio de Casimiro de Abreu, a esquivança de Álvares de Azevedo, o desespero acuado de Junqueira Freire“, como cita a Academia Brasileira de Letras, da qual Castro Alves é Patrono da Cadeira número 7, por escolha do fundador Valentim Magalhães.

“A grande e fecundante paixão por Eugênia Câmara percorreu-o como corrente elétrica, reorganizando-lhe a personalidade, inspirando alguns dos seus mais belos poemas de esperança, euforia, desespero, saudade. Outros amores e encantamentos constituem o ponto de partida igualmente concreto de outros poemas”.

Enquanto poeta social, extremamente sensível às inspirações revolucionárias e liberais do século XIX, Castro Alves, na linhagem de Victor Hugo, um dos seus mestres, viveu com intensidade os grandes episódios históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o anunciador da Abolição e da República, devotando-se apaixonadamente à causa abolicionista, o que lhe valeu a antonomásia de “Cantor dos escravos”. 

A sua poesia se aproxima da retórica, incorporando a ênfase oratória à sua magia. “No seu tempo, mais do que hoje, o poeta exprimia o gosto ambiente, cujas necessidades estéticas e espirituais se encontram na eloquência dos poetas. Em Castro Alves, a embriaguez verbal encontra o apogeu, dando à sua poesia poder excepcional de comunicabilidade.”, conta o site da Academia.

“Dele ressalta a figura do bardo que fulmina a escravidão e a injustiça, de cabeleira ao vento. A dialética da sua poesia implica menos a visão do escravo como realidade presente do que como episódio de um drama mais amplo e abstrato: o do próprio destino humano, presa dos desajustamentos da História. Encarna as tendências messiânicas do Romantismo e a utopia libertária do século.”. 

O negro, escravizado, misturado à vida cotidiana em posição de inferioridade, dificilmente se podia elevar a objeto estético, o que ele alcançou, no entanto, numerosas vezes. Surgiu primeiro à consciência literária como problema social, e o abolicionismo era visto apenas como sentimento humanitário pela maioria dos escritores que até então trataram desse tema. “Só Castro Alves estenderia sobre o negro o manto redentor da poesia, tratando-o como herói, como ser integralmente humano.”.

Deu pra entender por que então Castro Alves é tão presente na nossa música e na nossa história, né?

Fonte: Academia Brasileira de Letras

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