SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O Fluminense terminou sua participação no Campeonato Carioca ontem sendo vice-campeão para o Flamengo. Se no primeiro jogo o Tricolor Carioca impôs dificuldades ao Rubro-Negro, no segundo o rival foi amplamente superior. A equipe de Mano Menezes sentiu falta do seu maestro, Paulo Henrique Ganso, afastado dos gramados por causa de uma miocardite.
O problema no coração não está entre os mais comuns no futebol, mas também não é caso raro no esporte. Reintegrado ao CT Carlos Castilho, Ganso, inclusive, passou por um procedimento no local, a fim finalizar de vez os preparativos para o sonhado retorno aos gramados. Segundo o Fluminense, Ganso deve estar à disposição nas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro.
Com intuito de entender melhor como funcionam os casos de miocardite no esporte, o UOL conversou com o Dr. Erivelton Nascimento, membro titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), do Departamento de Estimulação Cardíaca Artificial (DECA) e Professor Assistente da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O QUE É MIOCARDITE
Erivelton explicou, de maneira sucinta, em quais locais do coração a miocardite costuma causar problemas. Em seguida, confirmou o prognóstico inicial dos médicos do Fluminense, que acreditam que Paulo Henrique Ganso desenvolveu o problema após contrair uma forte gripe.
“A miocardite é uma inflamação do músculo cardíaco. Essa inflamação pode comprometer a função do coração e assim influenciar sua capacidade de bombear sangue de maneira eficiente para o corpo, bem como aumentar a probabilidade do surgimento de arritmias cardíacas. Dentre as principais causas temos as infecções virais, como as provocadas pelos vírus Coxsackie, influenza e até mesmo o SARS-CoV-2 (causador da covid-19), pode ser desencadeada por reações autoimunes, uso de algumas drogas, toxinas e até por infecções bacterianas”, disse o médico, antes de concluir:
“O diagnóstico é feito inicialmente pelos achados clínicos, ao exame físico, atrelados aos exames laboratoriais, eletrocardiograma (ECG), ecocardiograma e exames de sangue para detectar marcadores inflamatórios, enzimas cardíacas e marcadores de insuficiência cardíaca. A ressonância magnética cardíaca também é um exame que pode ser usado para detectar a inflamação no coração. Em casos específicos, pode ser necessária uma biópsia endomiocárdica para confirmar a condição”, disse Erivelton Nascimento.
O ÚLTIMO PROCEDIMENTO DE GANSO NO FLUMINENSE
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O Tricolor das Laranjeiras não divulgou, de maneira específica, detalhes sobre o procedimento realizado por Paulo Henrique Ganso, mas Erivelton têm alguns palpites sobre o que aconteceu na última sexta-feira. Ele explica que o camisa 10 do Fluminense pode ter arritmias como efeito colateral da miocardite, algo que deveria ser corrigido em processo cirúrgico pouco invasivo.
“Pacientes com miocardite apresentam uma probabilidade maior de desenvolver arritmias cardíacas. As arritmias podem surgir tanto pelas alterações elétricas que a inflamação pode gerar no coração ou mesmo pelas cicatrizes deixadas pela miocardite. Esse é um possível procedimento realizado pelo atleta. Estes procedimentos são chamados de ablação por cateter. São procedimentos minimamente invasivos, que visam neutralizar pequenas áreas do tecido cardíaco que estão causando a arritmia, onde se insere um cateter fino e flexível por um vaso sanguíneo, geralmente na virilha, guiado até o coração. Onde se identifica o foco da arritmia e assim pode-se realizar a ablação, que pode ser feita por distintas técnicas, dentre elas o aquecimento do tecido (radiofrequência) ou resfriamento do tecido (crioablação)”, disse Erivelton Nascimento.
“Vale ressaltar que muitos casos de miocardite evoluem de forma autolimitada e com resolução espontânea. Desta forma o tratamento varia conforme a gravidade do quadro. Em casos leves o repouso e suporte clínico são suficientes. Em casos mais graves, em que ocorre comprometimento da função cardíaca, pode ser necessário o uso de medicamentos como beta-bloqueadores, inibidores da enzima de conversão de Angiotensina (ECA) e diuréticos.”, analisou o médico.
A cautela dos procedimentos deve ser ainda maior na hora de retornar às atividades. Ganso está há mais de dois meses afastado dos gramados e ficará outras duas ou três semanas antes de reestrear pelo Fluminense. O tempo estimado está dentro daquilo que Erivelton Nascimento passa aos seus pacientes.
“A volta à prática de atividades físicas deve ser extremamente cautelosa. De acordo com Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) atletas competitivos ou recreacionais portadores de miocardite ativa não devem retornar as atividades antes do período de convalescência, e este período varia de 3 a 6 meses após avaliação rigorosa da função cardíaca, ausência de arritmias e ausência de inflamação ativa.”
SINTOMAS, PREVENÇÃO E CURA DA MIOCARDITE NO ESPORTE
Ganso já está em processo de retorno e não deve mais ter problemas com a miocardite, mas isso não significa que outros não possam enfrentar os perigos da doença. Por isso, Erivelton explicou um pouco mais sobre os sintomas e prevenção desta condição.
“Os sintomas variam podendo ser leves ou graves, com casos extremos podendo levar à morte súbita. Dentre os principais sintomas temos: dor no peito, palpitações, fadiga, falta de ar, febre e, em casos mais severos, sinais de insuficiência cardíaca, como inchaço nas pernas e dificuldade respiratória intensa”, frisou.
“Sim, é possível (prevenir a miocardite). A principal forma de prevenção é evitar infecções virais através da vacinação e cuidados básicos, como higiene e evitar contato com pessoas doentes. Além disso, atletas devem respeitar o período de recuperação de infecções virais, como gripes e resfriados, e evitar treinar intensamente enquanto ainda estiverem doentes.”
GUILHERME XAVIER / Folhapress