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Brancos ganham mais até em profissões de maioria negra, diz estudo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O salário está entre os principais indicadores de desigualdade no mercado de trabalho. Estudos apontam que homens e brancos tendem a ser mais bem remunerados do que mulheres e negros em cargos e funções semelhantes no Brasil, por exemplo.

Novo levantamento do Cedra (Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais) mostra que, mesmo em profissões majoritariamente ocupadas por funcionários negros, trabalhadores brancos são mais bem remunerados. A desigualdade salarial se agrava em ocupações predominantemente brancas.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (21), Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.

De acordo com Cristina Lopes, diretora executiva do Cedra, o conceito de ocupações predominantemente brancas ou negras foi elaborado com base na Classificação de Ocupações para Pesquisas Domiciliares, utilizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O estudo analisou dez anos de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, de 2012 a 2023, a partir dos recortes de gênero e raça.

Lopes explica que grupos de ocupações com 60% ou mais de trabalhadores de uma determinada cor-raça foram classificados como predominantemente negros ou brancos.

Fazem parte do primeiro grupo profissões como carpinteiros, trabalhadores de serviços domésticos e trabalhadores da construção de edifícios, de minas e de pedreiras. No segundo grupo estão analistas de sistemas, arquitetos, dentistas, economistas, engenheiros, juízes e médicos.

Segundo o levantamento, o rendimento médio de profissionais pretos e pardos em ocupações predominantemente negras foi equivalente a 74,4% do rendimento médio de trabalhadores brancos entre 2012 e 2023.

Enquanto em 2012 trabalhadores negros ganhavam em média R$ 577,25 em profissões majoritariamente negras, funcionários brancos ganhavam R$ 675,79. Em 2023, a média salarial de profissionais pretos e pardos subiu para R$ 1.524,10, enquanto a dos funcionários brancos foi para R$ 1.808,46 nas mesmas ocupações.

Para Daniele Mattos, sócia cofundadora da Consultoria Indique, a diferença no salário dos trabalhadores está relacionada ao racismo, muitas vezes institucionalizado nos processos de contratação, e aos vieses inconscientes —preconceitos e estereótipos ou pensamentos tendencioso sobre determinado grupo.

“Para contratadores, é como se a intelectualidade do branco fosse mais valorizada do que a do negro. Se houver um carpinteiro negro e um branco com as mesmas qualificações disputando uma posição, a chance de o branco ser admitido é muito maior. Há uma ideia de que essa pessoa vai trazer mais valor ao negócio e desenvolver pensamentos mais complexos para executar aquele trabalho”, afirma.

Já o rendimento de pessoas negras em profissões ocupadas majoritariamente por pessoas brancas é ainda menor e correspondeu, em média, a 64,2% do rendimento de trabalhadores brancos no mesmo período.

Em 2012, pretos e pardos ganhavam, em média, 65,6% do rendimento dos brancos em ocupações majoritariamente brancas. Enquanto negros recebiam cerca de R$ 2.347,05, brancos ganhavam R$ 3.580,32 pelo mesmo trabalho.

Em 2023 houve uma redução da diferença salarial e o rendimento de negros passou a representar 82,6% dos brancos. Os salários foram para R$ 5.510,48 e R$ 6.672,18, respectivamente.

Outro fator que influencia nessa desigualdade, segundo Daniele Mattos, é o “networking”, ou seja, a formação da rede de contatos do profissional. Como essas redes são formadas majoritariamente por pessoas semelhantes entre si, a tendência de acesso desigual para profissionais negros a cargos de liderança ou com salários mais altos é mantida.

O racismo institucional também é apontado pela especialista como uma das causas para a desigualdade. Durante uma entrevista de emprego, determinados tipos de comportamentos, gestos ou falas, distinguem candidatos negros e brancos. Vestimentas, por exemplo, “passam a ser lidos como sinônimos de qualidade profissional, quando não são”, afirma.

Ainda segundo o comparativo, o rendimento das ocupações predominantemente negras, em geral, representa 22,4% do rendimento dos trabalhos majoritariamente brancos no período analisado.

Em 2012, o rendimento das ocupações predominantemente negras representava em média 19,4% do rendimento das ocupações predominantemente brancas. Em 2023, o percentual aumentou para 26%. O salário de negros foi de R$ 611,33 em 2012 para R$ 1.612,83 em 2023, enquanto o de brancos foi de R$ 3.151,91 para R$ 6.193,19 nos respectivos anos.

A desigualdade diminuiu ao longo dos anos, mas continuou desfavorecendo muito as ocupações predominantemente negras, observa Lopes.

PAOLA FERREIRA ROSA E GUSTAVO LUIZ / Folhapress

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