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Jovem brasileira que combate pobreza menstrual discursará em Harvard

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando estava no ensino médio e fundou o Fluxo Sem Tabu, em 2020, a paulistana Luana Escamillo, hoje com 21 anos, não imaginava que o trabalho à frente da ONG se tornaria sua principal atividade profissional.

Mais impensável seria supor que, cinco anos após sua criação, o projeto teria impactado a vida de 26 mil pessoas com doações de absorventes e kits de higiene, além de assegurar à jovem o posto de embaixadora do Sudeste na Brazil Conference de 2025, em Boston (EUA).

Neste mês, Luana subirá ao palco do tradicional evento realizado na Univerisdade Harvard e no MIT para contar sua trajetória no terceiro setor e jogar luz sobre a pobreza menstrual, problema que afeta uma em cada quatro adolescentes no país.

“Ir para Harvard é uma conquista não só para mim e para o Fluxo Sem Tabu, mas para nossa causa, que, ao ser levada para um palco global, faz com que as pessoas enxerguem sua importância”, diz a estudante de publicidade e propaganda, que se apresenta no dia 12 de abril.

“A pobreza menstrual vai muito além da falta de absorventes. É também falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento, com consequências na esfera socioeconômica.”

O Fluxo sem Tabu já distribuiu, em todas as regiões do país, 365 mil absorventes, mais de 8.400 sabonetes, 4.620 calcinhas e 7.380 lenços umedecidos, com apoio logístico de ONGs parceiras.

“Trabalhamos em várias frentes. De nada adianta a mulher receber absorvente se ela não tem calcinha. Muita gente também pergunta: por que não doar um coletor? Ele não é uma solução adequada se a pessoa não tem acesso à água limpa”, acrescenta a jovem.

Outras linhas de ação envolvem produção de materiais educativos e capacitação de moradoras de Paraisópolis por meio de curso de moda gratuito oferecido pela Faap (Fundação Armando Álvares Penteado).

A ONG planeja ainda equipar banheiros públicos em comunidades vulneráveis para melhor atender às necessidades das mulheres. A primeira ação nesse sentido teve início no ano passado, no Pico do Jaraguá, na capital paulista, mas precisou ser interrompida temporariamente por falta de verba.

Motivação central para o projeto embrionário é o dado de que 713 mil meninas brasileiras vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em suas residências, de acordo com estudo do Fundo de População das Nações Unidas e Unicef.

Além disso, a ONG instalou uma máquina automática (no estilo vending machine) para retirada de absorventes no Pavilhão do G10 Favelas, em Paraisópolis.

O equipamento é abastecido mensalmente com 800 pacotes, destinados a 400 beneficiárias, que recebem cartões para liberar os itens no leitor digital.

Uma delas é Maria da Conceição Oliveira, 39. A coordenadora de limpeza relata um alívio no orçamento desde que passou a utilizar o serviço.

“Antes, tinha que comprar na farmácia todo mês, e era caro. Agora, retiro dois pacotes. Sobra mais dinheiro para remédio, comida”, diz ela, que lembra da mãe improvisando absorventes com pedaços de pano.

Para Luana, a pauta da dignidade menstrual progrediu consideravelmente no Brasil nos últimos anos.

“O Fluxo cresceu principalmente graças a outros jovens que compartilharam muito sobre o tema e conseguiram levá-lo para escolas e universidades, em projetos acadêmicos e TCCs. Com relação à distribuição de absorventes, tivemos vários avanços também.”

Exemplo disso é o programa Dignidade Menstrual, criado em 2023 pelo governo federal, que permite a retirada de absorventes em mais de 31 mil farmácias credenciadas pelo programa Farmácia Popular, em cerca de 4.600 municípios.

O público-alvo inclui 24 milhões de brasileiros entre 10 e 49 anos. São atendidas pessoas em situação de rua, em presídios ou inscritas no CadÚnico com renda de até R$ 218 por pessoa, além de estudantes da rede pública também cadastradas no CadÚnico, com renda familiar de até meio salário mínimo (R$ 706) por pessoa.

“Houve um grande avanço, mas a política ainda é falha. Quando falamos de locais de difícil acesso, será que realmente as pessoas que moram em comunidades ribeirinhas isoladas estão conseguindo retirar o absorvente? Então, ainda falta estudo, falta dado. É por isso que nossa luta continua”, afirma Luana.

VICTÓRIA PACHECO / Folhapress

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