Tarifas de Trump reacendem alerta global e colocam Brasil em posição estratégica

O novo pacote de tarifas anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reacendeu preocupações em todo o mundo. Diante disso, o Jornal Novabrasil ouviu diferentes especialistas para entender os efeitos dessas medidas em setores estratégicos da economia nacional.

Logística, frete e agronegócio: os impactos ocultos

Para o professor José Carlos Lima Júnior, da Harven Agribusiness School, além do impacto direto sobre produtos como açúcar, café e celulose, há uma preocupação ainda maior: o efeito sobre a cadeia logística global. “A história nos mostra que movimentos assim, como no primeiro mandato de Trump, impulsionaram a alta do frete marítimo, afetando toda a cadeia produtiva”, afirmou.

Segundo ele, mais de 50% dos navios de contêiner são controlados por empresas chinesas. Se esses embarcadores forem taxados, os custos do frete devem subir, o que “socializa o impacto tarifário com todos os países, inclusive o Brasil”.

Além disso, o professor alertou para a disparidade tributária no comércio de etanol entre Brasil e EUA, onde “o etanol americano entra aqui com uma carga de impostos de 19%, enquanto os EUA aplicam apenas 2,5% sobre o nosso produto”.

Geopolítica e retaliações: o novo tom das negociações

O cientista político e professor de relações internacionais Leonardo Trevisan destacou o tom imperial do anúncio. “Trump falou como imperador. Disse que será gentil, mas que quem não se conformar enfrentará consequências. O recado é: sentem-se, absorvam e venham negociar”, observou.

Trevisan vê o movimento como uma estratégia clara para forçar negociações bilaterais, onde os EUA negociam com países individualmente, usando seu peso econômico. “É o lobo conversando com o cordeiro”, comparou.

O professor lembrou ainda que os principais alvos das tarifas são China, Vietnã e Camboja — países que abrigam cadeias produtivas descentralizadas da indústria chinesa — mostrando o foco norte-americano em cercar o poder econômico asiático.

Brasil escapa do pior, mas precisa estar atento

Já o economista Bruno Cotrin, da casa de análise Top Gain, apontou que o Brasil foi um dos menos afetados diretamente, com uma tarifa média de 10%, contra os 34% da China e 20% da União Europeia. “Dos males, o menor. Isso pode até abrir espaço para negociações comerciais mais vantajosas com os EUA”, disse.

Cotrin ressaltou, no entanto, que setores como autopeças, aço e mineração devem sentir os efeitos. “O Brasil foi o segundo maior exportador de aço para os EUA em 2024. E, mesmo com tarifas menores, há o risco de retração na demanda.”

Ele também citou a bancada do agronegócio, que agiu rapidamente para aprovar medidas de retaliação no Congresso, temendo possíveis prejuízos à exportação de carnes, grãos e sucos.

Entre riscos e oportunidades

O consenso entre os especialistas é claro: o tarifaço de Trump tem efeitos diretos e indiretos, tanto na economia brasileira quanto no comércio internacional. Ainda que o Brasil não esteja no centro do alvo, as mudanças nas rotas de produção, no custo do frete e nas relações diplomáticas podem trazer repercussões importantes a médio prazo.

Neste cenário, o país precisa estar preparado para negociar, adaptar-se às novas dinâmicas comerciais e, principalmente, proteger setores estratégicos como o agronegócio e a indústria.

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