O cantor e compositor Alexandre Magno Abrão, mais conhecido por seu apelido e nome artístico Chorão, nos deixou muito cedo – aos 42 anos, em 2013 – mas seu legado e sua memória permanecem vivos e eternos. Por isso, vamos relembrar a história da música “Proibida pra Mim”, no dia em que o vocalista da banda Charlie Brown Jr. completaria 55 anos.
História da Música “Proibida pra Mim”
A história da música “Proibida pra Mim” se mistura com a história da vida do seu compositor, Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., banda que lançou essa música no seu álbum de estreia: “Transpiração Contínua Prolongada”, em 1997.
Isso porque essa música – que é um dos maiores sucessos da banda e do rock nacional – é baseada na história de amor entre Chorão e Graziela Gonçalves, sua esposa até 2012, pouco tempo antes de Chorão falecer.
Chorão nasceu em São Paulo e mudou-se para Santos, no litoral paulista, antes de completar 20 anos. Foi lá que ele conheceu – primeiro o baixista Champignon – e depois o baterista Renato Pelado e os guitarristas Marcão Britto e Thiago Castanho e formou a banda que, em 1992, viria a se chamar Charlie Brown Jr.
Foi também em Santos que Chorão passou a se interessar pela prática do skate, chegando a figurar nas melhores posições do ranking de vários campeonatos brasileiros. Foi no skate também que ele recebeu o apelido que virou seu nome artístico:
“A galera do skate sempre bota apelidos e tal, e eu era meio tímido, ficava só olhando. Então, passou um cara um dia e falou, ‘Pô, não chora, anda de skate’. Aí passou outro, ‘Não chora, anda de skate’. Aí pegou Chorão. Eu comecei a andar, mas o Chorão ficou”, contou Chorão em uma entrevista ao “Programa do Jô”.

Em 1993, a banda gravou sua primeira demo e começou a tocar no circuito underground de Santos e São Paulo e fazer shows em vários campeonatos de skate.
Pouco tempo depois, em 1994, Chorão conheceu Graziela Gonçalves e ficou muito interessado nela.
Acontece que – antes de conhecer a futura companheira – Chorão era um cara muito conhecido na cidade por ser mulherengo e também encrenqueiro. Em seu livro “Se não eu, quem vai fazer você feliz?: Minha história de amor com Chorão“, de 2018, Graziela descreve o Chorão dessa forma:
“Ele era diferente de tudo que a cidade já tinha visto. Imagine um cara bonito, com cabelo comprido, baita corpão, que andava pelas ruas sem camisa, com skate no pé, fazendo manobras a cada esquina, carregando uma caixa de som no ombro e sem nenhum pudor de chamar atenção. Os caras morriam de inveja e a mulherada pirava. O currículo do cara já incluía um casamento que não tinha dado certo, um filho pequeno e uma confusão a cada fim de semana. E ele só tinha 20 e poucos anos. Dá para entender o meu medo?”
Uma amiga da Graziela namorava o irmão do Chorão e queria apresentar os dois, mas ela negava, em parte por causa dessa fama que o Chorão tinha lá em Santos. A Grazi não era de uma família rica e tinha a impressão de que o Chorão só gostava de patricinhas (ele gostava mesmo, aliás escreveu diversas músicas sobre isso: “Tudo que ela quer, o pai dela dá Desde casa em Ubatuba, apê no Guarujá”).
Então, a Grazi não quis saber do Chorão. Até que um dia, ela estava caminhando com a mãe entre os Canais 4 e 5 em Santos, e o Chorão passou por ela. Segundo ela descreve no livro, foi “aquele momento Doug Funny e Paty Maionese” (casal fofo e apaixonado da série “Doug Funny”, dos anos 90).

Apesar desse encontro, não rolou nada entre eles. Chorão e Grazi chegaram a se encontrar em uma festa, ele a convidou para ver um show da banda dele, mas acabou não dando certo e eles só foram ter a primeira conversa mesmo em um lugar chamado World Rock, lá em Santos.
Esse encontro inspirou o primeiro verso de “Proibida pra Mim”: assim que ela entrou nessa balada, viu um cara alto encostado no balcão de costas para ela. Sem saber quem era, Grazi conta que ela não sabia quem era, mas ele tinha o cabelo desalinhado na altura do ombro e uma mecha vermelha que brilhava com a luz que vinha na direção contrária.
“Sem pensar, num impulso inexplicável, fui direto até ele, peguei naqueles fios vermelhos e disse: ‘- Nossa, o seu cabelo é vermelho fluorescente!’”, conta Grazi.
Quando o cara se virou, era o Chorão. É daí que surgiu o verso: “Ela achou o meu cabelo engraçado”. Os dois ficaram conversando a madrugada inteira, falaram sobre cinema, música… e quando deu quatro horas da manhã a Grazi disse que precisava ir embora. Mesmo o Chorão insistindo muito, ela “Disse que não podia ficar”.
Chorão pediu o telefone da Grazi, mas ela não quis dar porque tinha um namorado, e por isso não podia ficar (“Proibida pra mim, no way”). Acontece que era um namoro que já não estava muito legal e – quando o namorado foi buscá-la na balada, a primeira coisa que Grazi fez foi ter uma conversa com ele e terminar o namoro.
Isso aconteceu em um sábado e no domingo o Chorão conseguiu o telefone da Grazi e ligou pra casa dela. Estava rolando um ensaio do Charlie Brown Jr. e no intervalo ele convidou ela para comer uma pizza, coisa que não aconteceu.
Nessa época, a banda ainda não tinha conquistado muito espaço, fazia um som mais pesado, inspirado na banda norte-americana de heavy metal Pantera, e o Chorão cantava letras em inglês.
A história de amor por trás de “Proibida pra Mim”
Passaram-se alguns dias, até que o Chorão resolveu ligar para a Grazi dizendo que precisava conversar com ela e pedindo para que ela fosse até a casa dele. Ele queria abrir o jogo com ela (“Eu me flagrei pensando em você e em tudo que eu queria te dizer”) e foi assim que aconteceu:
Eles sentaram no sofá e a conversa foi assim: “Eu sei que a minha fama nessa cidade não é das melhores e estou te falando tudo isso porque eu quero que você saiba bem quem eu sou antes de qualquer coisa. Estou contando tudo isso porque você é diferente de todas as meninas que eu já conheci e eu quero começar as coisas direito com você. Eu te acho maravilhosa, você é linda, é inteligente, você é poesia em movimento.”.
Foi assim que Chorão declarou que estava apaixonado por Grazi e ali no sofá da casa dele rolou o primeiro beijo do casal, que já começou a namorar naquele instante, ficando juntos até 2012.
A Graziela revela também que o Chorão tinha um escudo de bad boy, de cara malvadão e encrenqueiro, mas por trás desse escudo havia um homem muito sentimental. Então o título “Proibida pra Mim” também tem a ver com a impressão que ele tinha de que ela não ia dar bola para um cara com aquela fama, e que ia preferir um cara mais certinho. Por isso, ele acabou fazendo de tudo o que podia para conquistá-la.
Chorão foi inserindo a companheira dentro do universo do skate, em que ele vivia desde quando morava em São Paulo, e uma das coisas que ele explicou para ela é que a galera da turma dele no skate tinha o hábito a turma dele de colocar um “on” no final das palavras para transformar aquilo em piadas internas. Por isso ele passou a chamá-la de “Grazon” e por isso que o título original da música é “Proibida pra Mim (Grazon)”.
Antes de escrever essa música, entre 1995 e 1996, a banda Charlie Brown Jr. passou por uma mudança de direcionamento musical: saíram daquele som mais pesado para um som com mais groove e mais balanço, sendo a própria Grazi determinante para essa mudança, pois foi ela quem apresentou pro Chorão o disco “Usuário” da banda Planet Hemp.
Tempos depois, o Charlie Brown Jr. acabou abrindo um show do Planet Hemp em Santos e foi no dia desse show que o Chorão entendeu que eles precisavam escrever sobre a realidade deles e não tentar imitar uma realidade de fora, americana, que é o que a banda vinha tentando fazer.
Foi a partir daí que ele decidiu parar de escrever músicas em inglês e começar a fazer músicas em português, produzindo intensamente. Chorão escrevia letras longas em qualquer pedaço de papel que encontrava. “Proibida pra Mim”, por exemplo, ele escreveu em uma caixa de pizza como conta o filho de Chorão no documentário “Marginal Alado”, de 2021.
Chorão fez uma surpresa pra Grazi e não quis mostrar “Proibida pra Mim” para elaaté que a música estivesse pronta: “O Alê fez um grande mistério enquanto estava compondo, tinha que ser uma surpresa. Na hora em que ele me mostrou, a gente estava dando uma volta pela avenida da praia com a minha vespa, ele guiando e eu na garupa. Ele falou para eu pegar o discman no bolso dele, era o Alê expressando – em forma de melodia – o quanto queria me fazer feliz. Foi um dos instantes mais felizes da minha vida.”.
Com essa e outras composições, já com um novo estilo, a fita demo do Charlie Brown Jr. chegou ao produtor Tadeu Patolla, que gravou uma nova fita da banda, que foi parar nas mãos do Rick Bonadio, um dos principais produtores do rock nacional nos anos 90, que tinha no currículo o fato de ter produzido os Mamonas Assassinas.
Charlie Brown Jr. conseguiu então um contrato com a gravadora Virgin e lançou seu primeiro disco “Transpiração Contínua Prolongada”, em 1997, tornando-se um fenômeno nacional e transformando o cenário musical da época.
Versão de Zeca Baleiro
A regravação mais icônica de “Proibida pra Mim” é de Zeca Baleiro, que a incluiu em uma versão voz e violão no seu álbum “Líricas”, de 2000, e o maranhense na época foi muito criticado pelos fãs do rock por sua belíssima versão.
Zeca Baleiro foi, inclusive, vaiado quando tocava “Proibida pra Mim” em 2001, no Festival Planeta Atlântida, em Florianópolis. Acontece que, nesta mesma noite, quem tocava no mesmo festival era o Charlie Brown Jr. e o Chorão chamou o Zeca no palco para cantar a música com ele e mostrar o quanto ele deveria ser respeitado pelos fãs de rock.
Em 2003, Chorão e a Graziela se casaram e – por sugestão da mãe dela – o casal convidou Zeca Baleiro para tocar “Proibida para Mim” durante a cerimônia. Deve ter sido lindo, né?
Essa foi a história da música “Proibida para Mim”, do Charlie Brown Jr., no dia do aniversário de Chorão.



