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Em nova versão, peça ‘Cartas Libanesas’ tem voz feminina na saga da imigração

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Inspirado pelo avô, há dez anos o ator Eduardo Mossri ocupa palcos nacionais e internacionais com o monólogo “Cartas Libanesas”, que retrata as dores e as alegrias da imigração no Brasil.

O espetáculo solo atrai grupos de imigrantes libaneses e descendentes interessados em rever as sagas familiares, matar saudades e até mesmo entrar em contato com aromas e pronúncias árabes -é comum Mossri receber pedidos para falar a língua dos antepassados nos diálogos com o público.

Eduardo Mossri e Ana Lúcia Costa contracenam em ‘Cartas Libanesas’ Divulgação A imagem mostra um homem e uma mulher em pé, ambos segurando cartas. Na nova montagem, que celebra uma década da estreia, Miguel, o masquate interpretado por Mossri, não está mais sozinho no palco, carregando a sua mala-armarinho. A voz feminina conquistou espaço na encenação, por meio da presença de Adibe, a mulher do imigrante.

“Cartas Libanesas: Ayuni” mostra o ponto de vista da libanesa que ficou no país de origem, grávida, enquanto o marido desbravava terras brasileiras em busca de sucesso financeiro.

“É muito importante a gente ouvir essa mulher. Há momentos em que sinto que é quase como se estivéssemos a escutando no momento de intimidade”, diz a atriz Ana Cecília Costa, que interpreta Adibe.

A personagem revela, por exemplo, que também sente desejos sexuais no período em que está distante do marido. Porém, diferentemente do homem, ela não pode exercitar o erotismo.

Costa afirma que a personagem representa mulheres fortes, telúricas, ligadas à terra, à família, e também instruídas, fãs da literatura e líderes de suas casas.

“A força de muitas famílias está nelas”, diz. “Vejo muita referência do Nordeste nessas mulheres também”, completa a atriz, nascida em Jequié, na Bahia.

O primeiro encontro dos dois atores aconteceu na novela “Órfãos da Terra” (2019), de Duca Rachid, que abordou o drama dos refugiados. Como no espetáculo, Costa e Mossri interpretaram personagens árabes na TV.

Rachid assina o texto do espetáculo, em uma adaptação da dramaturgia original de José Eduardo Vendramini. Ela, Mossri e uma das diretoras, Georgette Fadel, são descendentes de libaneses e, nos bastidores, compartilham memórias de pais e avós.

“Escrever esse texto é uma maneira de honrar aqueles que vieram antes. Principalmente essas mulheres tão destemidas. Viúvas de maridos ausentes. Tocando a vida, criando filhos sozinhas, esperando o momento de se juntar aos seus companheiros”, diz Rachid.

Fadel tem lembranças de cheiros de fumo, café, sândalo, almíscar, pimenta síria e do tempero da carne crua da esfiha. Cita também os sotaques, as festas e a dramaticidade das famílias libanesas.

“Meus avós não queriam falar do Líbano. Queriam esquecer. Terra amada e deixada pra trás. Queria falar com vovô Said e perguntar tudo. Mas agora quem fala comigo é Miguel e Adibe, meus parentes, meus patrícios”.

Na peça, o imigrante Miguel, que chega ao Brasil em 1914, divide com o público as cartas recebidas de Adibe, com reflexões sobre a gravidez, a espera, as incertezas provocadas pela guerra, os medos e as frustrações.

No cenário, diversos tipos de tecidos remetem ao comércio tradicional dos imigrantes libaneses e, ao serem manipulados pelos atores, ajudam a contar a história, que inclui um casamento arranjado, a opressão às mulheres e, por fim, a parceria do casal, bem-sucedido em São Paulo.

Além dessas questões, o espetáculo propõe um painel afetuoso sobre a imigração libanesa no Brasil, com citações, por exemplo, de lugares de São Paulo relacionados à colônia, como a rua 25 de Março e o Hospital Sírio Libanês, e de sobrenomes de políticos -Haddad, Skaf, Temer, Kassab e Maluf.

Fazendo justiça ao hábito das famílias libanesas de passar horas em torno de refeições caprichadas, também são mencionados nomes de pratos árabes, o que faz parte da plateia sair do espetáculo com o apetite aguçado.

“As cartas foram para longe. Não imaginava que poderiam me levar a tantos lugares, inclusive a conhecer a aldeia da minha família”, diz Mossri. “Fui falar da minha aldeia e acabamos falando do mundo”.

CARTAS LIBANESAS: AYUNI

Quando Até 16/5. Sexta e sábado, às 20h. Domingo, às 18h

Onde Sesc Ipiranga

Preço R$ 60 (inteira); R$ 30 (meia); R$ 18 (credencial plena do Sesc)Autoria Duca Rachid e José Eduardo Vendramini

Elenco Ana Cecília Costa e Eduardo Mossri

Direção Georgette Fadel e Luaa Gabanini

CRISTINA CAMARGO / Folhapress

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