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Investidor estrangeiro foge de Petro, enquanto Milei promete dólares após FMI

BUENOS AIRES, ARGENTINA N(FOLHAPRESS) – Os presidentes Javier Milei e Gustavo Petro nunca esconderam suas diferenças. O argentino já chamou o colombiano de “assassino terrorista”, e o esquerdista recomendou que o ultraliberal investisse em café da Colômbia, após ele protagonizar o escândalo com uma criptomoeda. A relação dos dois mandatários com os investidores estrangeiros também tem seguido tendências opostas.

Dados do Banco Mundial apontam que o IED (Investimento Estrangeiro Direto) na Colômbia, em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), reverteu uma trajetória de alta após a pandemia e vem apresentando queda desde 2022, quando Petro foi eleito —era de 5%, passou a 4,6% em 2023 e chegou aos 3,4% no ano passado.

Enquanto isso, os aportes na Argentina tiveram três altas seguidas desde a crise sanitária. Neste caso, isso inclui um período anterior à eleição de Milei, em 2023. Eles foram de 1,4% do PIB em 2021, para 2,4% no ano seguinte e 3,7% em 2023. O banco central local ainda não divulgou os dados referentes ao ano de 2024.

Para calcular o IED, são considerados investimentos como fusões e aquisições, construção de novas instalações, reinvestimento de lucros auferidos em operações no exterior e empréstimos entre empresas do mesmo grupo.

Na Colômbia, o investimento estrangeiro caiu 15,2% no ano passado em relação a 2023, chegando a US$ 14,2 bilhões (R$ 80 bilhões).

A queda ocorreu pelos fluxos mais baixos de investimentos no setor de mineração e petróleo, na indústria manufatureira e no setor de transporte e comunicações, de acordo com o banco central do país.

O governo de Petro, o primeiro presidente de esquerda da Colômbia, tem buscado reduzir a dependência do país de petróleo e carvão. A queda nos investimentos nesses setores foi parcialmente compensada pelo maior interesse estrangeiro em atividades de serviços financeiros, bem como no comércio, em restaurantes e hotelaria.

Quando chegou ao poder, Petro prometeu que até o fim de seu mandato o país seria menos dependente de combustíveis fósseis. Três anos depois, diz que o país ainda não pode prescindir dos recursos que vêm dessa atividade, mas propôs a adoção de tarifas mais pesadas para atividades que não usarem energia limpa.

O país também enfrentou uma seca em 2024, que afetou o sistema hidrelétrico (68% da geração de eletricidade) e o desempenho econômico.

Ele também propôs o “investimento forçado”, que gerou preocupações dentro e fora do país. A medida buscava a obrigatoriedade de os bancos destinarem uma parte dos depósitos para conceder crédito a determinados setores, mas gerou desinformação no exterior, e espalhou-se que o governo confiscaria os depósitos.

Como quase um terço dos investimentos estrangeiros na Colômbia em 2024 teve origem nos Estados Unidos, as políticas implementadas a partir deste ano pelo presidente Donald Trump, com quem Petro já entrou em rota de colisão, representam um fator a mais de preocupação.

“Se por um lado há uma desaceleração mundial do investimento estrangeiro, no caso da Colômbia é possível acrescentar a questão da insegurança jurídica, de reformas tributárias que vão contra o que se poderia entender como um estímulo ao investimento”, avalia o professor Camilo Coronado Ramírez, da Universidade Nacional da Colômbia.

“Para as atividades extrativistas, há um ambiente hostil e dificuldade para conseguir licenças ambientais. Nos últimos anos, cinco grandes multinacionais saíram o país, muito por conta da frustração com os desestímulos do governo a novos projetos.”

O economista atribui as medidas tomadas pelo governo às cifras fiscais do país, que sofre com a baixa arrecadação de impostos. Esse cenário poderia levar Petro a fazer uma reforma tributária a qualquer custo, com maior cobrança de IVA (Imposto sobre o Valor Agregado) para exportações e importações, bem como para a produção de petróleo.

A saída, diz ele, seria o governo buscar uma política econômica que tenha um marco tributário alinhado com a realidade do país, reduzir gastos e estabelecer marcos jurídicos pró-investimento, com simplificação regulatória.

Em um relatório publicado há pouco mais de um mês, o Bank of America deixou a Colômbia de fora de suas opções de investimento, dizendo enxergar incertezas na condução econômica e riscos de execução na política energética do governo.

Na Argentina, os dados mais recentes do banco central apontam que no terceiro trimestre do ano passado, o IED foi de US$ 2,4 bilhões (R$ 13,5 bilhões). A soma dos três primeiros trimestres é de US$ 10,9 bilhões (R$ 61,3 bilhões).

O governo pede que o investidor mire os próximos meses, mas a comparação com os três primeiros semestres de 2023 mostra um cenário bem ruim: houve uma queda de 35,3%. Em valores anualizados, a alta é de 16,8% ante o período anterior.

Os setores que atraíram os maiores fluxos de IED foram o financeiro, o de mineração e a indústria de transformação. A principal fonte de fluxos foi a Espanha, com entradas líquidas de US$ 788 milhões (R$ 4,4 bilhões), seguida pelo Brasil com US$ 589 milhões (R$ 3,3 bilhões).

A mesma análise do Bank of America considera a Argentina —ao lado do Brasil— a melhor opção de investimentos na região atualmente. O país é visto com otimismo devido à recuperação macroeconômica, desaceleração da inflação anual e redução de restrições regulatórias, o que Milei diz que irá impulsionar diferentes setores, do bancário ao de energia.

O governo argentino deposita expectativas no novo acordo de US$ 20 bilhões (R$ 141 bilhões) que o país fechou em abril com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para estabilizar o câmbio, fazer com que a inflação volte à trajetória de baixa e atrair investidores de fora.

Na contramão de Petro, a Casa Rosada já tinha implementado um regime especial para tentar atrair investimentos estrangeiros sem discriminar os setores extrativistas. Pelo contrário, o Rigi (Regime de Incentivo a Grandes Investimentos) de Milei promete trazer ao país projetos de mineração e exploração de gás e petróleo (na reserva de Vaca Muerta) ou de lítio (no norte do país), por exemplo.

Ainda que as consultas a grandes escritórios de advocacia sobre as condições de criação de negócios no país estejam se multiplicando, decisões de investimento significativas ainda não foram tomadas.

O professor da UBA (Universidad de Buenos Aires) pondera que apesar do acordo com o FMI e iniciativas como o Rigi, o investidor estrangeiro ainda tem dificuldade de aportar recursos de longo prazo na Argentina.

“Há vários anos, empresas multinacionais têm saído da Argentina. A instabilidade macroeconômica, a estagnação e as restrições cambiais têm sido fatores muito negativos, e ultimamente algumas grandes empresas globais também saíram, inclusive, de Vaca Muerta”, lembra.

Em sua visão, o regime de investimentos pode facilitar operações em mineração e energia, mas a incerteza global e a falta de consenso sobre o sucesso das reformas de Milei dificultam o retorno dos aportes em empresas de outros setores. O cenário global também deve jogar contra a Argentina, diz.

“As políticas de Trump podem ter impactos diversos, dependendo de como evoluam e quais sejam as respostas de outros atores globais, como a União Europeia ou a China, mas em princípio podem afetar negativamente. Qualquer empresa global que possa adiar decisões de investimento o fará.”

DOUGLAS GAVRAS / Folhapress

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