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Venezuela serve alta cozinha com produtos locais e cardápios cobrados em dólar

CARACAS, VENEZUELA (FOLHAPRESS) – Quem se aproxima do guichê da imigração no aeroporto da capital venezuelana lê avisos em chinês e russo à medida que a fila anda, um sinal de que visitantes de países vizinhos são incomuns por ali. Restaurantes de alta cozinha locais, porém, têm feito esforços para atrair atenção e romper o isolamento de Caracas no florescente cenário gastronômico latino-americano -sem se envolver no xadrez político do ditador Nicolás Maduro.

Endereços como Cordero, em Caracas, e Dinning Room, em Valência, são exemplos de casas que servem alta cozinha feita com insumos locais como carnes, queijos, rum, café e até vinho venezuelano. Além deles, também se encontram nos menus pescados vindos do Caribe, ingredientes como o ocumo, espécie de tubérculo, e chocolate feito com variedades regionais de cacau, como a criolla.

Em um país que tem o beisebol como o esporte mais popular e cuja inflação já bateu 196% em 2019 segundo dados oficiais, produtos e cardápios são quase sempre precificados em dólar, ainda que seja possível pagar usando a moeda local, o bolívar venezuelano.

Para se ter uma ideia, um tequenho (tubo de massa frita recheado de queijo) custa US$ 1 (cerca de R$ 5,68) no comércio popular na rua. No supermercado, um litro de leite varia de US$ 2 a 4 (R$ 11,37 a R$ 23), em preços registrados no fim de janeiro.

O Cordero (@corderoccs), expoente da cena gastronômica de Caracas, serve menu-degustação ao preço de US$ 150 (cerca de R$ 852). O único representante venezuelano na lista do ranking 50 Best Restaurants da América Latina, no 44º lugar, é conduzido pelo chef Issam Koteich, que fez carreira entre a Europa e Dubai, e Pedro Khalil, à frente do Projeto Ubre (@proyectoubre), fazenda que produz, entre outras coisas, cordeiro -ingrediente que define o conceito do restaurante.

O menu de Koteich gira em torno de cortes incomuns dessa proteína, servidos com delicadeza e sem ser redundante ao longo dos cursos servidos no menu-degustação. Podem aparecer itens como paleta, língua, pescoço e até cérebro do animal, além de outros derivados como ricota, manteiga e coalhada de ovelha.

Koteich trabalhou brevemente com o chef Rafa Costa e Silva no estrelado Mugaritz, na Espanha, na época em que o brasileiro foi braço-direito de Andoni Aduriz -na sequência ele inaugurou o Lasai em 2014 no Rio. No fim de janeiro, os dois preparam um menu a quatro mãos em Caracas.

“Imaginava uma coisa muito diferente antes de chegar na Venezuela. As cozinhas têm um ótimo nível. Fiquei impressionado com a estrutura, com o treinamento da equipe e com os ingredientes”, afirma Rafa Costa e Silva, brasileiro mais bem posicionado no ranking 50 Best Restaurants da América Latina (7º lugar) e dono de duas estrelas do Guia Michelin.

Para ele, a qualidade das criações de restaurantes venezuelanos se equipara a de capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires. Além do Cordero, Costa e Silva visitou outros endereços em Caracas e Valência. Entre eles, o Toro, aberto há menos de um ano com menu focado em produtos locais servidos em porções para compartilhar.

Na casa, chamam atenção pratos como o tomate froid, uma delicada bavaroise (creme) feita com água de tomate defumado e tomate assado a lenha envolto em casquinha de pão crocante de alho, com flor de erva-doce e cinzas (US$ 13, ou R$ 73). Outra sugestão são lagostins de Taguapire, povoado no Caribe, servidos com abacate e tortilhas de ocumo (US$ 14 ou R$ 80). Para beber, paper bull, versão de paper plane feito com cocuy, destilado de agave encontrato na Venezuela.

Também em Caracas, o Rêverie (@reverie.rest) tem como ponto forte pescados que vêm frescos do Caribe venezuelano. Entre as pedidas estão albacora, espécie de atum, com sementes crocantes e coentro (US$ 15 ou R$ 85) e tiradito feito com peixe do dia. morango e pimenta (US$ 13, ou R$ 73).

Além da alta gastronomia, se destacam na capital venezuelana cozinheiros que pesquisam receitas típicas, muitas delas servidas nas ruas, lanchonetes e até comunidades rurais.

Um desses endereços é o La Casa Bistró (@lacasabistro), que serve café da manhã típico. Várias linhas de seu menu se dedicam a cachapas (panqueca de massa de milho), arepas e empanadas, estas feitas com massa de milho criolo moído de forma artesanal.

Já as arepas, discos de massa de milho, podem ser fritas ou assadas, e levar mandioca na composição. Aparecem em versões como a recheada de ovas de peixes, abacate, coentro e picles de cebolas (US$ 7, ou R$ 38) e de contrafilé maturado com queijo guayanés (US$ 10, ou R$ 56).

O prato é motivo de rivalidade com a Colômbia, que afirma ter inventado seu preparo -venezuelanos respondem, brincando, que aperfeiçoaram a receita adicionando um farto recheio.

Com torresmo e queijo telita ou doce de goiaba, as arepas (US$ 10, ou R$ 56 cada) também são destaque do El Maíz Nuestro (@elmaiznuestro), do chef Daniel Torrealba, que oferece, aos finais de semana, opções de café da manhã regionais. Vale conhecer a pisca andina, uma sopa reforçada tradicional dessa região de altitude elevada que leva caldo de carne, leite e batata (US$ 8, ou R$ 45).

A duas horas de Caracas, o Dining Room (@d.r00m) fica em Valência, capital do estado de Carabobo, e exibe no menu ingredientes de diferentes biomas venezuelanos. Nos pratos de Frank Parada podem estar criações como robalo curado com emulsão de coentro, conserva de mamão verde e pimenta-murupi.

Ali, é interessante conhecer preparos para ingredientes como formiga-saúva e tucupi, encontrados no Brasil e outros países sul-americanos. Também despertam a curiosidade receitas como o “vuelve a la vida”, versão de um prato encontrado em praias caribenhas -aqui feito com camarões, lulas, molho de tomate-de-árvore e crocante de arepa.

Produtos locais também são o forte da Cacao de Origem (@cacaodeorigen), em Caracas, que recupera variedades nacionais do fruto. A chocolateria prepara barras e bombons com insumos como o azedinho tamarindo e o ají dulce da ilha de Margarita, um primo mais aromático da pimenta-de-cheiro. Uma de muitas similaridades com o Brasil que visitantes de primeira viagem não imaginam ao desembarcar no país.

MARÍLIA MIRAGAIA / Folhapress

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