Menos de duas semanas depois de iniciar o tratamento precoce dos casos de covid-19 com hidroxicloroquina, Sertãozinho registrou uma diminuição na ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de 100% para 30%. Os dados foram fornecidos pela prefeitura da cidade e confirmados pela reportagem.
O município adotou o protocolo de medicação precoce do Ministério da Saúde no dia 22 de julho, disponibilizando a azitromicina e a cloroquina para tratamento dos pacientes, segundo avaliação clínica e prescrição médica. Na ocasião, o prefeito Zezinho Gimenez foi muito criticado pela área médica na cidade.
A ocupação, tanto na enfermaria quanto nos leitos de UTI, era de 100% na cidade. No dia 3 de agosto, último dado analisado pela reportagem, o percentual era de 30% para os leitos de UTI e 25% na enfermaria.
“Não podemos afirmar que as quedas desses índices se devem exclusivamente à doação da medicação precoce, porém, elas coincidem com esta, que foi uma entre tantas medidas adotadas pela Administração Municipal nesses últimos quatro meses de pandemia”, afirmou a prefeitura, em nota.
A administração esclareceu, entretanto, que não a última ampliação no total de leitos de UTI ocorreu no início de julho, fora, portanto, do período analisado. Outros aspectos apontados pela prefeitura como causa são a ampliação da testagem e tratamento e monitoramento precoce da população; intensificação da fiscalização no cumprimento da quarentena por parte dos estabelecimentos comerciais.
Comparativo
Os números de Sertãozinho contrastam, entre outros, com os apresentados por Ribeirão Preto, que não utilizou o protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde quanto ao uso dos medicamentos.
A cidade, que inaugurou pelo menos 36 leitos no período, tinha uma taxa de ocupação de 97% na ocasião, passando, no dia 3 de agosto, a um índice de 81%, de acordo com dados oficiais. Isso significa dizer que o aumento no número de vagas não ocorreu por conta de uma diminuição de casos, mas sim por aumento de vagas.
Batalha
O uso da cloroquina no tratamento ao covid-19 tem causado uma verdadeira batalha entre defensores e contrários. De um lado, muitos pesquisadores e médicos afirmam que o medicamento, além de ser ineficaz, pode causar severos efeitos colaterais. Uma outra corrente, menos expressiva, afirma que não há estudos definitivos e que o medicamento, utilizado na prática, ajudou a combater o coronavírus nos lugares onde foi utilizado.
Um dos defensores é o professor da Universidade de São Paulo Anthony Wong, que declarou, em entrevista exclusiva ao Grupo Thathi, que quem deixa de prescrever o medicamento está cometendo crime de omissão. “Quem está contra a hidroxicloroquina está fazendo um crime de omissão porque é o único tratamento hoje em dia que funciona nos primeiros 7 dias. Ou eles preferem que o paciente fique tão grave ou tem que entrar na UTI e ficar no respirador?”, afirmou.
Já a prefeitura de Ribeirão citou uma série de estudos internacionais para não recomendar o uso do medicamento. “A literatura científica, com estudos consistentes, não endossa a até o momento, a prescrição de hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19 para casos leves e profilaxis. Parte dos trabalhos apontam ainda que, não houve ganho considerável na saúde dos pacientes com o uso da cloroquina”, disse a instituição, em nota.