Um dos maiores e mais importantes artistas da história do nosso país, hoje vamos relembrar as 25 melhores músicas de Belchior.
Cantor, compositor, produtor, instrumentista, artista plástico e professor, Belchior era um estudioso da palavra, um poeta. Suas composições inteligentíssimas e cheias de personalidade, traduziam a urgência e a inquietude do jovem brasileiro da sua época.
Belchior cantava temas filosóficos, geracionais e humanos, em uma obra de forte caráter crítico, político e poético. Dono de uma voz inconfundível e interpretação intensa, Belchior foi gravado por muitos outros grandes nomes da música brasileira e seu legado e sua contribuição notória pro cancioneiro popular brasileiro são gigantescos.
Aliás, ele brincava – adicionando os sobrenomes do pai e da mãe – que seu nome completo era Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, o maior nome da música popular brasileira. Mas ele não precisava disso: apenas como Belchior, já era um dos maiores nomes da nossa MPB.
Sobre Belchior
Belchior nasceu em Sobral, no Ceará, em 1946. Durante sua infância, foi cantador de feira e poeta repentista. Estudou música coral e piano – sua mãe cantava no coral da igreja.
Ainda criança, foi muito influenciado por cantores do rádio como Ângela Maria, Cauby Peixoto e Nora Ney. Trabalhou também como programador de rádio em Sobral e teve grande influência dos Beatles, o que depois traduziu-se em sua obra.
Em 1962, mudou-se para Fortaleza, onde estudou Filosofia e completou seus estudos no colégio de padres. Em seguida, Belchior viveu um período de disciplina religiosa, em comunidade com frades italianos no mosteiro Guaramiranga, onde aprimorou seu latim, italiano e canto gregoriano. Mais tarde, o artista incluiu muitos idiomas em suas canções – além do português: inglês, espanhol, italiano, francês e latim.
Sobre esta época, ele contou certa vez em entrevista: “Nesse tempo do colégio de padres, a música era uma disciplina normal no currículo. Essas coisas me encaminharam para o fazer artístico”.
Depois, Bel voltou para Fortaleza, onde trabalhou como professor e também no programa “Porque Hoje é Sábado”, da TV Ceará, que apresentava a nova geração da música local.
Ele chegou a estudar Medicina na Universidade Federal do Ceará (passou em primeiro lugar!), mas abandonou o curso no quarto ano, em 1971, para dedicar-se à carreira artística.
De 1967 a 1970, Belchior participou de diversos festivais de música do nordeste. Logo, juntou-se a um grupo de jovens compositores e músicos cearenses – como Fagner, Amelinha eFausto Nilo– que se auto intitulavam o “Pessoal do Ceará”.
Em 1971, mudou-se para o Rio de Janeiro, junto com outros artistas do “Pessoal do Ceará”, para tentar a vida como artista.
Os 20 maiores sucessos de Belchior
- 1 – Na Hora do Almoço (1971)
O reconhecimento começou a chegar neste mesmo ano, quando Belchior venceu o IV Festival Universitário da Música Popular Brasileira – promovido pela TV Tupi – com sua música “Na Hora do Almoço”, interpretada por Jorginho Telles e Jorge Neri.
Com essa música, Belchior estreou como cantor em disco, com um compacto da etiqueta Copacabana. Em 1972, mudou-se para São Paulo, onde compôs algumas trilhas sonoras para curta-metragens.
- 2 – Mucuripe (parceria com Fagner, 1972)
Ainda em 1972, sua canção em parceria com Fagner – “Mucuripe” – foi gravada por Elis Regina, em seu disco “Elis”, contribuindo mais um tanto para a projeção nacional de Belchior. A canção já tinha entrado, no mesmo ano, para o disco de bolso do jornal “O Pasquim”, interpretada por Sérgio Ricardo.
Em 1975, “Mucuripe” também foi gravada por Roberto Carlos.
- 3 – A Palo Seco (1974)
Em 1974, Belchior lançou o seu primeiro LP, “A Palo Seco”, cuja música título tornou-se imediatamente um sucesso nacional. O disco também conta com a canção “Na Hora do Almoço” e mais nove composições solo de Belchior.
- 4 – Paralelas (1975)
Em 1975, outra canção de muito sucesso de Belchior foi lançada pela cantora Vanusa, em seu álbum “Amigos Novos & Antigos”: “Paralelas”. No ano seguinte, Erasmo Carlos também gravou o sucesso em seu disco “Banda dos Contentes”.
- 5 – Alucinação (1976)
Em 1976, Belchior lançou o seu segundo álbum, “Alucinação”, considerado um dos mais importantes e revolucionários discos da história da música brasileira, uma verdadeira obra prima, que lançou o poeta cearense ao estrelato e o transformou em um dos maiores nomes da nossa história.
A faixa título está entre os imensos sucessos do disco.
Sobre o título do disco, “Alucinação”, Belchior explicava: “Viver é mais importante que pensar sobre a vida. É uma forma de delírio absoluto, entende?“. O disco foi produzido por Marco Mazzola, que dizia considerar Belchior “o Bob Dylan brasileiro”.
Josely Teixeira Carlos, radialista, professora e pesquisadora da USP, diz que “esse disco resume o sentimento de toda uma geração brasileira, interiorana no meio da cidade grande.”. Em 2016, ela idealizou o “Projeto Belchior 70”, em que analisou – em uma série de programas radiofônicos – toda a discografia autoral de Belchior.
Ela ressalta várias referências que o poeta imprimia em suas composições, como conflitos geracionais e ideológicos, filosofia, a relação entre o regional e o nacional no Brasil, as questões migratórias entre o campo e a cidade, a relação do homem com a religião e o papel do jovem e do povo brasileiro em um cenário mais amplo da América Latina.
O álbum realmente contém canções que exprimem a urgência do jovem brasileiro da época, entre a violência do estado e o fim dos sonhos de liberdade, com a Ditadura Militar em pleno vapor.
A sólida base sonora do álbum transita entre o blues, o country, o baião e o rock. O disco vendeu 30 mil cópias em apenas um mês e mais de 500 mil cópias no total, consagrando Belchior como um ídolo de massa.
Mesmo após vários anos de seu lançamento, o álbum “Alucinação” ainda ecoa várias canções por rádios, TVs, shows e regravações em todas as partes do Brasil.
Somado a isso, o fato de duas de suas composições terem sido gravadas por Elis Regina no LP “Falso Brilhante”, do mesmo ano, tornando-se verdadeiros hinos brasileiros:
- 6 – Velha Roupa Colorida (1976)
Elis Regina foi uma das colaboradoras a lançar Belchior ao sucesso, mas – com certeza – Belchior também foi um dos responsáveis por abrilhantar ainda mais a carreira da já consagrada cantora, uma das maiores do Brasil.
- 7 – Como Nossos Pais (1976)
Outras canções de sucesso do álbum “Alucinação” são:
- 8 – Apenas Um Rapaz Latino-americano (1976)
- 9 – Fotografia 3 x 4 (1976)
- 10 – Sujeito de Sorte (1976)
No ano de 2019, o rapper Emicida lançou o grande sucesso “AmarElo” (faixa que dá nome também ao seu já antológico disco e espetáculo lançados no mesmo ano, e ao documentário, no ano seguinte). A canção conta com um sample com a clássica “Sujeito de Sorte”, clássico do de Belchior, vindo para coroar a poesia da obra, que uma lição de vida do início ao fim, em cada verso: “Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro, ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”.
A música e o clipe trazem uma forte e emocionante reflexão sobre o destino de quem luta contra a opressão, seja ela racista, classista ou de gênero e sobre força, luta e resistência, reforçando a busca por igualdade, por meio da superação, cantando sobre acreditar em um amanhã melhor: “A ideia é que as pessoas se enxerguem maiores do que os seus problemas”, conta Emicida. Tudo a ver com a obra de Belchior.
- 11 – Coração Selvagem (1977)
Em 1977, Belchior lançou o seu terceiro disco: “Coração Selvagem”. Entre as nove canções – todas de autoria solo do artista – estão grandes sucessos como a música título.
- 12 – Galos Noites e Quintais (1976)
Além dela, outras canções que estavam no álbum são “Paralelas” – que já tinha sido gravada por Vanusa dois anos antes – e “Galos Noites e Quintais”, que também já tinha sido gravada por Jair Rodriguesno ano anterior e feito imenso sucesso.
- 13 – Divina Comédia Humana (1978)
Em 1978, foi a vez do disco ”Todos os Sentidos”, que traz o grande sucesso “Divina Comédia Humana”, além de outras canções como:
- 14 – Bel-prazer (1978)
- 15 – Brincando com a Vida (1978)
Belchior é conhecido por ser um compositor de poucas parcerias (mas muitos encontros musicais maravilhosos) e isso fica muito claro nos seus três primeiros álbuns.
Esse caminho quase solitário de composição se traduz em uma obra impregnada da personalidade do autor, que escreve sobre suas memórias, seus sentimentos e suas impressões de mundo. Não por acaso, boa parte da sua obra é escrita em primeira pessoa.
- 16 – Sensual (Belchior e Tuca, 1978)
Neste quarto disco, das 10 canções, apenas uma é uma parceria com Tuca: a canção “Sensual”. Todas as outras são somente de Bel.
- 17 – Medo de Avião (1979)
Já em 1979, Belchior lançou o disco “Era Uma Vez Um Homem e o Seu Tempo”, que conta com o sucesso “Medo de Avião”.
- 18 – Comentário a Respeito de John (parceria com José Luís Penna, 1979)
O álbum também traz uma homenagem a John Lennon: “Comentário a Respeito de John”, em parceria com José Luís Penna.
- 19 – Medo de Avião II (Belchior e Gilberto Gil, 1979)
Outro destaque do disco é a canção “Medo de Avião II”, umaparceria de Belchior com Gilberto Gil.
- 20 – Jóia de Jade (parceria com Dominguinhos, 1980)
Em 1980, Belchior lançou o disco “Objeto Direto”, que conta com sua primeira gravação de “Mucuripe” e canções como Jóia de Jade, parceria sua com Dominguinhos.
- 21 – Aguapé (Epígrafe de Castro Alves), 1980
Neste disco também há uma faixa com a participação de Fagner – companheiro de Belchior dos tempos do “Pessoal do Ceará” – na faixa ”Aguapé (Epígrafe de Castro Alves)”.
- 22 – E Que Tudo o Mais Vá Para o Céu (parceria com Jorge Mautner, 1982)
Em 1982, Belchior lançou o LP Paraíso, no qual abriu espaço para os então jovens artistas Guilherme Arantes (autor de “A Cor do Cacau”), Ednardo Nunes (autor de “Rima da Prosa”),Arnaldo Antunes (autor de “Estranhaleza”) e Jorge Mautner, com quem o próprio Belchior faz parceria na canção “E Que Tudo o Mais Vá Para o Céu”.
Em 1983, o poeta cearense fundou a sua própria gravadora e produtora: a “Paraíso Discos”. No ano seguinte, lançou o disco “Cenas do Próximo Capítulo”, que conta com canções em parceria com Jorge Mello, e regravações dos nordestinosRaul Seixas (“Ouro de Tolo”) e Luiz Gonzaga(“Forró No Escuro”).
- 23 – Os Derradeiros Moicanos (parceria com Moraes Moreira, 1986)
Em 86, foi a vez do disco “Um Show – Dez Anos de Sucesso”, que traz regravações dos grandes clássicos dos seus dez anos de carreira e, em 87, o álbum “Melodrama”, que conta com a parceria com Moraes Moreira, “Os Derradeiros Moicanos”.
Em 1988, o LP “O Elogio da Loucura” foi lançado no Teatro João Caetano, em São Paulo, com recordes de público. E, em 1990, Bel lançou o disco gravado ao vivo, “Trilhas Sonoras”, com vários sucessos de sua carreira.
Em 1992, o disco “Divina Comédia Humana”, também traz regravações de seus grandes sucessos já consagrados e, em 1993, Belchior lançou o álbum “Baihuno”, que conta com várias canções inéditas, como:
- 24 – Se Você Tivesse Aparecido (parceria com Gracco, 1992)
- 25 – Num País Feliz (parceria com Jorge Mello, 1992)
Em 1995, Belchior lançou o disco ao vivo “Um Concerto Bárbaro” – com regravações de seus sucessos – e, em 1996, o álbum “Vício Elegante”, que traz uma sonoridade pop contemporânea para regravações de sucessos de outros compositores, como Chico Buarque (“Almanaque”), Adriana Calcanhotto (“Esquadros”), Djavan (“Aliás”) e Caetano Veloso (“O Nome da Cidade”).
Em 1997, Belchior tornou-se sócio da gravadora “Cameratti” e, em 1999, lançou o álbum duplo “Auto-Retrato”, no qual 25 de suas composições recebem novo tratamento e arranjos feitos por nomes como Rogério Duprat e André Abujamra.
No ano 2000, o cearense lançou – de forma independente – o disco “De Primeira Grandeza” e, em 2002, gravou com Amelinha e Ednardo, o CD “Pessoal do Ceará”, que conta com duas músicas inéditas: o coco-repente Mote, Tom e Radar (de Ednardo) e Bossa em Palavrões, de sua autoria. O restante do disco é composto por obras antigas compostas por ele e por Ednardo.
Em 2004, Bel musicou poemas deCarlos Drummond de Andradepara um projeto idealizado pela Revista Caras. O disco duplo, chamado “As Várias Caras de Drummond”, vinha acompanhado de um livro com o mesmo nome.
Em 2005, foi a vez do seu último disco em vida, “Belchior Acústico”, com Gilvan de Oliveira no violão, tocando os seus maiores clássicos.
O autoexílio
A partir deste ano, Belchior encarou o autoexílio e, distante do público e da mídia, transformou-se em ícone pop e figura cult. Muitas foram as especulações em torno do seu sumiço e ele chegou até a ser tido como desaparecido em 2009, depois de ser visto pela última vez participando de um show do baianoTom Zé. Ele também chegou a participar de um show com a banda Los Hermanos, em 2006, que havia feito uma releitura da canção “A Palo Seco” poucos anos antes e afirmado serem grandes fãs do cearense.
Belchior foi encontrado vivendo no Uruguai e concedeu uma entrevista à TV Globo, dizendo que não havia desaparecido e estava preparando, além de um disco de canções inéditas, o lançamento de todas as suas canções também em espanhol. Em 2012, ele novamente desapareceu da grande mídia.
Pessoas muito próximas ao artista disseram que ele começou a mudar bastante de comportamento, se isolar e ter menos comprometimento com seus compromissos profissionais, amigos e família quando começou a se relacionar com a produtora cultural Edna Prometheu, que tornou-se sua assessora pessoal. A partir daí, passou a ter problemas também com a justiça.
Outras pessoas acreditam que Belchior era inteligente demais para ser obrigado por alguém a se isolar e se distanciar da carreira e dos amigos e familiares. Que pode ter sido uma escolha dele, algo que se passava em sua mente, ou mesmo uma depressão e necessidade de reclusão.
O jornalista e crítico musical Dalwton Moura declarou o seguinte, em uma reportagem especial sobre os 70 anos de Belchior, em 2016, sobre o sumiço do artista naquela época: “Impossível saber. Mas bem se pode supor que, na vertigem do Brasil do retrocesso, hoje ‘nosso herói’ apenas conheça seu lugar. E esteja rindo de tudo isso, gargalhando mais e mais ao sabor de cada hipótese sobre seu paradeiro, cada tentativa de explicação, da mesa de bar à rede de TV. Entre uma obra e um destino humano, a opção por ser dono de seus dias e de seus 70 anos.”.
Belchior nos deixou em abril de 2017, aos 70 anos, quando vivia na cidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. A causa da morte foi a ruptura de um aneurisma da artéria aorta. Na ocasião, o governo do Ceará decretou luto oficial de três dias, providenciando o traslado do corpo, garantindo assim, o desejo do cantor de ser enterrado no seu estado, velado na sua cidade natal, Sobral, e sepultado em Fortaleza.
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