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Nova siderúrgica europeia estuda produzir no Brasil com hidrogênio verde

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Stegra, primeira siderúrgica a se instalar na Europa nos últimos 50 anos, cogita construir no Brasil uma fábrica de briquetes de minério de ferro feitos a partir de hidrogênio verde, matéria-prima para a produção de aço com menor pegada de carbono. A empresa está em conversas com a Vale, que já demonstrou interesse em aumentar seu portfólio de soluções baseadas em descarbonização.

A Stegra inicia no ano que vem sua operação na Suécia, quando começará a vender bobinas de aço para a indústria automotiva europeia, como Mercedes, BMW e Porsche. A empresa foi fundada em 2020 para fornecer aço de menor pegada de carbono para a indústria europeia, sujeita a metas de redução de emissões de gases de efeito estufa. Alguns setores, como o automotivo, precisará cumprir limites rígidos a partir de 2027, o que os obrigarão a reduzir as emissões para além da queima de combustíveis fósseis.

Não à toa, a Mercedes e fornecedores europeus da indústria automotiva, como Schaeffler, Bilstein e Mubea, são alguns dos investidores da Stegra. A siderúrgica levantou em 2023 6,5 milhões de euros, o que a colocou como dona do maior equity do ano, à frente, inclusive, da OpenIA, dona do ChatGPT.

Agora, o projeto principal da empresa está em construção no norte da Suécia, onde mais de 3.000 operários tentam deixar a usina de pé até o ano que vem. A indústria vai acoplar, em uma mesma área, a produção de hidrogênio verde, feito a partir de energia hidrelétrica e eólica, e plantas de fabricação de aço.

Hoje, o método mais convencional de se fabricar aço é por meio da redução do minério de ferro com carvão e pela queima do ferro-gusa em alto-fornos. Esse método libera grandes quantidades de CO2 na atmosfera, o que torna a siderurgia uma das principais responsáveis pelo aquecimento global.

Assim, uma forma de descarbonizar a indústria é fazer a redução do minério de ferro com gás natural ou hidrogênio verde. Em comparação, no método convencional, a cada tonelada de aço produzida, emite-se duas toneladas de CO2 na atmosfera; já com gás natural emite-se uma tonelada e, com hidrogênio verde, 100 quilos.

Isso é possível porque o hidrogênio verde é feito a partir da separação das moléculas de água com energia limpa. Por isso, a planta da Stegra exigirá muita eletricidade. Toda a operação, da fabricação de hidrogênio à produção de 5.000 toneladas de aço, exigirá capacidade instalada de 1.750 MW –em comparação, a usina da ArcelorMittal no Ceará tem capacidade de 218 MW com a mesma produção.

No primeiro ano, a empresa vai fabricar aço a partir de sucata, e o produto oriundo da redução do minério de ferro com hidrogênio verde será exportado para outras siderúrgicas europeias. “Para os fabricantes de aço na Europa continental, a eletricidade renovável é extremamente cara, então simplesmente não é viável fazer aço verde a um custo atrativo, a menos que recebam uma enorme quantidade de subsídios, o que eles têm tentado obter, mas é complicado”, diz Luiza Orre, diretora de desenvolvimento de projetos da Stegra. Ela esteve no Brasil em maio para participar de um evento com funcionários do BNDES e da ApexBrasil.

É aí que entra o Brasil nos planos da empresa. A Stegra cogita instalar uma usina no país para reduzir o minério de ferro de alto teor da Vale com hidrogênio verde e vender o produto desse procedimento para siderúrgicas europeias e asiáticas. Com muita energia renovável barata, o Brasil tem enorme potencial de atrair produtoras de hidrogênio verde –alguns projetos já têm ganhado maturidade no Nordeste.

“A Vale é um dos nossos fornecedores de minério de ferro para a produção no norte da Suécia e, através dessa parceria, começamos a discutir outras oportunidades. E agora estamos explorando fazer nosso próximo projeto no Brasil, que tem muitas das características semelhantes de eletricidade renovável, custo atrativo com o acesso ao minério de ferro e também a tradição de fabricação de ferro e aço”, afirma Orre.

Nesse contexto, o Brasil disputa com Portugal e Canadá. “Portugal é mais atrativo em uma perspectiva logística para chegar ao cliente final, assim como o Canadá, mas o custo de eletricidade no Brasil é mais atrativo do que em Portugal, apesar de a estrutura regulatória ser melhor em Portugal do que no Brasil”, diz Orre.

Como a Folha de S.Paulo já reportou, o próprio governo brasileiro vem iniciando diálogos com os europeus para trazer etapas da produção das siderúrgicas do continente para o Brasil. Em março, por exemplo, a Embaixada do Brasil em Berlim organizou um evento com membros do governo alemão sobre o assunto. Um estudo apresentado no evento apontou que as siderúrgicas alemãs podem economizar entre 8,7% e 31,5% se realocarem suas etapas de produção para países ricos em energia renovável, como Brasil e Suécia.

“O que percebemos é que talvez as siderúrgicas europeias não precisem fazer o processo de produção completo em seus países. Importar o HBI (produto oriundo da redução do minério de ferro com gás natural ou hidrogênio verde) pode permitir que a indústria siderúrgica europeia descarbonize sem precisar construir os eletrolisadores e sem precisar construir a etapa de redução lá”, acrescenta Orre.

Segundo ela, a queda da indústria de hidrogênio verde nos últimos meses –com a chegada de Donald Trump à Casa Branca e a resistência de empresas europeias a regras rígidas– não deve atrapalhar o projeto na Suécia. Em médio prazo, aliás, a diminuição do ânimo com o combustível pode fazer com que os eletrolisadores fiquem mais baratos, diz.

Não há, portanto, possibilidade de o projeto mudar seu foco para gás natural, aponta. O combustível fóssil, por ser menos poluente que o carvão, é considerado pela própria Vale um insumo para a fabricação de HBI –a mineradora, aliás, vai fabricar o produto em países do Oriente Médio, onde há abundância de gás natural.

PEDRO LOVISI / Folhapress

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