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Dor que dói mais

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Dor que dói mais
Foto: Divulgação

A Pandemia nos obrigou à mudança de inúmeros hábitos; interferiu até mesmo em nossa cultura, aliás, interferiu na cultura dos povos do mundo inteiro. Embora indigno e tão cheio de frágeis limites, sempre procurei zelar por meu ministério sacerdotal, cuidando especialmente e mais ainda na última década, dos Idosos, Enfermos e Enlutados que o Senhor da Vida foi me confiando. Minha presença ministerial na vida das pessoas, como Pastoral da Escutação, através do Sacramento da Reconciliação, sempre ocupou privilegiadamente meu tempo por onde passei. De repente me dou conta que também sou idoso, enfermo, do grupo de risco, enfim. E com isso surge uma dor que dói mais!

Depois da Eucaristia, os Sacramentos da Reconciliação e da Unção dos Enfermos me são os mais caros. São os Sacramentos da Cura. Como é bom ver o dia declinando com a sensação de ter colaborado com a cura de tantas pessoas que amamos, por conta de nosso sacerdócio! Mas a Pandemia vem limitando nosso exercício ministerial e de quando em vez é necessário contar com a compreensão dos que nos procuram para a celebração de tais sacramentos, reafirmando com esperança de que “isso vai passar” e então poderemos novamente nos encontrar!

Observando todos os protocolos de prevenção, consegui ao longo desses últimos meses, passar por algumas pessoas, levando-lhes a absolvição e o Viático (Jesus em Viagem): Pupilos e Pupilas da amada Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres; Membros da Equipe Nossa Senhora da Esperança, a mais antiga e idosa de nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto e celebrar pelo menos uma Missa Semanal aos Domingos, com transmissão ao vivo pela Plataforma do YouTube da Paróquia Santa Teresa D’Ávila no Jardim Recreio de Ribeirão Preto. As demais atividades, como lecionar, participar de reuniões, especialmente da PASCOM (Pastoral da Comunicação) e das Foranias às quais pertenço, tomar decisões junto à Paróquia e à Reitoria, colaborar com o FAC – Fraterno Auxílio Cristão, acontecem com a prudência necessária, preservando minha vida e evitando ser contaminado pela COVID -19, na maioria das vezes virtualmente, porém com grande proximidade na oração por todos aqueles que nossa amada Igreja me confia diariamente.

Mas há uma dor que dói mais! As celebrações de Exéquias, conhecidas como Encomendação de nossos falecidos. A morte dói demais para os que devolvem a quem de direito seus entes queridos, o Criador! Com a Pandemia nos impuseram protocolos que aumentam a dor da chamada “perda” de alguém que amamos. Prefiro, ao invés de “perda”, falar em entrega ou devolução, até porque nós não nos pertencemos uns aos outros. Somos todos emprestados por certo tempo, a fim de que na eternidade encontremos nosso único e verdadeiro Senhor!

Os velórios dos que não fizeram a “viagem sem volta” acometidos pela COVID-19 não podem durar mais do que duas horas, com restrição da presença de até dez pessoas no máximo. Sem homenagens, sem o reencontro dos parentes, sem tempo para uma despedida mais digna. Já as pessoas ceifadas pelo Vírus são simplesmente ensacadas e diretamente enterradas. Tudo por causa de um Vírus invisível e ainda tão desconhecido. As exigências me parecem legítimas, porque evitando maior contaminação, protegem a vida das pessoas que ficam. Mas trata-se, sem dúvida, de uma dor que dói mais!