A relação entre alimentação e emoção é muito mais complexa do que parece. Segundo a psiquiatra Dra. Gianna Testa, a comida não é apenas fonte de energia e nutrição — ela também carrega memórias, afetos e, muitas vezes, passa a ser um refúgio diante de emoções difíceis. “Comer por ansiedade ou tristeza é comum, mas quando isso vira um padrão, pode indicar uma fome que não é do corpo, e sim da alma”, afirma a especialista.
Por que comemos sem estar com fome?
A fome emocional tem raízes profundas, tanto genéticas quanto culturais. Estudos mostram que há genes relacionados à forma como metabolizamos alimentos, processamos emoções e reagimos ao estresse. “A incidência de transtornos alimentares entre parentes pode ser até dez vezes maior”, alerta Dra. Gianna. Segundo ela, o comportamento alimentar disfuncional pode ser aprendido e reforçado ao longo da vida, especialmente em famílias que valorizam demais a aparência ou associam magreza à felicidade.
O ambiente também é um fator de risco. Crianças e adolescentes, principalmente meninas, são expostas cada vez mais cedo a padrões de beleza irreais — alimentados por redes sociais e filtros digitais — e acabam desenvolvendo uma autoestima frágil. “Meninas com menos de 10 anos já chegam ao consultório preocupadas em emagrecer”, relata a médica.
Fatores emocionais por trás da fome descontrolada
Dentre os fatores que contribuem para uma relação negativa com a comida, estão:
• relações familiares disfuncionais
• autocrítica excessiva e perfeccionismo
• pressão social por aparência e desempenho
• baixa autoestima e insegurança
• transtornos de humor ou ansiedade
“Em muitos casos, a comida passa a ser usada como anestésico emocional — um conforto momentâneo para lidar com sentimentos difíceis”, explica Dra. Gianna.

Como mudar essa relação?
Para crianças e adolescentes, o primeiro passo é a conscientização familiar. “É importante que os pais valorizem mais a saúde do que a aparência e estejam atentos a comentários e comportamentos que possam reforçar padrões tóxicos”, orienta a psiquiatra.
Já para os adultos, a médica recomenda a prática do comer consciente e o acompanhamento com profissionais da área de saúde mental. “Não se trata de seguir dietas rígidas, mas de compreender o que nos leva a comer sem fome e trabalhar as emoções por trás desse comportamento”, destaca.
Buscar uma alimentação equilibrada, respeitando a individualidade, a genética e a cultura de cada pessoa, é essencial. Mas, mais do que isso, é preciso aprender a identificar quando a comida está ocupando o lugar de algo que falta emocionalmente.
“Cuidar da alimentação é cuidar da saúde, mas entender por que comemos é cuidar da mente”, conclui.



