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Martha Nowill debate sobre a maternidade e o homem hétero em peças de teatro

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Separada há mais de uma década de sua filha, então recém-nascida, após cometer um crime menor, a protagonista de “Renda-se” recebe uma visita da criança na prisão.

A jovem tenta convencer a mulher de que ela está presa não por ter sido uma mãe negligente, mas por ser vítima da exaustão, da ausência de qualquer apoio social e dos trabalhos precários, tanto no escritório quanto como atriz. Enquanto ela conta sua versão do que aconteceu, a trama se desdobra em flashbacks.

Martha Nowill diz ter se questionado, por um momento, se deveria voltar a falar de maternidade quando recebeu o convite da diretora Fernanda D’Umbra para protagonizar essa peça, um texto feito por duas britânicas, a roteirista Sophie Swithinbank e a atriz Phoebe Ladenburg. Ela tinha entregado pouco antes à Companhia das Letras “Coisas Importantes Também Serão Esquecidas”, livro sobre sua gravidez e os primeiros anos de vida de seus filhos. Mas logo se convenceu de que deveria aceitar o projeto.

“São narrativas diferentes, que se complementam”, afirma Nowill. “Acho que a gente vai chamando um pouco as personagens. Elas vão chegando na nossa vida, não são muito por acaso.”

“Renda-se” conversa, de certa forma, com “A Megera Domada”, de William Shakespeare. A protagonista —chamada no texto apenas de “mãe”— chega a fazer uma audição para a montagem do clássico em certo momento da trama.

“O mesmo dever que prende o servo ao soberano prende, ao marido, a mulher. E quando ela é teimosa, impertinente, azeda, desabrida, não obedecendo às suas ordens justas, que é então senão rebelde, infame, uma traidora que não merece as graças de seu amo e amante?”, diz a protagonista do texto de Shakespeare, Catarina, no monólogo final —a tradução é de Millôr Fernandes.

“Tenho vergonha de ver mulheres tão ingênuas que pensam em fazer guerra quando deviam ajoelhar e pedir paz. Ou procurando poder, supremacia e força, quando deviam amar, servir, obedecer.”

A peça das canadenses “é uma resposta, pelo viés da maternidade, a este monólogo de uma mulher que se domesticou, se enquadrou para estar de acordo com o que é esperado de uma mulher na sociedade”, afirma Nowill.

No fim de semana final da temporada de “Renda-se”, entra em cartaz “A Autoestima do Homem Hétero”, estreia de Nowill na direção. O texto, escrito e protagonizado por Amanda Mirásci, volta a pôr em questão o lugar da mulher na sociedade —desta vez a partir de seu duplo, o homem.

Nowill ensaiou as duas peças ao mesmo tempo. “De manhã, eu dirigia a Amanda, almoçava em 40 minutos e ia para a sala do ensaio com a Fernanda —e, à noite, chegava em casa com dois filhos carentes, com a vida, com outros trabalhos.”

“Autoestima” acompanha Carina, uma farmacêutica prestes a apresentar ao mundo sua invenção, cápsulas capazes de fornecer aos consumidores a confiança dos homens heterossexuais. Nervosa, decide ela mesma utilizar seu produto para segurar as pontas durante a palestra.

Na apresentação, ela relembra os homens que inspiraram cada componente da pílula, do grande músico que mal sabe tocar um violão ao feio que se sente no direito de reivindicar uma mulher escultural.

Mirásci nunca havia assinado um roteiro até então, e queria convidar outra pessoa para desenvolver sua ideia, uma mistura de cenas da sua vida e relatos de conhecidas suas com piadas que circulavam na internet sobre os benefícios de encapsular a pretensão masculina. Foi preciso um empurrãozinho da sua diretora —e do cano de alguns dramaturgos que acabaram abandonando o projeto— para ela resolver contar a própria história.

“A minha terapeuta até brinca comigo que eu tomei uma pílula de autoestima do homem hétero”, afirma a atriz. “Acho que nós, mulheres, temos uma tendência maior a se criticar, o medo nos acompanha desde sempre.”

Ao escolher a comédia, gênero por vezes mais descontraído, as duas artistas esperam conseguir dialogar com o grupo que é alvo das piadas, o que elas consideram indispensável para que a peça possa ter o efeito pretendido de colaborar de alguma forma com uma mudança dos comportamentos.

“Vejo muitos espetáculos que põem o homem como o grande adversário —e a figura masculina é a vilã, sim, em muitas histórias”, afirma Mirásci. “Mas tem muito homem legal por aí, que também não está sabendo como lidar com toda essa situação.”

Nowill complementa. “A gente quer que os homens vejam a peça, se enxerguem e consigam rir de si mesmos. Eu não quero detonar os homens —eu sou mãe de dois—, mas quero criticar, porque a gente vive numa sociedade super patriarcal.”

RENDA-SE

– Quando Até 6 de julho. Sex., às 21h30. Sáb. e dom., às 18h30

– Onde Sesc Ipiranga – r. Bom Pastor, 822, São Paulo

– Preço R$ 50,00

– Classificação 14 anos

– Autoria Sophie Swithinbank e Phoebe Ladenburg

– Elenco Martha Nowill

– Direção Fernanda D’Umbra

A AUTOESTIMA DO HOMEM HÉTERO

– Quando Sáb, às 22h. De 5 de julho a 30 de agosto.

– Onde Teatro UOL – av. Higienópolis, 618, São Paulo

– Preço A partir de R$ 80

– Classificação 14 anos

– Autoria Amanda Mirásci

– Elenco Amanda Mirásci

– Direção Martha Nowill

DIOGO BACHEGA / Folhapress

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