A qualidade do ar é um fator determinante para a saúde e bem-estar das pessoas. Conforme estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), anualmente cerca de 7 milhões de mortes prematuras são causadas por conta da qualidade do ar e do chamado material particulado fino, uma mistura complexa de partículas sólidas e líquidas suspensas no ar que podem penetrar profundamente nos pulmões, causando problemas de saúde. Em Ribeirão Preto, esse material é proveniente, sobretudo, das queimadas.
Em 2024, a situação na cidade e no Estado de São Paulo foi uma das mais preocupantes dos últimos anos. Isso porque o Estado registrou o maior número de focos de queimada desde que o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) iniciou suas medições em 1998. Ribeirão Preto também apresentou recordes negativos. Segundo o Relatório Mundial sobre Qualidade do Ar 2024, Ribeirão foi a sexta cidade mais poluída do Brasil, considerando a média anual de material particulado fino com 19,9 µg/m³ (microgramas por metro cúbico) justamente no ano em que o Estado registrou o maior número de queimadas desde 2012, com 658,6 mil hectares de vegetação e plantações destruídas pelo fogo somente em agosto.
Entre os motivos que levaram ao recorde de queimadas na cidade em 2024, a professora Maria Lúcia Arruda de Moura Campos, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, especialista em Química Ambiental, destaca que houve um período muito longo de seca na cidade. “Foram mais de 100 dias sem chuva. Isso contribui para qualquer mínima chama se espalhar em uma vegetação extremamente seca, de maneira muito rápida e ampla. Outra questão foram as ações criminosas, realizadas de forma flagrante, inclusive com vídeos dos criminosos colocando fogo nas matas sem nenhum objetivo claro.”
Caso não ocorram ações imediatas de combate e prevenção a essas queimadas, a tendência é que continuem ocorrendo incêndios de grande proporção durante os próximos anos, conforme aponta a docente. “Com as perdas de florestas, o número de árvores diminui e, consequentemente, a umidade também, o que vai gerar um ambiente mais seco, onde as árvores vão captar menos quantidade de CO2. Isso vai levar a um aumento de temperatura, com as vegetações mais secas e com maiores riscos de incêndios florestais.”
Combate às queimadas
No combate às queimadas, Maria Lúcia explica que a cidade possui iniciativas para intensificar o patrulhamento de áreas rurais, o treinamento de equipes para combate a incêndios e que existem ações para conscientizar a população, com a orientação de fazerem denúncias quando virem ou descobrirem focos de incêndio causados por criminosos. Entretanto, a tecnologia pode ter papel fundamental na prevenção. “Existem drones que podem intensificar esse patrulhamento, tanto na questão de filmagem, com câmeras fixas que podem ser colocadas em áreas de preservação permanente, como também os drones equipados com câmeras térmicas, capazes de identificar rapidamente o ponto de calor e agilizar o combate ao incêndio antes que ele se alastre.”
Além das áreas de mata, é fundamental que ocorram ações dentro de áreas urbanas. Um procedimento simples é a fiscalização de terrenos com vegetação seca e acúmulo de lixo, que também são focos de incêndio e oferecem risco, principalmente por estarem próximos de residências. Além disso, “a queima de lixo e mato nas cidades pode gerar fagulhas que se espalham com o vento e atingem áreas de preservação, iniciando novos focos de incêndio. Por isso, a Prefeitura pode adotar ações preventivas tanto em regiões urbanas quanto em áreas de preservação permanente, como o corte da vegetação seca e a construção de aceiros, que são faixas de terra sem vegetação que impedem o avanço do fogo”, destaca a especialista.
Sobre a previsão para os próximos meses para Ribeirão Preto, a especialista destaca a influência dos eventos climáticos extremos, constantemente presentes na vida das pessoas e o papel da população para evitar essas queimadas. “Em 2025, o prognóstico é, novamente, de chuvas abaixo da média, o que contribui para essas vegetações mais secas e a presenças de maiores riscos de queimadas. Entretanto, com a adoção das medidas já citadas e com a contribuição das pessoas, evitando fazer qualquer tipo de fogo, seja em lixos, matos de terrenos, beira de rios, além de denunciar qualquer atitude suspeita, a tendência de altos riscos de queimadas e focos de incêndio pode ser evitada, ou, no mínimo, contida.”
A Prefeitura de Ribeirão Preto lançou, no último dia 23 de junho, o Plano de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, que prevê o mapeamento das áreas de risco, ações de zeladorias preventivas como roçadas, limpezas e recolhimento de resíduos, além da capacitação de brigadistas de diferentes Secretarias e a intensificação das fiscalizações ambientais. O plano de contingência completo pode ser acessado neste link.
Já a Prefeitura do Campus da USP de Ribeirão Preto intensificou as medidas de prevenção a incêndios nas áreas verdes do campus, através de monitoramento contínuo por câmeras de segurança, rondas presenciais e fiscalização sistemática em pontos estratégicos. Os aceiros – faixas de terra sem vegetação, que funcionam como barreiras contra a propagação do fogo – são mantidos limpos e desobstruídos na Floresta do campus, uma área de relevante valor ecológico. O trabalho preventivo inclui ainda o uso de drones para ampliar o alcance da fiscalização, sobretudo neste período de maior vulnerabilidade climática.
As equipes da Guarda Universitária, responsáveis pelo patrulhamento ambiental, recebem treinamentos regulares e contam com equipamentos de combate a incêndio atualizados. Esse preparo técnico, aliado ao reforço das medidas preventivas, garante uma resposta mais ágil e eficaz em situações de emergência. Além disso, há uma constante orientação à comunidade universitária sobre cuidados e condutas para evitar o surgimento de focos de incêndio.
**Por Jornal da USP



