Referência no futebol com cinco conquistas de Copa, o Brasil está começando a chamar a atenção mundial também para modalidades menos conhecidas. O País faturou, na Olimpíada de Tóquio, medalhas importantes no skate e no surfe que ajudaram a popularizar estes esportes. Agora, o Brasil tem novo desafio e muito potencial para se tornar destaque também no breakdance, que fará sua estreia nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.
A novidade ainda é tímida, mas com possibilidade de cair nas graças do público. Há um caminho a ser percorrido. Tudo pode se potencializar com a conquista do Mundial de break em Gdansk, na Polônia. Trata-se da principal disputa internacional da modalidade. A competição acontece nesta quinta-feira e vai até sábado, entre os dias 4 e 6. Dois brasileiros se destacam com chances de ficar com o troféu: Isabela Rocha, a B-Girl It’sa, e Alexandre Duarte, o B-Boy Xandin. Quem se classificar no primeiro dia da competição avança para a final, dois dias depois.
O Mundial é simples, acontece no formato de disputa eliminatória. Cada participante demonstrará suas habilidades na dança em um palco sob os olhares de um grupo especial de juízes, todos com diversos títulos na bagagem e nome de peso no esporte. O competidor que se sair melhor, elimina seu rival. Dentre os árbitros estão o holandês Menno, três vezes campeão mundial, os norte-americanos El Nino e Beta Rawkuz e a francesa Sarah Bee.
Os dois brasileiros fizeram história ao vencer a etapa realizada em outubro em São Paulo, classificando-se para a disputa do Mundial. Eles conquistaram a Red Bull BC One, competição realizada em mais de 30 países e que reuniu os principais nomes da modalidade ao redor do planeta. Tal classificação cria a chance de o público geral conhecer os dois representantes do Brasil com boas chances de medalhas olímpicas.
Na modalidade feminina, a bicampeã It’sa carrega um currículo de respeito. Nascida em Belo Horizonte (MG), a atleta pratica o breakdance desde criança. Ela ainda é integrante do elenco de dançarinos do Cirque du Soleil desde 2018. Tem vasta passagem internacional, tendo se apresentado em países como Índia e Emirados Árabes Unidos.
“Minha expectativa para o Mundial é que as pessoas não se enxerguem apenas como competidores, mas como irmãos e irmãs de cultura. Estou preparada para dançar minha história”, disse a mineira. O surfe e o skate, que estrearam nos Jogos de Tóquio, defendem a mesma filosofia.
It’sa foi campeã nacional em 2019, quando tinha apenas 20 anos. Hoje é uma referência da modalidade e um exemplo a ser seguido. Porém, enfrenta dificuldades por ser mulher. Ela aponta que, mesmo em um esporte de menos popularidade, ainda enfrenta dissabores como a falta de reconhecimento.
TABUS – “A primeira dificuldade é se manter no cenário da dança sendo vista como mulher e, portanto, como objeto sexual, frágil, e muitas vezes como alguém de baixo nível técnico”, contou em entrevista ao site da Red Bull. “Se assumir como não-binário no meio também tem sido um desafio. Muitas pessoas ainda não sabem e não procuram saber sobre as diversas identidades de gênero que existem e, por isso, acabam excluindo essas pessoas da comunidade hip-hop e breaking no geral”, completou.
No masculino, o goiano Xandin também mostra que o breakdance está nas suas raízes, já que pratica a modalidade há mais de uma década. “Estou muito ansioso para a final, minhas expectativas são as melhores e acredito que tenho potencial para representar o Brasil e trazer esse título. Quero manter minha energia, dançando tranquilo e curtindo, acho que isso pode fazer toda a diferença. Vou dar o meu melhor”, disse.
Nascido em Anápolis, ele começou a praticar o esporte aos 17 anos, em 2008. Sua origem no breakdance começou por conta de outro esporte que recentemente ganhou bastante popularidade: o skate. Xandin estava perto de sua casa quando viu alguns praticantes dançando. Gostou e não largou mais. “Me apaixonei, tanto que até larguei o skate. E eu era bom, viu? Mas com a dança foi amor a primeira vista”, comentou em entrevista à Red Bull. Ele tem no currículo o título do Red Bull BC One Cypher Brazil, de 2012.
Além deles, outro atleta que representará o Brasil no Mundial da Polônia é a cearense Bart. Ela, ao contrário dos outros compatriotas, já tem vaga garantida na decisão do dia 6. Seus recentes desempenhos e sua importante participação para o fortalecimento do esporte o credenciaram para a final do torneio, sem precisar passar pela etapa preliminar.
BREAK NO BRASIL – Em breve, o Brasil terá o seu primeiro centro de treinamento de breakdance. O vice-governador do Estado de São Paulo, Rodrigo Garcia, já assinou contrato que vai ceder o espaço para a criação de um Centro de Treinamento e Convivência no Capão Redondo, zona sul da capital. O objetivo do projeto ‘Breaking no Capão’ é formar uma equipe de alta performance que vai participar da estreia da modalidade nos Jogos Olímpicos de Paris.
A previsão é de que as obras, localizado a 500 metros da estação Capão Redondo, na Linha 5-Lilás do metrô, fiquem prontas em até seis meses. Futuros representantes olímpicos do Brasil no breakdance poderão aproveitar de um espaço de aproximadamente 3,1 mil m², que servirá para estimular a prática do esporte no País.
A estrutura do centro será composta por contêineres e seguirá conceitos de sustentabilidade. Os atletas do breakdance, chamados de b-boys e b-girls, contarão com uma academia esportiva, espaço multiuso para treinarem e se apresentarem, além de alojamentos e banheiros.
HISTÓRIA DO BREAKDANCE – Sem qualquer histórico na Olimpíada, o breakdance fez sua estreia em grandes eventos esportivos em 2018, ao ser incluído no programa dos Jogos Olímpicos da Juventude, realizada em Buenos Aires. Organizada pela Federação Mundial de Dança Esportiva (World DanceSport Federation), a modalidade consiste em duelos entre dois atletas, que são avaliados por juízes. Para a competição realizada na Argentina, a inscrição para a disputa foi feita através do envio de vídeos dos interessados, pela internet.
Parte da cultura hip-hop, que surgiu em Nova York na década de 70, o breakdance não conta com grande estrutura em sua organização. Há apenas uma grande competição da modalidade, de nível mundial, a BC One (Break Championship), criada pela Red Bull.
Agência Estado