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Moda ‘sportcore’ arranca roupas esportivas do guarda-roupa hétero e dos gramados

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Era moda, na internet, rir de rapazes que usam camisetas de time para passear. Mas o jogo mudou, e hoje é provável que sejam as moças que vistam peças do tipo para curtir a noite. Roupas inspiradas em uniformes esportivos estão nas ruas, nas passarelas e nas vitrines, das luxuosas às mais baratas. A tendência, chamada “sportcore”, reúne ainda bermudas de tactel e tênis que parecem chuteiras.

Foi essa a estética que ditou, por exemplo, os figurinos do último Lollapalooza, festival paulistano onde estar bem-vestido é talvez mais importante do que gostar de música. Nos três dias de evento, mas especialmente naquele mais voltado aos jovens, milhares de pessoas vestiram camisetas de futebol e basquete, largas e compridas.

Nas costas, porém, os nomes de times exibidos eram, em sua maioria, fictícios. É que, de olho na tendência, lojas populares tiveram de contornar o fato de não terem contratos com times reais e desenhar peças que copiam quase minuciosamente os uniformes, mas com símbolos inventados.

A moda não pegou só no Brasil. O “sportcore” virou febre nos Estados Unidos, impulsionado pela cantora Billie Eilish, que costuma fazer shows vestida com camisetas de time. Taylor Swift também turbinou essa tendência desde que começou a frequentar, toda uniformizada, as partidas de futebol americano do namorado, o jogador Travis Kelce, do time Kansas City Chiefs. A Renner lançou uma coleção inspirada nos modelos usados pela cantora.

Artistas brasileiros também aderiram ao estilo. Exemplo é a drag queen Pabllo Vittar, que tirou férias em Tóquio no mês passado e saiu às ruas com uma camiseta e uma bermuda de estilo esportivo —só que de grife, da Balenciaga.

Ela não era a única. A moda se alastrou pelo Japão e pela Coreia do Sul, especialmente entre as mulheres jovens, que combinam os uniformes de time fictícios a coturnos e jaquetas jeans. É uma mistura estranha, a princípio, mas funciona.

Isso tem a ver com a valorização do estranho e do inusitado que vem ditando os últimos movimentos da moda, afirma Marcio Banfi, estilista e coordenador da pós-graduação em “styling” e imagem de moda da Faculdade Santa Marcelina. “Existe um desejo de resgatar coisas supostamente cafonas e torná-las ‘cool’. Nessas novas não regras, nada mais é feio nem bonito”, diz.

A bermuda que Pabllo Vittar usava no Japão pode ser encontrada no site britânico da Balenciaga por € 750, ou R$ 4.800. Mas isso ainda é pouco. A Louis Vuitton, por exemplo, comercializa uma camiseta com hexágonos que formam bolas de futebol, de couro, por R$ 51.500. Há um modelo mais barato, também inspirado no esporte, que sai a R$ 10.300. Uma terceira opção, semelhante aos uniformes de time de futebol americano, custa R$ 6.750.

“As grandes marcas criaram essa tendência, mas a gente precisa fazer a tradução”, diz Juliana Frasca, diretora de estilo da Renner. “Estamos mais interessados em ver como a rua adota essas tendências.”

Na loja, há camisetas inspiradas no futebol por R$ 89,90, outras oficiais da NFL, a liga esportiva profissional de futebol americano dos Estados Unidos, que saem a R$ 119,90, e uma peça lançada com as cantoras de rap Tasha e Tracie.

A YouCom e a Cotton On, por sua vez, viram potencial de lucro em outro tipo de esporte, os motorizados. Mania entre a geração Z, a Fórmula 1 agora inspira várias peças, entre jaquetas volumosas, camisas com estampa de roda e bonés. No TikTok, influenciadores dão dicas de looks do que vem sendo chamado de “racing style”, algo como estilo de pista, que deve ganhar mais tração com a estreia na semana passada de “F1”, filme sobre um motorista de Fórmula 1 interpretado por Brad Pitt.

Outro artista brasileiro que entrou na onda foi Jão, que faz shows para multidões, sobretudo de jovens e adolescentes. No começo do ano, ele lançou uma camiseta listrada de rosa e azul —as cores da bandeira bissexual—, com um brasão do time fictício “Meninos e Meninas”.

A camiseta esgotou em minutos no site da marca, e seus fãs foram por vários dias às lojas à procura dela. Nas imagens da campanha, Jão aparece com uma bola de futebol nas mãos e com tênis que lembram chuteiras.

“Grupos historicamente marginalizados encontram nesses signos, associados ao universo masculino e heterossexual, uma forma de transgredir e de pertencer, com ironia e estimo”, afirma a consultora de moda Monayna Pinheiro. “O que antes era visto como de algo mal gosto ganha um apelo estético e político.”

A Adidas ainda emplacou nos últimos anos o tênis Samba, que também tem um histórico esportivo. Criado nos anos 1940, foi pensado para jogar futebol em superfícies duras ou geladas como a neve. Agora, virou tênis de gente descolada, para se usar em qualquer lugar.

Outra marca que fez algo parecido foi a Puma, que lançou uma coleção esportiva, só que inspirada na saga “Harry Potter”. São tênis parecidos com chuteiras e camisetas dos times de quadribol, o esporte dos bruxos criado por J. K. Rowling para sua série de livros.

A ideia surgiu há cerca de um ano, diz Igor Reis, diretor de marketing do setor de produtos de consumo da Warner Bros. Ele notou que os filhos, de 18 e 20 anos, que jogam futebol por prazer, estavam usando os uniformes para passear, não para praticar o esporte. “Aí percebemos que podíamos capturar essa tendência para o universo geek”, conta.

Em paralelo, a Baw lançou uma coleção de itens esportivos com estampa do desenho “Looney Tunes” e a Kings acaba de anunciar uma com personagens de “Toy Story”. “Não seguimos mais as antigas noções de belo. A gente agora é estiloso. Essa é uma moda possível e, por isso, tão popular”, diz Banfi, o estilista.

GUILHERME LUIS / Folhapress

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