O Real teve uma forte desvalorização nas negociações de contratos futuros após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma tarifa de 50% ao Brasil, nesta quarta-feira (9).
Às 17h57, o contrato futuro de dólar tinha alta de 2,2%, a R$ 5,606 na venda.
Antes, às 17h, no fechamento do mercado à vista, o dólar fechou em alta de 1,05%, a R$ 5,5023, com os investidores atentos aos anúncios de tarifas de importação impostas pelo. Este é o maior valor da divisa americana sobre o Real desde 25 de junho.
O republicano já emitiu nesta uma nova bateria de cartas sobre tarifas para seis países: Argélia, Brunei, Iraque, Líbia, Moldávia e Filipinas.
Demais anúncios são esperados para esta semana. Entre hoje e amanhã, deve estar a tarifa para o Brasil.
“O Brasil, por exemplo, não tem sido bom para nós, nada bom”, disse Trump a repórteres em um evento com líderes da África Ocidental na Casa Branca. “Vamos divulgar um número para o Brasil, creio eu, no final desta tarde ou amanhã de manhã.”
Após a fala do republicano, a alta da meda dos EUA se acentuou, bem como a queda da Bolsa. Ao fim do pregão, o Ibovespa recuava 1,30%, a 137.481 pontos.
Já o volume de negociação do pregão foi reduzido devido a feriado em São Paulo.
“O aumento das tensões comerciais volta aos holofotes e contribui para um movimento de aversão ao risco dos ativos locais, agravada pelo desempenho negativo do Ibovespa e reforçando o movimento defensivo do mercado cambial”, diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
Nos EUA, o viés foi oposto. O S&P 500 subiu 0,61% e o Dow Jones, 0,49%. O Nasdaq teve alta de 0,94%.
Os agentes do mercado avaliam que a abordagem dos EUA, apesar de agressiva e errática, não vai gerar uma guerra comercial total.
Os investidores também repercutem a divulgação da ata da última reunião do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA), que optou por manter os juros entre 4,25% e 4,5%, medida que irritou o presidente norte-americano.
O documento mostra que apenas alguns membros presentes na reunião de 17 e 18 de junho achavam que a taxa de juros poderia cair já neste mês, sendo que a maioria dos membros continua preocupada, até certo ponto, com a pressão inflacionária que eles esperam que venha da aplicação de tarifas pelo governo Trump.
“De modo geral, os participantes concordaram que, com o crescimento econômico e o mercado de trabalho ainda sólidos e a política monetária atual moderada ou modestamente restritiva, o Comitê está bem posicionado para aguardar mais clareza sobre as perspectivas de inflação e atividade econômica”, disse a ata.
Os comentários na ata foram refletidos nas projeções emitidas após a reunião, com a perspectiva mediana apontando para dois cortes de 0,25 ponto percentual até o fim de 2025. Os investidores esperam um primeiro corte na reunião de setembro e um segundo em dezembro.
Nesta sessão, Trump voltou a pedir a redução da taxa americana em pelo menos 3 pontos percentuais, a fim de ajudar a diminuir o custo da dívida do país.
Na terça (8), o dólar fechou com uma queda de 0,61%, cotado a R$ 5,444, com os investidores demonstrando um otimismo cauteloso após Trump estender o prazo para que os países fechem acordos comerciais com Washington até 1º de agosto.
No entanto, a nova ameaça de Trump de cobrar mais tarifas de importação de países que compõem os Brics contribuiu para limitar uma queda mais acentuada da moeda.
“A qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas dos Brics, será cobrada uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a esta política”, ameaçou Trump, em sua plataforma Truth Social.
No domingo (6), em uma declaração conjunta na abertura da cúpula do Brics no Rio de Janeiro, o grupo alertou que o “aumento indiscriminado de tarifas” ameaça o comércio global.
Formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco foi ampliado recentemente para 11 países e representa quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB (Produto Interno Bruto).
No cenário interno, a preocupação recai sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), cujo aumento foi derrubado pelo Congresso e virou pauta do STF (Supremo Tribunal Federal).
“O retorno dessa pauta está na mira do investidor estrangeiro e local justamente por envolver o ajuste das contas públicas”, diz Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Outro ponto de atenção é a audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Segundo o economista, a inflação no Brasil segue acima da meta e persiste disseminada em diversos itens, em um cenário de mercado de trabalho aquecido e que continua surpreendendo.
Galípolo reafirmou que todos os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) estão “bastante incomodados” com a desancoragem das expectativas de mercado para a inflação, enfatizando que o BC persegue o centro da meta de inflação, de 3%.
“Tenho visto que a maior parte das críticas à elevada taxa de juros, de 15%, muitas vezes está associada a uma sugestão, vamos dizer assim, de que não se deveria cumprir a meta”, disse.
Galípolo argumentou que a inflação do país não é pontual, com 72,5% dos itens que compõem o IPCA permanecendo acima da meta, o que é considerado bastante disseminado.
O presidente do BC ressaltou que a economia vem crescendo de maneira robusta, mesmo retirando da conta o agronegócio, que deve apresentar neste ano mais uma safra recorde.
Na apresentação, Galípolo ainda afirmou que dados de inflação corroboram a ideia de que a taxa básica de juros não estava em patamar suficientemente contracionista ao longo de 2024 para se alcançar a meta, o que demandou novas altas de juros.
O ciclo de alta da Selic foi retomado pelo BC em setembro do ano passado, levando a taxa de 10,50% a 15%, maior nível em duas décadas.
As projeções mais recentes do mercado apontam para uma inflação de 5,18% este ano e de 4,50% em 2026, segundo o relatório Focus do BC.
O presidente do BC ainda afirmou que o aumento da taxa Selic elevou o carry do real –rentabilidade de investidor estrangeiro por carregar a moeda–, ressaltando que a moeda brasileira valorizou mais do que seus pares em 2025.
Os juros altos, porém, prejudicam a renda variável.
Redação / Folhapress



