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F1: uma volta sem sobressaltos no circuito do previsível

Fabrício Correia
Fabrício Correia
Fabrício Correia é jornalista, escritor, professor universitário, especialista em Acessibilidade, Diversidade e Inclusão. É crítico de cinema, membro da Academia Brasileira de Cinema e apresenta o programa “Vale Night” na TV Thathi SBT.
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Há algo de fascinante – e quase inevitável – em assistir Brad Pitt vestir o macacão de um piloto veterano na ficção. Em “F1”, o filme dirigido por Joseph Kosinski (de Top Gun: Maverick), a velocidade está toda lá: os motores urram, as câmeras se colam ao asfalto com uma fidelidade quase documental, e as pistas reais da Fórmula 1 são tratadas como catedrais do esporte. O que falta, contudo, é o que nunca se vê nos espelhos retrovisores: profundidade emocional e risco narrativo.

Kosinski sabe construir espetáculo. Ele conduz a câmera com o mesmo senso de impacto visual que tornou “Maverick” um sucesso. Em “F1”, há uma obsessão elegante pela plasticidade do movimento — as tomadas são coreografadas como se o cinema tivesse voltado a brincar com a velocidade como fez nos anos 1960. A participação da própria Fórmula 1, com apoio técnico e logístico sem precedentes, confere autenticidade rara. A adrenalina não é simulada.

Mas é justamente quando desce do carro que o filme perde tração. O roteiro, embora eficiente, aposta em uma estrutura já exaurida: Sonny Hayes (Pitt), o herói cansado, retorna para guiar um jovem talento promissor (Damson Idris) em meio a um paddock de egos, pressões corporativas e fantasmas do passado. É o velho mito do piloto que já viu tudo, mas ainda tem algo a provar. A fórmula (sem trocadilhos) está gasta.

Pitt entrega uma atuação carismática e controlada, como se soubesse que, mesmo em meio à velocidade, o filme é sobre presença. Ele está inteiro no papel — sem afetação, sem heroísmo fácil — mas sem a centelha que o colocaria à frente do pelotão. Damson Idris, por sua vez, pouco pode fazer com um personagem que é mais função do que pessoa. Javier Bardem, relegado a um papel menor como chefe de equipe, flutua na superfície, desperdiçado.

O que mais incomoda é a ausência de conflito real. As tensões são quase administrativas. Não há vilão, não há drama humano genuíno. A rivalidade que se esboça nunca explode. O espectador não é convidado a entrar no cockpit emocional dos personagens. Assiste-se a tudo com interesse, mas com os pés bem firmes no chão. Falta vertigem.

Do ponto de vista técnico, F1 é impecável. As cenas nas pistas são o que o cinema esportivo deveria almejar: sensoriais, envolventes, quase hipnóticas. Mas o filme como um todo se contenta em ser um desfile bem editado de clipes de alta octanagem, sem mergulhar nas questões que poderiam humanizar aqueles corpos lançados a mais de 300km/h.

Talvez o maior erro de F1 seja querer apenas parecer real, sem se permitir ser verdadeiro. Há beleza, há suor, há ruído. Mas falta alma. Aquelas voltas espetaculares ao redor do circuito não nos levam, afinal, a lugar nenhum que já não conhecêssemos de antemão.

Cotação: ★★★☆☆
Um espetáculo visual com freios dramáticos. Pitt segura o volante, mas o roteiro não sai da pista de segurança.

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