Durante muito tempo o som dos motores nos domingos de manhã era quase um ritual nas casas dos brasileiros. Ao som de “Ayrton Senna do Brasil” um país inteiro vibrou, torceu e chorou com as vitórias e as reviravoltas dos campeonatos de Fórmula 1 nas décadas de 80 e 90. No entanto, depois do fatídico 1 de maio de 1994 eram raros os aparelhos de televisão que transmitiam alguma corrida, e a resposta para o súbito desinteresse era e é até hoje “Depois do Senna não vi mais graça”. Mesmo com alguns nomes promissores como Rubens Barrichello e Felipe Massa, o protagonismo real do Brasil nas pistas parecia adormecido, mas agora há um lampejo de mudança.
Uma nova geração de pilotos brasileiros têm chamado a atenção da mídia internacional com sucessivas vitórias nas categorias de base, campeonatos como os da Fórmula 2 e Fórmula 3 apresentam campeões brasileiros consecutivos desde 2022 e este ano, depois de 8 anos de hiatus, temos um representante do Brasil na Fórmula 1: Gabriel Bortoleto, que corre pela Sauber e no último Grande Prêmio na Hungria conquistou seu melhor resultado, sendo eleito o Piloto do Dia pelo público. Com um impressionante gerenciamento de pneus, Gabriel terminou o GP em sexto lugar, tirando a Sauber da vice-lanterna do campeonato e superando nomes como Yuki Tsunoda, piloto da Red Bull, e Oliver Bearman, piloto da Haas. Bortoleto é visto como “Nota 10” pela imprensa especialista e Fernando Alonso, bicampeão mundial, não economizou elogios e o coloca como “melhor novato” da temporada.
Neste mesmo final de semana Rafael Câmara, piloto Pernambucano, conquistou, com antecedência, o campeonato na Fórmula 3 em seu ano de estreia e já é cotado para assumir um assento na Fórmula 2 em 2026. Titular da Trident, Rafa estreou com velocidade na categoria, mesmo com abandono na primeira corrida Sprint da Austrália, venceu a corrida principal e a seguinte no Bahrein alcançando a liderança do campeonato e chegando até mesmo a bater o recorde de 4 pole positions consecutivas. Apesar da temporada acirrada contra o vice-líder Nikola Tsolov, na penúltima corrida na Hungria, Rafa se consagrou campeão levando o Título antecipadamente.
A vitória de Rafa Câmara dá continuidade à sequência de 4 anos com brasileiros vencendo nas categorias de base, acendendo uma luz sobre nossos pilotos e trazendo a promessa de orgulho nacional no automobilismo. Com a expectativa de Felipe Drugovich pilotar na Fórmula 1 pela Cadillac em 2026, os autódromos ao redor do mundo voltam a estampar as cores verde e amarela da nossa bandeira vemos a chance de ter 3 representantes do Brasil na Fórmula 1 muito em breve,
Há, em todas estas conquistas, um ingrediente simbólico. Em um país em que os holofotes estão majoritariamente no futebol, ver o automobilismo ressurgir como fonte de esperança é refrescante. Quando o torcedor volta a ligar a TV nos finais de semana para ver um carro na pista e não apenas uma bola em campo, sentimos o amor pelo nosso país ser reconstruído na cultura esportiva brasileira.
Talvez estejamos presenciando o nascimento de uma nova era em que o brasileiro volte a se ver na pista, não apenas com saudade do passado mas com esperança e orgulho dos nossos jovens atletas. Será que em breve comemoraremos mais um título mundial, depois de tantos anos de jejum? Torcemos com esperança.



