Sobre o Tarifaço: é preciso que tenhamos brio!

Coluna Economia no Divã com Fabiano Corrêa

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Foto: Rede social

Há uma série de confusões no tarifaço imposto por Donald Trump, sobre as quais não pretendo me aprofundar neste texto. Existem problemas em várias perspectivas, desde sua arrogância, passando por inconsistências nas reais taxas alfandegárias brasileiras, até a incompreensão sobre o PIX como meio de pagamento e as intromissões políticas e ideológicas impostas. Porém, o ponto que gostaria de discutir aqui é o que diz respeito ao nosso brio. Qual é o sentido de continuarmos a aceitar essa condição de um povo que, ao longo dos séculos, tem atuado no comércio internacional trocando tecnologias por bananas?

De largada, é importante pontuar que não há nada de errado em sermos protagonistas no comércio internacional de alimentos. Muito pelo contrário. Este é um posto cobiçado pela maioria dos países, inclusive pelos EUA, que desejam tomar parte desse espaço conquistado pelo Brasil, a fim de defender os interesses de seus agricultores. O agro brasileiro se modernizou exponencialmente e trouxe consigo o desenvolvimento de uma indústria importante de implementos agrícolas, gerando empregos de qualidade, alavancando o desenvolvimento tecnológico e potencializando os resultados da nossa balança comercial. Foi uma excelente estratégia, porém, solitária.

A exploração de minérios também é um importante setor da nossa economia. Figuramos entre os maiores exportadores mundiais de minério de ferro, cobre, ouro, níquel, bauxita, manganês e carvão mineral. Tudo isso à custa de impactos ambientais significativos, dado o nível de agressividade predatória de muitas dessas companhias. Calamidades como as de Mariana, provocadas pela irresponsabilidade da Samarco, e de Brumadinho, pela Vale do Rio Doce, são exemplos das cicatrizes deixadas por este setor. E tanta depredação, a troco de quê?

A conta é simples: toneladas de minério extraídas de nossa terra, a troco de caixas de iPhones e outras bugigangas tecnológicas que não produzimos. E por que não produzimos? Porque falta estratégia, e há um espírito de subserviência e incompreensão sobre as riquezas naturais que temos. Assim se comportavam os índios, que trocavam o Pau Brasil por cachaça e espelhos. Assim continuamos, séculos depois.

Precisamos de um plano nacional de desenvolvimento simples. Não precisa ser complicado. Aliás, não deve ser. Não deve conter subsídios, privilégios, nem a nomeação de empresas como “campeãs nacionais”, pois essas são escolhidas a dedo entre os amigos do rei. Precisa ser simples no sentido de organizar informações e construir estratégias. Há oportunidades óbvias que já deveríamos ter aproveitado no Brasil. Exportamos níquel para a China para depois importarmos placas solares chinesas. Assim como em tantos outros exemplos, não seria possível produzir aqui?

Enfim, mais do que espernear pelo fato de o Tio Sam não querer mais comprar uma série de produtos brasileiros, é preciso ter brio. Não aquele brio que se manifesta para o eleitorado na televisão, mas aquele que se traduz em ações concretas, que incentivem nossas crianças a enxergarem a tecnologia como uma oportunidade e não como uma ameaça ao emprego. Um brio que torne o ambiente de negócios menos burocrático, a carga tributária menos corrosiva e o ambiente político mais estável. E isso é trabalho de todos. Não deve ficar centralizado, pois não somos uma autarquia chinesa. Mas um pouco de coordenação política e senso de objetivo faria bem ao país.

Fabiano Simões Corrêa

Economista e especialista em Finanças Comportamentais.

Doutorando em Finanças e Contabilidade Financeira pela FEA USP.