Em Assunção, só deu Brasil. Nos Jogos Pan-Americanos Juniores, o Time Brasil fez história ao terminar a competição no topo do quadro de medalhas. Em sua segunda edição, realizada no Paraguai entre os dias 9 e 23 de agosto, o evento reuniu delegações de 41 países das três Américas. E com 363 atletas, o Brasil superou as expectativas, bateu o próprio recorde e garantiu 48 vagas para os Jogos Pan-Americanos de 2027, em Lima, no Peru.
No total foram 175 medalhas – 70 medalhas de ouro, 50 de prata e 55 de bronze. Com essa marca os atletas brasileiros superaram até mesmo o grandioso Estados Unidos que, com 142 medalhas, ficou com a segunda posição. A natação confirmou sua força, respondendo por 23 conquistas, mas momentos de brilho surgiram também em outras modalidades. No levantamento de peso, por exemplo, o atleta Matheus Pessanha não apenas subiu ao lugar mais alto do pódio, como também quebrou o recorde da categoria ao erguer impressionantes 212 kg.
Esse êxito, contudo, evidencia uma contradição que insiste em atravessar a trajetória esportiva brasileira. Somos uma nação que acumula vitórias internacionais, mas que ainda falha em oferecer condições estruturais consistentes para a formação de atletas. Um levantamento feito pela Serasa em parceria com o Instituto de pesquisa Opinion Box mostrou que 74% dos atletas que representaram o país nos jogos olímpicos não tiveram incentivo financeiro na infância e apenas 20% conseguem se dedicar exclusivamente ao esporte. A realidade de nomes consagrados ilustra esse cenário: o campeão olímpico Thiago Braz, no salto com vara, já enfrentou sérias dificuldades para financiar seu treinamento, enquanto o decatleta Felipe Vinícius dos Santos precisou trabalhar como motorista de aplicativo para custear sua preparação rumo a Paris 2024.
Ainda assim, nossos atletas seguem desafiando limites. Mesmo diante da escassez de recursos para infraestrutura, materiais e acompanhamento técnico, eles carregam a bandeira nacional com dignidade e resiliência. Os resultados, repetidamente surpreendentes, reafirmam que o talento brasileiro é imenso, mas não pode depender apenas da perseverança individual. É urgente que o incentivo ao esporte seja tratado como política de Estado, e não como exceção. Esporte é profissão, é vida, é esperança, a luta e os desafios são diários e o apoio deve ser contínuo e estruturado.
Há, contudo, sinais de renovação. O desempenho excepcional em Assunção reflete, em parte, a ampliação de políticas públicas de fomento, como o Bolsa Atleta, que atualmente contempla 284 dos 363 jovens brasileiros presentes nos Jogos, e a visibilidade proporcionada pela mídia digital. Com a cobertura integral pela CazéTV, muitos atletas conquistaram visibilidade inédita, ampliaram seu alcance nas redes sociais e atraíram a atenção de patrocinadores, um passo decisivo para a sustentabilidade de suas carreiras.
O investimento no esporte é um projeto de longo prazo. Em meio ao ciclo olímpico, 42 jovens atletas já se preparam para os Jogos Pan-Americanos de 2027, levando consigo não apenas o sonho de medalhas, mas a chama de um Brasil que pode, e deve, ser potência esportiva. O país não se resume mais ao título de “nação do futebol”. Hoje, o Brasil também é o país da ginástica, da natação, do vôlei, do judô, do atletismo e de tantas outras modalidades que, em conjunto, moldam uma identidade esportiva plural e fortalecem o sentimento de pertencimento nacional.
Os números expressivos conquistados em Assunção não são apenas uma estatística esportiva. Representam, sobretudo, a reafirmação de que o Brasil pode e deve ocupar seu lugar entre as grandes potências do esporte mundial, desde que saiba transformar o talento e a paixão de seus atletas em políticas duradouras de incentivo, respeito e valorização.



