Deflação rara: alívio passageiro ou sinal de fraqueza da economia?

Coluna Economia no Divã com Fabiano Corrêa

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Deflação é algo raro no Brasil, mas às vezes acontece. Foi o caso do IPCA-15 de agosto. O índice registrou -0,14%, puxado principalmente pela queda nos preços dos alimentos (-0,53%) e da habitação (-1,13%). Mas e daí, já temos algo a comemorar?

O alívio é bem-vindo, mas precisa ser colocado em sua correta perspectiva. A pressão inflacionária sobre os alimentos foi intensa nos últimos anos. Em 12 meses, abastecer a geladeira ficou 7,44% mais caro, índice superior à inflação geral, cravada em 5,23%.

O Brasil convive com uma inflação historicamente resiliente. É claro que esse “dragão” já foi muito mais perigoso. Quem viveu o período da hiperinflação sabe bem disso. As gerações mais jovens não passaram por essa experiência, o que é uma sorte, mas também um alerta: é preciso lembrá-las dos riscos trazidos por políticas populistas, que prometem tudo e, ao final, entregam apenas inflação.

Algumas análises apressadas atribuíram a queda do índice ao efeito do “Tarifaço do Trump”, como se houvesse algo positivo a se comemorar nessa aberração. Não é o caso ainda. Esse fator deve adicionar força a medida que aumente o escoamento de alimentos para o mercado interno, mas ainda é cedo. A explicação mais consistente está, por ora, nos efeitos da atual política de juros altos. Em outras palavras: o consumo está desacelerando. Ou, se preferir, o dinheiro está circulando menos nas mãos do povo.

Um exemplo é a carne. O preço pago ao produtor pela arroba do boi gordo segue estável no campo, em torno de R$ 115,00 (dados do CEPEA). No entanto, nos supermercados e açougues, o IPCA registrou queda de -2,24% desde janeiro. Trata-se de uma redução leve, dentro de um contexto em que a carne acumulou alta de 27% em 12 meses. Provavelmente o que temos neste exemplo é o fato do varejo estar diminuindo suas margens, a fim de manter o consumidor dentro de seus estabelecimentos.

A economia funciona assim: tanto as boas quanto as más notícias precisam ser analisadas com equilíbrio, sem excesso de entusiasmo ou pessimismo. Tanto o Ministro da Fazenda quanto o Presidente do Banco Central devem ter a responsabilidade de um piloto de avião. Os índices funcionam como instrumentos de voo: ora voando mais baixo, ora mais alto, mas sempre com objetivo de manter a estabilidade, dada pelo controle do “dragão da inflação” e o crescimento perene e constante do país.

O mais importante de tudo é que, embora ainda estejamos em um contexto em que a inflação elevou significativamente o custo de vida dos brasileiros, já se percebe uma tendência clara de desinflação. Esse movimento abre espaço para a tão aguardada redução da taxa de juros no próximo ano. Afinal, ninguém mais suporta a condição incômoda de o Brasil figurar entre os países que mais sangram no pagamento de juros do planeta.

Fabiano Corrêa

Economista e Especialista em Finanças Comportamentais (@economianodivaoficial)