Hoje, 15 de setembro de 2025, a totalmente premiada atriz Fernanda Torres completa seis décadas de vida! Nada mais significativo para celebrá-la por aqui, do que revisitarmos a magnífica trilha sonora super brasileira de “Ainda Estou Aqui”, aclamado filme nacional, que tem nossa aniversariante como a grande protagonista!
Ainda Estou Aqui: história, contexto e impacto global

Obra prima que marcou o cinema nacional – e mundial! – para sempre, “Ainda Estou Aqui” é um drama biográfico dirigido por Walter Salles, adaptado do livro autobiográfico do escritor Marcelo Rubens Paiva (2015), que acompanha a trajetória da sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar no Brasil.
Ambientado no Rio de Janeiro do início de1 1970, o filme mostra a família Paiva – Eunice, o deputado Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello) e os cinco filhos – vivendo uma vida aparentemente comum, interrompida quando Rubens é levado pelos militares e desaparece sem deixar rastro. Eunice, interpretada magistralmente por Fernanda Torres, é forçada a abandonar sua rotina para buscar justiça e lutar por memória e verdade . Anos depois, ela torna-se advogada e ativista política.
A produção estreou no Festival de Veneza em setembro de 2024, onde recebeu aclamação unânime e ganhou o prêmio de Melhor Roteiro. Lançado nos cinemas brasileiros em 7 de novembro de 2024, imediatamente tornou-se um sucesso, assumindo e mantendo-se na liderança da bilheteria nacional, com arrecadação de mais de 200 milhões de reais e mais de 5,8 milhões de espectadores,
No Oscar 2025, tornou-se o primeiro filme brasileiro a vencer a estatueta de Melhor Filme Internacional, além de conquistar indicações a Melhor Filme e Melhor Atriz, tornando-se um marco para o cinema nacional no mundo .
Além do Oscar, o filme recebeu o Globo de Ouro de Melhor Roteiro, prêmios no Festival de Vancouver, Satellite, Platino e o Critics’ Choice, além de resgatar internacionalmente o debate sobre memória e justiça no contexto histórico brasileiro .
Sobre Fernanda Torres

Fernanda Torres nasceu no Rio de Janeiro, em 15 de setembro de 1965, filha dos ícones do teatro brasileiro Fernanda Montenegro e Fernando Torres. Começou sua carreira aos 13 anos, no teatro do histórico Tablado, e estreou nas telas no filme “Inocência“, de Walter Lima Júnior, de 1983.
Em 1985, esteve no filme “A Marvada Carne”, de André Klotzel, que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado.
No ano seguinte, com apenas 19 anos, foi a primeira atriz brasileira a vencer o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes – um dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo, realizado anualmente na França – pelo longa “Eu Sei que Vou Te Amar”, de Arnaldo Jabor.
Ainda no cinema, participou de outros filmes importantes como “Terra Estrangeira” (1996), de Walter Salles e Daniela Thomas; “O que é isso, Companheiro?” (1997), de Bruno Barreto – que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro – e “Casa de Areia” (2005), dirigido por seu marido Andrucha Waddington, e primeiro trabalho ao lado de sua mãe, Fernanda Montenegro.
Ao longo das décadas, Fernanda Torres firmou-se também no teatro e na televisão: participou de novelas como “Selva de Pedra” e “Baila Comigo”, e de séries de muito sucesso como “Os Normais” e “Tapas & Beijos” (todas na TV Globo), em papéis que mostraram sua versatilidade entre o drama e a comédia .
Na literatura, estreou como escritora aos 40 anos: seus romances “Fim” (2014, indicado ao Prêmio Jabuti) e “A Glória e Seu Cortejo de Horrores” (2017) venderam centenas de milhares de cópias e foram traduzidos internacionalmente. “Fim” ainda virou minissérie na Globoplay, adaptada por ela própria.
Sua atuação como Eunice Paiva em “Ainda Estou Aqui” coroou sua carreira: primeiro Globo de Ouro para atriz brasileira e lusófona em filme de drama – além dos prêmios Satellite e Platino – e indicação ao Oscar de Melhor Atriz, tornando-se a segunda atriz brasileira a ser indicada, ao lado da mãe (Fernanda Montenegro foi a primeira mulher latino-americana, lusófona e brasileira indicada a Melhor Atriz, em 1998, pelo filme “Central do Brasil”).
Trilha Sonora de “Ainda Estou Aqui”

A trilha sonora é parte vital da narrativa de “Ainda Estou Aqui” – ela entra praticamente como uma personagem da trama – ambientando o cenário político e social da época com precisão e trazendo ainda mais emoção para cada uma das cenas: contextualizando dor, ausência, luta, alegria, celebração…
O filme se passa principalmente entre 1970 e 1971 e – esse foi um período particularmente rico em produção musical brasileira, principalmente por conta do que vivíamos em meio à censura da ditadura militar.
Muitas vezes a música está ali presente mesmo, sendo ouvida e consumida pelos personagens do filme. Outras, ela é escutada apenas por nós, telespectadores, para trazer à tona a intenção da cena. Os discos de Caetano Veloso que a família ouvia foram até motivo de repulsa por parte dos homens que invadem a casa de Eunice Paiva para sequestrar, torturar e depois matar Rubens Paiva.
Enfim, a música é elemento fundamental de todo o longa! A seguir, vamos relembrar algumas das principais músicas brasileiras que entram na trilha de “Ainda Estou Aqui”.
1 – Jimmy, Renda-Se
Composição de Tom Zé – ícone Tropicalista – em parceria com Valdez, a canção ”Jimmy, Renda-se” entra logo no início do filme, para apresentar a filha mais velha de Eunice e Rubens Paiva, a idealista Veroca (vivida por Valentina Herszage) e sua turma, símbolos da juventude da época.
Eles estão dentro de um carro escutando e cantando a canção – que foi lançada pelo baiano em seu álbum “Tom Zé”, de 1970 – enquanto Veroca faz imagens com uma câmera filmadora, antes de serem parados por uma blitz militar.
2 – É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo
Lançada em 1971, por Erasmo Carlos, no seu álbum “Carlos, Erasmo”, a canção é uma composição do Tremendão com seu parceiro constante, Roberto Carlos.
Clássico da época, a canção ressurge com força total como tema de “Ainda Estou Aqui”, tomando uma proporção imensa e chegando com força aos ouvidos das novas gerações.
Foi justamente Fernanda Torres, protagonista do longa – que tinha pouco mais de 5 anos de idade quando “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” foi lançada, mas que viveu a adolescência ainda nos tempos da ditadura militar – quem sugeriu a música ao diretor Walter Salles.
Roberto Carlos contou em entrevistas que ficou muito feliz com a indicação da música para o filme, e que a canção surgiu em uma noite em que ele e Erasmo estavam compondo, e começaram a conversar sobre as questões políticas que o Brasil estava vivendo.
“Eu disse: ‘É preciso dar um jeito’. Ele repetiu a frase: ‘É preciso dar um jeito, meu amigo’. Então eu disse: ‘Isso pode ser o tema de uma música nossa’. E assim nasceu a canção.”, conta o Rei.
No filme, a música entra em dois momentos: quando a família de Rubens Paiva ainda está toda reunida e feliz, no terreno da nova casa que estavam projetando para morar, e – depois – nos créditos finais, junto com fotos reais da família Paiva.
3 – Take Me Back to Piauí
Lançada pelo compositor e humorista carioca Juca Chaves em um compacto de 1970, a canção “Take Me Back to Piauí” também é colocada por um dos personagens para tocar durante uma das cenas do longa.
Dessa vez é o próprio Rubens Paiva que troca a música internacional que Veroca colocou pra tocar na vitrola durante sua festa de despedida para Londres, por “Take Me Back to Piauí”. E quando a filha reclama, ele fala: “Você vai enjoar de ouvir música gringa!”, e chama a filha para dançar junto com os outros convidados.
4 – Baby
Em “Ainda Estou Aqui“, a icônica canção “Baby” – composição de Caetano Veloso que tornou-se um sucesso na voz de Gal Costa quando entrou para o disco “Tropicália ou Panis Et Circensis”, álbum manifesto do Movimento Tropicalista, em 1968 – ganha vida na versão dos também tropicalistas Os Mutantes.
A banda gravou uma versão de Baby no mesmo ano, 1968, e – no filme – a música toca na hora em que a família Paiva está assistindo as imagens filmadas por Veroca em Londres, enquanto lêem uma carta enviada pela jovem, contando sobre seus dias na Inglaterra.
Rubens e Eunice mandam a filha junto com uma família de amigos, por medo que ela seja perseguida pela ditadura. Veroca está na cidade durante o mesmo período em que Caetano Veloso e Gilberto Gil foram obrigados a exilaram-se por lá, após serem perseguidos e presos pelos militares.
5 – Agoniza Mas Não Morre
Aqui, já começam os momentos de tristeza, violência, revolta e agonia do filme.
A genialidade de incluir “Agoniza Mas Não Morre”, samba de Nelson Sargento, sendo cantarolada por um preso político que está na cela ao lado da que ficou Eunice Paiva, é de uma sensibilidade ímpar.
Não vemos o dono da voz, apenas a escutamos, junto com Eunice. Ele e ela estão entre as milhares de pessoas que foram presas e torturadas durante a ditadura militar brasileira. Eunice Paiva e sua filha, Eliana, foram levadas para depor pouco depois de Rubens Paiva ser sequestrado pelos militares.
Eliana voltou para casa no dia seguinte e Eunice ficou dias presa nos porões do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) do Rio de Janeiro, sendo submetida a interrogatório e maus tratos. Rubens Paiva nunca mais voltou. Ele foi torturado e assassinado.
6 – Como Dois e Dois
“Como Dois e Dois” foi composta por Caetano Veloso e lançada por Gal Costa no antológico álbum “Fa-tal: Gal a Todo o Vapor”, gravado a partir do show “Fatal” e lançado em 1971, quando a cantora tornou-se símbolo de resistência política e seguiu levantando a bandeira do Tropicalismo, após a prisão e exílio de seus parceiros e amigos Caetano e Gil.
No filme, a música toca – na voz de Roberto Carlos, que a gravou também em 1971 – no rádio do carro da família, após Eunice já saber da morte do marido nos porões da ditadura, e ter ido buscar Veroca – de volta de Londres – no aeroporto com os outros filhos.
7 – Fora da Ordem
Eunice Paiva e os filhos mudam-se do Rio de Janeiro para São Paulo e passam-se 25 anos anos. O ano é 1996 e Caetano Veloso mais uma vez entra na trilha, como primeira canção após esta transição.
“Fora da Ordem”, lançada em seu álbum “Circuladô” (1991), toca nos fones de ouvido da filha mais nova de Eunice e Rubens – Maria Beatriz, a “Babiu”, agora com pouco mais de 30 anos – voltando da natação para casa, onde é a última a ainda morar com a mãe.
Ela está se preparando para mudar de casa e Eunice – que já trabalha como advogada, como mostra uma foto de sua turma, em 1977, pendurada na parede – está escrevendo um artigo sobre grileiros, em seu trabalho como ativista da causa indígena.
É neste mesmo ano de 1996, que nossa protagonista finalmente consegue receber o atestado de óbito do marido, em 1996. Eunice Paiva, com o atestado em mãos, dá uma entrevista sobre a importância de se reconhecer e punir os crimes praticados pelo governo na ditadura.
Os crimes só foram reconhecidos pela Comissão Nacional da Verdade em 2014, ano em que o filme termina, quando Eunice – já com Alzheimer e interpretada por Fernanda Montenegro – assiste à notícia na TV.
Outras músicas brasileiras que fazem parte da trilha de “Ainda Estou Aqui”, são:



