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Quem foi Cassiano, ícone da Soul Music Brasileira

“Primavera”, “Coleção”, “Eu Amo Você” e “A Lua e Eu”. O que essas canções têm em comum, além de serem grandes hits da música popular brasileira? Elas foram todas compostas por Cassiano, paraibano que é um dos maiores nomes da soul music no país. 

Você sabia disso? 

Gênio incompreendido da nossa história. Cassiano foi um artista que não obteve o reconhecimento merecido por sua contribuição para a música popular brasileira, apesar de tê-la transformado para sempre. 

O artista foi – ao lado de Tim Maia e Hyldon – precursor no estabelecimento de uma cena de black music na música popular brasileira, influenciada pelo funk e o soul estadunidenses. Cassiano, Tim e Hyldon influenciaram uma geração de músicos como Sandra Sá, Ed Motta, Claudio Zoli e tantos outros que vieram depois.

Pois hoje, vamos te contar tudo sobre o cantor, compositor e instrumentista, que completaria 82 anos neste 16 de setembro de 2025.

Tudo sobre Cassiano no dia do seu aniversário

Tim Maia, Cassiano e Hyldon, em 1992 | Imagem: Reprodução

Genival Cassiano dos Santos nasceu em Campina Grande, na Paraíba, em 1943, mas viveu pouco tempo no estado, mudando com a família para o Rio de Janeiro no fim da década de 1940. Uma das poucas lembranças que tinha do tempo na Paraíba era a amizade de seu pai com Jackson do Pandeiro.

No Rio, Cassiano passou a trabalhar como assistente de pedreiro e foi nessa época que aprendeu com o pai os primeiros acordes de bandolim e violão.

Iniciou a carreira musical em 1964, como violonista do “Bossa Trio”, grupo que surgiu da proliferação dos conjuntos de samba jazz vinculados à Bossa Nova, mas com uma marcada influência do jazz e do, até então, incipiente soul dos Estados Unidos.

Apesar da curta duração, o “Bossa Trio” gravou dois LPs e uma série de compactos. Após essa experiência, Cassiano, o irmão Camarão e o amigo Amaro fundaram o grupo “Os Diagonais”, notadamente influenciado pela soul music estadunidense.

Embora tenha participado apenas do primeiro dos dois álbuns da banda, “Os Diagonais”, lançado em 1969, o trabalho musical de Cassiano no grupo chamou a atenção de outros artistas da cena brasileira. Entre eles, Tim Maia, que, depois de um período nos Estados Unidos, descobriu no compositor paraibano um outro entusiasta da obra de artistas como Marvin Gaye, Otis Redding, James Brown e Stevie Wonder.

Foi então que Tim Maia convidou o músico a participar do seu álbum de estreia, tanto como guitarrista quanto como compositor: Cassiano assinou quatro das doze faixas do LP “Tim Maia”, de 1970: 

  • Você Fingiu
  • Padre Cícero (híbrido de funk e baião, em parceria com Tim Maia)
  • Eu Amo Você (balada soul em parceria com Sílvio Rochael
  • Primavera (Vai Chuva) (outra balada soul em parceria com Sílvio Rochael

Todas essas canções – principalmente as duas últimas, inéditas até então – tornaram-se grandes hits nas rádios brasileiras e são um sucesso até os dias atuais.

A boa repercussão comercial do disco de estreia de Tim Maia possibilitou a oportunidade de Cassiano gravar o seu primeiro álbum solo, “Imagem e Som”, lançado em 1971. 

Estão neste disco a versão do autor para “Primavera (Vai Chuva)”: 

Além de duas outras parcerias dele com Tim Maia: “Tenho Dito” e “Ela Mandou Esperar”:

Embora tenha ganhado reconhecimento tardio – como uma sofisticada mistura de bossa, samba, soul e funk-  o álbum não teve uma grande repercussão na época do lançamento. 

Em 1973, Cassiano lançou o seu segundo disco, “Apresentamos Nosso Cassiano”, no qual interpretou dez composições de sua autoria, entre elas “Cedo ou Tarde” (em parceria com Suzana), “Me Chame Atenção” (composta com Renato Britto) e “Castiçal”

Embora algumas canções tivessem recebido um toque ainda mais pop em relação ao primeiro álbum, o disco tinha características experimentais que ecoavam rock progressivo em algumas faixas, trabalho que não recebeu grande aceitação comercial e nas rádios brasileiras.

O sucesso que era pra vir, não veio.

Foi então que, em 1975, Cassiano finalmente obteve êxito comercial no Brasil, com dois singles que tornaram-se grandes hits da nossa música, regravados mais tarde por outros grandes nomes da MPB: “A Lua e Eu” e “Coleção” (ambas compostas em parceria com Paulo Zdanowski). 

O sucesso dessas duas canções foi ainda mais impulsionado com a inclusão de ambas nas trilhas sonoras das telenovelas “O Grito” (1975, “A Lua e Eu”) e “Locomotivas” (1977, “Coleção”), ambas da Rede Globo

“Coleção” foi, mais tarde, regravada por nomes como Ivete Sangalo, Emílio Santiago, Mart’nália e Maurício Manieri; e “A Lua e Eu” teve regravações de Cláudio Zoli, Leo Jaime, Emílio Santiago e Nana Caymmi

Com essas duas músicas no repertório, o álbum “Cuban Soul: 18 Kilates”, lançado por Cassiano em 1976, se tornou o disco referência de seu trabalho de imenso sucesso comercial. 

Misturando R&B e soul music à música brasileira, com harmonias ricas e timbre vocal inconfundível, ele apresentou esse que é um dos mais importantes discos da música nacional. Mas mesmo assim, sua relação com as gravadoras não acontecia de forma favorável para a sua carreira.

Isso porque a lógica muitas vezes perversa da indústria da música historicamente cala vozes que se rebelam contra os padrões mercadológicos e não têm vocação para seguir os códigos sociais que regulam o mercado fonográfico, mesmo com sua refinada musicalidade.

Cassiano sempre enfrentou problemas com executivos de gravadoras porque a indústria fonográfica do Brasil sempre pressionou cantores e compositores de funk e soul para embranquecer uma música que é negra pela própria natureza. E o artista jamais aceitou o jogo dessa indústria. 

Mais uma vez, o racismo ditando as regras de uma sociedade  estruturalmente mergulhada no preconceito até os dias atuais. Além disso, como escreveu o pesquisador cultural Jairo Malta para uma matéria da Folha de São Paulo:

“Negro ser romântico era novidade naqueles anos 1970. Roberto Carlos, Ronnie Von e Jerry Adriani eram românticos mais atraentes para a cena musical da época do que Cassiano, Tim Maia e Hyldon. Quando os negros falavam de amor, eles iam além do romance. Vai ver por isso que uma das edições do jornal do Movimento Negro Unificado, o MNU, criado em 1970, trazia a frase ‘beije sua preta em praça pública’. O negro romântico existia, e Cassiano era um deles.

Na periferia, sua voz sempre estará em nosso inconsciente, seja na abertura de um show dos Racionais MCs com a música Onda ou em uma roda de samba do Pagode da 27. Sofrer por amor e manter a cara de mau é uma das coisas que aprendemos com Cassiano.”.

Cassiano em 1998 | Foto: Divulgação/André Arruda

Em 1978, a gravadora CBS desistiu de lançar um quarto álbum de Cassiano, por considerá-lo um produto sem retorno financeiro garantido. O descaso do Brasil com a obra que construiu com sofisticação singular desde a década de 1960 levou Cassiano a sentir uma grande mágoa e revolta.

Últimos anos 

Nessa mesma época, os problemas de saúde começaram a atrapalhar a carreira do artista: forçado a retirar parte do pulmão por conta de um grave problema respiratório, Cassiano só pôde retomar a carreira, em ritmo bem mais comedido, em 1984.

Um novo trabalho, que também seria seu último LP de estúdio em vida, foi lançado em 1991. O disco foi chamado de “Cedo ou Tarde” e contava com as participações de Sandra de Sá, Ed Motta e Claudio Zoli — três artistas nitidamente influenciados por ele — além de Djavan, Luiz Melodia e Marisa Monte.

Além de sucessos antigos regravados, constam também uma ou outra composição inédita, como “Rio Best-seller”

Entretanto, sem o controle da direção musical do disco, Cassiano ficou extremamente insatisfeito com o resultado final, e – a partir de então – resolveu nunca mais gravar um álbum, tendo permanecido recluso ao longo de suas últimas três décadas de vida, em um apartamento na zona sul do Rio de Janeiro.

O artista gigante que Cassiano foi nunca parou de fazer música, mas quis esconder essa música do Brasil, que o rejeitou em um amargo e injusto ostracismo nesses 30 anos. Isso só foi momentaneamente pausado pela mídia em 2000, ano em que Ed Motta apresentou a compilação “Coleção”, com 14 preciosidades tiradas dos três álbuns lançados por Cassiano entre 1971 e 1976. Ivete Sangalo gravou a canção “Coleção” com imenso sucesso dois anos depois.

Em 2021, os problemas pulmonares de Cassiano agravaram-se. Depois de algumas semanas internado e com o coração sobrecarregado pelo tratamento da doença pulmonar, o compositor acabou sofrendo de uma arritmia cardíaca, e faleceu aos 77 anos, silenciando de vez uma voz já silenciada há tantos anos. 

Mas para nós, Cassiano e sua contribuição para a música popular brasileira são eternas.

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